BEISIEGEL, C. Paulo Reglus Neves Freire. In: FAVERO, M. De Lourdes de A.; BRITTO, J. de M. (Orgs.). Dicionário de educadores no Brasil da colônia aos dias atuais. Rio de Janeiro: UFRJ / MEC / INEP, 1999, p. 440-446.

A obra Dicionário de educadores no Brasil da colônia aos dias atuais, organizado por Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero e Jader de Medeiros Britto, é um presente para os educadores brasileiros, que podem ter acesso aos pensamentos de grandes nomes da área de forma resumida. Cada “verbete” foi escrito por um autor convidado, conhecedor da personagem da vez. O professor Celso de Rui Beisiegel, também autor do livro Paulo Freire, foi o responsável por apresentar um pouco do Paulo Reglus Neves de Freire, o pernambucano conhecido por Paulo Freire.

Beisiegel começa seu texto apresentando a vida de Paulo Freire, suas origens, sua família, seus amores, sua carreira. A vida de Freire começa a esbarrar na área educacional quando, como estudante, participa do magistério de Língua Portuguesa. Formado em Direito, não consegue abandonar a área da Educação e, em 1947, assume o cargo de Diretor do Setor de Educação e Cultura, no Sesi de Pernambuco. Continua na área educacional até o fim de sua vida.

No ano de 1963, época que começou a ficar conhecido no Brasil, foi designado para a presidência da Comissão Nacional de Cultura Popular, no ano seguinte assume o Programa Nacional da Alfabetização, onde “Método Paulo Freire” de alfabetização de adultos já vinha sendo utilizado. Apesar de ter sido interpretado erroneamente no inicio, o Método Paulo Freire surge revolucionando a alfabetização de adultos. As conhecidas classes passaram-se a ser os “círculos de cultura”; o professor era o “coordenador de debates”; o aluno tornou-se um participante do “circulo de cultura”; os livros e cartilhas foram substituídos por discussões que estavam vinculadas ao contexto dos participantes do “círculo de cultura”.

O Brasil passava por um momento de modernização política e econômica, onde todos os alfabetizados poderiam votar, isto faz com que as pessoas busquem a alfabetização. Visto o contexto, no qual os participantes do processo iriam cumprir com um papel político e social importante, Freire entendeu que a alfabetização não podia limitar-se ao saber ler e escrever palavras, seus participantes tinham que ter conhecimento do mundo que viviam. A crítica às cartilhas e manuais aparecem apontando a limitação que se tinha com seu uso, afinal um material elaborado para um país inteiro não consegue respeitar as peculiaridades e características de cada grupo.

Buscando o respeito à essas peculiaridades o primeiro objetivo do processo era conscientização para depois ocorrer a alfabetização. Os alfabetizadores faziam, inicialmente, uma pesquisa prévia dos meios de vida e a linguagem falada do local, desta etapa eram selecionadas as conhecidas como “palavras geradoras”, que eram escolhidas por dois motivos: a riqueza silábica e a riqueza de conteúdo existenciais. O material era apresentados aos participantes dos círculos através das “fichas de culturas”, que eram como uma espécie de slides.

Todos o processo acontecia em torno de dois conceitos, que para o criador do método era indissociável: educação e cultura. Tudo o que acontecia ao longo dos debates eram coisas extraídas das experiências vividas pelos participantes. Através das reflexões mediadas pelo mediador de debates, os participantes conscientizavam-se do mundo que viviam e então estavam prontos para serem alfabetizados.

Segundo Beisiegel (1999, pp. 895), Paulo Freire “(...) ao organizar os trabalhos de alfabetização sempre com base no diálogo entre os participantes, procurava exercitar, já no próprio processo educativo, tanto a prática do diálogo quanto o aprendizado do respeito às posições do outros. A prática do diálogo seria o caminho para a formação da personalidade democrática.”. Entendia o diálogo como o caminho para uma boa formação democrática, na qual a não só a fala deveria ser respeitada, como escuta e a opinião do outro também.

Ainda em seu início, em 1964, este movimento de alfabetização gerou um grande desconforto no Governo Militar, por ser um educação politicamente ativa, que buscava a democracia. Depois de passar por momento de grande pressão, Freire decide ao auto exílio. Ficou por um curto período na Bolívia e mudou-se para o Chile até 1969, momento que teve seu período mais produtivo.

Durante a época de seu exilio voluntário, Paulo Freire escreve dois livros importantíssimos: Educação como prática de liberdade e Pedagogia do Oprimido. Neste momento desenvolve os conceitos de “Educação Bancária” e “Educação Libertadora”. É neste período que também começa a se engajar mais em questões políticas e desenvolve projetos em relação à questão rural.

Após sua estadia no Chile, passa um ano no Estados Unidos, como professor convidado da Universidade de Havard, após este tempo muda-se para Genebra, onde assume a função de Consultor Especial do Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas. Seu retorno definitivo ao Brasil acontece no ano de 1980, onde continuou sua carreira com grande envolvimento social e político.

Na gestão municipal de Luiza Erundina em São Paulo, no ano de 1991, Freire é convidado a ser Secretário de Educação do Município. Neste momento busca ampliar a autonomia das escolas, para que houvesse maior envolvimento da comunidade escolar. Ainda teve importante colaboração para a criação do Movimento de Alfabetização da Cidade de São Paulo, conhecido como Mova.

Durante toda sua trajetória, seus estudos despertavam grande interesse no público, o que causava grandes debates e discussões, após estes momentos Freire retomava seus escritos para então escrever textos mais elaborados. Mais de 17 obras compõe o grupo de livros publicados por este grande pensador da educação brasileira.

A magnitude das colocações de Paulo Freire na educação brasileira é indiscutível. Entender um pouco dele ajuda-nos a perceber um pouco da importância de suas contribuições. O professor e autor do texto, Celso de Rui Beisiegel, apresenta com clareza a caminhada e os principais conceitos elaborados por Freire.

Gabriela Walendzus
Enviado por Gabriela Walendzus em 06/06/2017
Código do texto: T6019809
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