Limit: prova de resistência

De repente, podemos ter nossa vida transformada por um evento trágico que nos force a sair de nossa posição confortável, fazendo-nos enfrentar situações inesperadas. E, nestas situações, podemos descobrir que as pessoas com quem convivemos são bem mais sombrias e complexas do que pensamos. Aliás, em momentos extremos, vemo-nos obrigados a enfrentar aspectos de nossa personalidade que insistíamos em ignorar.

Este é o tema central de Limit, mangá shoujo escrito em 2010 por Keiko Suenobu (autora de Vitamin). Conhecida por abordar temas como o bullying no ambiente escolar, Keiko não foge à sua temática habitual neste mangá escrito em seis volumes.

A protagonista é Mizuki Konno, colegial que leva uma vida sem muitas preocupações. Para ela, nada deve quebrar seu mundo perfeito. Assim, Mizuki não se envolve com os problemas de ninguém e faz de tudo para evitar conflitos, sem se importar com certo ou errado. Logo, vemos que estamos diante de uma pessoa egoísta e fútil que busca viver de forma a não enfrentar contratempos.

Na escola, suas amigas são Sakura e Haru, as quais adoram fazer bullying contra quem não se encaixa nos padrões considerados socialmente aceitáveis. Mizuki presencia isso tudo e age de forma conivente, pois não quer que seu mundo perfeito se acabe. Ela observa como as coisas funcionam na escola e conclui que esta, na verdade, é uma miniatura do mundo, na qual uns são mais fortes e por isso, dominam. Quem é fraco será excluído.

O mangá mostra bem como os jovens podem ser cruéis e insensíveis. Entre os excluídos, encontra-se Arisa Morishige, colega de turma, que é o alvo preferido das brincadeiras maldosas. Nada graciosa, retraída e com um ar esquizofrênico, ela se encaixa no perfil dos "sacos de pancadas". Sakura chega a dizer que ela deveria morrer.

Outra que não é popular é Kamiya, moça séria e certinha com forte senso de justiça, que trata Mizuki e suas amigas com desprezo.

Tudo vai bem até o dia em que a turma viaja de ônibus para um acampamento de socialização. Ocorre um acidente. Mizuki acorda e vê que todos no ônibus estão mortos. Entre eles, Sakura.

Confusa e destruída por dentro, Mizuki sai do ônibus, vendo que seu mundo perfeito não existe mais. Não poderá retornar à sua rotina idílica, na qual suas únicas preocupações eram as notas, amigas e diversões.

Depois, vê que outras pessoas sobreviveram: Haru, Usui, Kamiya e Morishige. Como as adolescentes sobreviverão, perdidas na floresta? Kamiya é a única que mostra alguma calma, além de revelar possuir conhecimentos de como sobreviver em ambientes inóspitos. Ela manda que todas se unam e se mantenham calmas enquanto o resgate não vem.

Porém, logo o stress faz com que o lado obscuro de muitas pessoas venha à tona. Morishige, tida até então como a bobalhona da turma, revela-se rancorosa e vingativa. Haru mostra ressentimentos em relação a Mizuki e esta, por sua vez, vê-se obrigada a encarar o fato de que é uma pessoa fria e egoísta que sempre pensou apenas em seu bem-estar e em não ter aborrecimentos.

Logo, vai sendo mostrado que todas as pessoas são bem mais do que aparentam e que os relacionamentos sempre encobrem segredos pouco louváveis. Será que as meninas conseguirão superar este desafio que porá à prova suas habilidades, coragem e disposição para se unirem?

Abordando temas como bullying, status social, amizade e a preparação dos jovens para entrar no mundo adulto, Keiko Suenobu criou uma história interessante e envolvente que nos obriga a refletir sobre a crueldade juvenil, que nada mais é do que um reflexo de valores sociais distorcidos que privilegiam uns e excluem os chamados "diferentes".

Ela também nos faz pensar sobre o que é uma verdadeira amizade, a coragem de desafiar os outros para fazer o certo e o comodismo dos que sempre usam a desculpa de que "não é problema meu."

Não há quem continue a mesma pessoa após ler este mangá.