Prefácio
Cuidado caro pobre leitor...
Saiba que tudo que aqui você irá ler de nada foi pensado em você ou para o seu bem. Nada foi feito através das boas e virtuosas intenções modernas de auto-ajuda e de elevação espiritual. Pelo contrário, se pensei em você foi com o intuito de facilitar a sua auto-destruição, a sua queda, a sua morte, o seu fim.
Eis diante de ti a minha Bíblia Negra, o meu Necronomicon, os meus escritos desgraçados, a minha cria demente e pervertida de pensamentos bizarros, doentes e belos. Como um Íncubo, como a Serpente, como uma sereia em uma rocha a beira-mar, como uma ninfa a se banhar em um lago no coração da floresta, como Eva, Pandora; eles (a minha prole mental) te seduzirão para destroçar a sua sanidade e a sua alma. Todos os monstros e demônios somados não se equiparam com o que a minha mente foi capaz de produzir pois nunca tive limites para fantasiar e esta é a minha perdição.
Por isso neste prefácio eu te rogo: desista. Desista inocente que jamais poderá esquecer-se do que aqui foi registrado com sangue. Nem mesmo se arrancar os seus próprios olhos você será capaz de eliminar as imagens oníricas, os paraísos psíquicos que despertarei em sua mente mundana, patética e miserável. Vá de retro curiosas crianças que sem malícia anseiam por percorrer avidamente este bestiário imaginário de contros, poemas, e crônicas malignas e profanas. Nenhum de vocês será o mesmo após esta leitura herege, este ritual de evocação do que há de mais terrível e sedutor no ser humano. A fagulha da criação que permaneceu dentro de nós refletindo como em uma casa de espelhos todas as facetas do mal, da tragédia, da dor, da existência mortal, dos prazeres da carne.
Como Dante outrora avisara nos umbrais que se seguiam ao inferno: "Ó vós que entrais, abandonai toda a esperança..." estejam cientes do que lhes aguarda. Ou como a maldição declarada dos profanadores da pirâmide de Tutankhamon: "A morte virá com asas rápidas para aquele que perturbar a paz do rei" aqui jaz o meu último aviso dos piores augúrios para os que exumarem os meus escritos. Estes que deveriam seguir ao túmulo comigo e nenhum olho humano deveria se debruçar sobre "Nunca mais" - grita o corvo de Poe. Mas a vaidade me vence e não suporto mais manter este pandemônio privado e por isso vencido passo adiante tal praga como uma epidemia literária para que contamine o mundo e todos possam sucumbir comigo.
Boa sorte, pobre leitor, e nunca diga que não fora avisado.
Boa leitura.
Seja bem-vindo ao meu mundo.
JOSÉ RODOLFO KLIMEK DEPETRIS MACHADO