Ghost B. C.: As máscaras lhes dão coragem para experimentar?
O EP “POPESTAR” da banda sueca Ghost B. C. lançado em setembro do ano passado é algo que quando acontece em estilos de música com características tão marcantes, como o Heavy Metal, levam o contexto ao qual estão inseridos a prolixas discussões, reações e, principalmente a nocivos pré-julgamentos, até se chegar a uma ideia concreta do real valor do produto em que se está pesquisando ou, na maioria das vezes, nunca se chega a um denominador exato. Aqui, depois de tê-lo escutado algumas vezes ouso lançar algumas considerações sobre tal título.
O que causa espanto logo à primeira audição, no primeiro minuto de execução da primeira música “Square Hammer”, é o de estarmos escutando mais um cover de algum grupo falido que fez certo sucesso em meados dos anos 80; enganam-se, após buscar fontes para todas as canções recriadas, é ela, justamente a única a ser original, algo sensacional. Mas sobre a mesma, desfilarei melhores fundamentos abaixo.
Se houvesse um olhar mais apurado para o espelho em nossas mentes ainda intangíveis pela falta de uma reflexão mais racional da música que se gosta, digo, da música de qualidade, nesse caso - o Metal – não precisaríamos estar a todo momento nos deparando com o velho clichê: “O Metal está morto!” Perde-se muito tempo não dando chances a bandas que possuem bom potencial, simplesmente por não terem características imanentes ao estilo usualmente escutado dos headbangers; a maioria ainda preferem as estampas dos velhos rótulos, alguns, em muitos casos, descrevem-se como parte de sua própria personalidade, criando assim, os estereótipos cuja sociedade adora discriminar e segregar, e que depois se vitimizam imaginando sofrer "bullying", quando na verdade não passa apenas de um radicalismo imaturo e sem causa apreendidos na maioria das vezes na internet como “memes” e lendas urbanas que alienam muitas pessoas, não deixando de considerar aqueles que realmente sofrem "bullying".
Casos como o do Ghost B.C. não são comuns de acontecer, quando ainda era só Ghost, em 2010, quando ouvi os primeiros toques e vozes me levaram a lembrar de KING DIAMOND, eu acreditei que os músicos, sem o mínimo de informações, na época, iriam estourar rapidamente, mas tratava-se de um caso típico igual ao dos Gorillaz.
Hoje, apesar das críticas sobre o show no Rock’In’Rio em 2013, por ser muito teatral e de uma pseudo encenação d’uma missa negra, que não parece com absolutamente nada, além de não se perceber um mínimo de performance do vocalista, nota-se que os integrantes são muito bons no que fazem com os seus instrumentos dentro do estúdio e/ou em suas respectivas bandas de origem, sem as máscaras; mas por trás daquelas máscaras de Mefisto, não assustam nem o gato da minha vovozinha.
Tomando as músicas desse pequeno álbum como dístico à uma ligeira referência embasada nas disparidades musicais, saindo do claustro do lugar- comum em se fazer cover de grupos que influenciam as origens da banda que recria, não apresentando o poder do novo, é aqui que surge o EP em questão, há uma verdadeira “Panela do diabo de estilos” – pós-punk; techno; pop/rock e pop -; sendo convertidos em doom metal; ambient music; hard rock e rock progressivo tradicional.
Da dupla inglesa, Echo & The Bunniymen, eles retiraram o doom metal mencionado através de “Nocturnal me”, a música em questão, consta do álbum “Ocean Rain”, que, além de estar entre os de maior destaque na carreira da dupla, traz a sua canção mais famosa - “Killing moon”. O cover da música anglo-saxã ganhou uma preocupação quase histórica com a ajuda de teclados, dando uma ambientação medieval - dos ecos dos mosteiros e monastérios. Em sua constituição literária, transmite uma confusão sensorial na sua abundância de metáforas e possui um aparelhamento linguístico que deixa poucas opções a traduções fidedignas. As vozes superpostas são um recurso bem interessante, já que quando chega no coro da canção há um cuidado em ser o mais fiel possível na conservação de sua originalidade primária, assim, torna-se até mais sensível a passagem, talvez pela dramaticidade que é invocada nessa parte da letra. Com todo conjunto de encaixes eles conseguiram transportar a atmosfera depressiva e gótica do pós-punk à algo similar daquilo que surgia no início dos anos 70, o decadentismo inglês motivado pelo desemprego do proletariado, nativos aos que seguiam os passos do Black Sabbath, que surgiu das cinzas da ultrapassada Revolução Industrial.
Algo inesperado, porém surpreendente foi a escolha de uma música totalmente extrema em alheamento ao estilo aqui discutido. A escolha de “I Believe” da dupla Techno, Simian Mobile Disco, me pareceu meio que um equívoco, não por ser uma música techno, mas por ser uma música sem algo de novo, seria mais interessante, analisando o fato que a dupla do século XXI parece receber alguma influência do grupo alemão Kraftwerk, lá do século XX, escolher os próprios; pois, apesar de terem se passados quase 40 anos de seu álbum “Man Machine”, pouca coisa no seu estilo é melhor do que foi gravado naquele longínquo ano de 1978.
Não é todo dia que se vê músicos de Heavy Metal coverizar batidas eletrônicas, entranhas ao mundo headbanger, e quando os fazem, geralmente dão bastante peso às mesmas. Aqui, inverteu-se a lógica, retiraram-se os elementos eletrônicos e quebrou, desconstruiu a parte dançante da melodia, e o maior hit da dupla de nome extenso foi destruído; confesso que não gostei nem da versão dos suecos - densa demais, quase ambiental, entediante -, como não gostei do original, aliás, principalmente do original. Por favor, tomara que isso não vire moda!
É interessante analisar, não sei se por mera coincidência, que os covers escolhidos pelos mascarados, não são de conjuntos completos de músicos, a especificar – vocal, guitarra, baixo e bateria -, mas de duplas, e, em sua maioria, as canções escolhidas são de ótima qualidade – seria algo como um paradoxo a eles mesmos? por serem uma banda com muitos integrantes e por criarem canções simples?
O Eurythimics além de “Missionary Man” teve outra grande canção gravada por um grande nome do Rock’N’Roll mundial, o Marilyn Manson, - “Sweet Dreams” -, transformando-a como o seu maior hit, apesar de não superar a versão original. Na roupagem dada pelo Ghost B. C. deve-se notar: primeiro, retirou-se as linhas country que a melodia apresentava, desistiram do “rockão” de meia-idade daqueles artistas que seguiam a linha pop/rock de rádio da metade dos anos 80, tipo ANNIE LENNOX, isso deu um belo ar de modernidade à mesma; segundo, trouxe para a canção um vocal à la “pato rouco” de Dave Mustaine, creio que em falsetes, ou por outra voz, digo isso ante à misteriosa identidade do vocalista. A melodia em si, traz um belo Hard Rock, poderíamos suscitar uma lembrança com “Welcome to the jungle” do Guns’N’Roses, principalmente quando a melodia chega na cozinha, especificamente, das guitarradas similares às de Slash. É, entre as músicas que foram escolhidas como covers, a melhor sem sombras de dúvidas.
O “Papa anônimo e seus asseclas”, resgatam uma banda pop/pós-punk sueca - o Imperiet -, e dá ares progressivos com estilo tradicional, tipo - Pink Floyd na voz de ROGER WATERS, aliado ao Yes, ao som escolhido pelos músicos, principalmente no coro da canção, numa fusão que se torna muito flagrante. Eles ainda intermeiam um narrador final, transformando-a num cântico no fim do EP - simbolicamente, poderíamos interpretar como algo parecido com um Salvador, um Cristo? Analisando o fato da letra se chamar “Bible”, e, no caso de se tratar do Ghost B.C., isso soa meio que sugestivo, o que poderíamos entender? Através de um olhar simples sobre sua literatura primária, alienada, ultrapassada, mas de conceito lógico ao que pretendem representar, ou seja, um satanismo infantilóide do início dos anos 80, suspeito que esse Ser só possa ser o próprio Diabo, o Destruidor! Hoje, com tantos monstros cibernéticos perambulando pelas Redes Sociais, como disse Nietzsche: “Deus está Morto.” Eu digo, agora: “O diabo está morto!” pois se morre o protagonista, qual a razão do antagonista existir? Não levem em consideração nada mais do que falavam sobre deuses e outras entidades, pois maiores apocalipses já nos foram apresentados e ainda são programados piores – seus reveladores quem são? O Homem. Hoje, Só quem tem medo do diabo, são os fanáticos neopentecostais?
Deixei “Square Hammer” para ser resenhada por último como a cereja do bolo. Não sei se a banda compôs a música para o EP ou o EP para a música, adianto-me a falar que a música foi composta primeiro – Ela se torna hit logo nos primeiros acordes, quão cativante ela é, sonora, vibrante, um verdadeiro oxímoro ao estilo pretendido pelo sexteto; apresenta um vocal quase feminino, tenho que confessar que Papa Emeritus III ou quantos eles sejam, realiza um trabalho fabuloso. E para não deixar de salientar faz jus ao título do EP “POPESTAR” – a canção não foi feita para se encostar num nicho específico do underground do Heavy Metal. Queira ou não, o Ghost B.C. não é uma banda ortodoxa, e não se preocupa muito com uma linha ética em relação ao mainstream, ao mesmo tempo que é totalmente mercantilizada, não se dando ao luxo em se preocupar a agradar fãs; dessa forma, eleva sua música aos mais distantes e extremos recantos da melodia e da harmonia, não querendo desvelar louvores ao som que fazem, somente fazendo referência à atitude da experimentação e do ganho que se obtêm com isso. O que importa no final, seja Metal ou Carnaval, é que cada um esteja no seu lugar, respeitosamente, na tolerância do seu quintal.
Posso dizer que essa linha traçada pelos demônios suecos, em ousar a mistura de outros estilos, não fugindo do seu conceito, é o grande trunfo que sempre elevou o Rock e o Metal à categoria de maior estilo musical já criado. O que o Sepultura fez, por exemplo, com os álbuns “Chaos A. D.” e “Roots” revolucionou, de certa forma, uma cena que estava estagnada na época, e deu um fôlego a muitas bandas que surgiriam depois - as chamadas “Nu Metal”. Às concepções que ainda são radicais diante da música pesada, mirando-se apenas como foco somente ao extremismo do ócio de um bate-estaca, um black metal satânico, ou ao death metal ultrassônico puro, sem máculas, é bom saber que os músicos que são as mentes criadoras dos estilos em questão, provavelmente não ouvem o que produzem, eles, certamente, estão mais interessados em algo que os levarão a estágios cada vez mais além da daquilo que podem ir, eles querem aprender a apreender algo novo para aplicar naquilo o que sabem.
Em última análise, se existia ainda alguma dúvida se a banda era um projeto paralelo, creio no desaparecimento dessa hipótese. Mas, como relevância a uma passagem já citada no texto, quero deixar registrado dois questionamentos: Será que o fato dos membros do grupo usarem toda aquela indumentária, inclusive as máscaras e exclusivamente as máscaras não lhes dá a coragem e a confiança de jogarem em qualquer campo, sem medo de errar? pois, se houverem críticas, não afetam pessoas, mas personagens. Também, ainda nessa seara, seria a banda, um grupo homogêneo, com integrantes fixos, ou artistas convidados de influências distintas, às vezes, quem sabe, até pertencentes a outros estilos?
Assim, apesar de questionar algumas opiniões, sigo comemorando lançamentos como este que estou resenhando, por tudo o que ele representa: Longe da mesmice e do “mais do mesmo”; se aventurando em provocar experimentações diferentes incorporadas ao Metal e, acima de tudo, surpreendendo sempre, deixando a velha indagação – Ame-o ou odeie-o!
O que causa espanto logo à primeira audição, no primeiro minuto de execução da primeira música “Square Hammer”, é o de estarmos escutando mais um cover de algum grupo falido que fez certo sucesso em meados dos anos 80; enganam-se, após buscar fontes para todas as canções recriadas, é ela, justamente a única a ser original, algo sensacional. Mas sobre a mesma, desfilarei melhores fundamentos abaixo.
Se houvesse um olhar mais apurado para o espelho em nossas mentes ainda intangíveis pela falta de uma reflexão mais racional da música que se gosta, digo, da música de qualidade, nesse caso - o Metal – não precisaríamos estar a todo momento nos deparando com o velho clichê: “O Metal está morto!” Perde-se muito tempo não dando chances a bandas que possuem bom potencial, simplesmente por não terem características imanentes ao estilo usualmente escutado dos headbangers; a maioria ainda preferem as estampas dos velhos rótulos, alguns, em muitos casos, descrevem-se como parte de sua própria personalidade, criando assim, os estereótipos cuja sociedade adora discriminar e segregar, e que depois se vitimizam imaginando sofrer "bullying", quando na verdade não passa apenas de um radicalismo imaturo e sem causa apreendidos na maioria das vezes na internet como “memes” e lendas urbanas que alienam muitas pessoas, não deixando de considerar aqueles que realmente sofrem "bullying".
Casos como o do Ghost B.C. não são comuns de acontecer, quando ainda era só Ghost, em 2010, quando ouvi os primeiros toques e vozes me levaram a lembrar de KING DIAMOND, eu acreditei que os músicos, sem o mínimo de informações, na época, iriam estourar rapidamente, mas tratava-se de um caso típico igual ao dos Gorillaz.
Hoje, apesar das críticas sobre o show no Rock’In’Rio em 2013, por ser muito teatral e de uma pseudo encenação d’uma missa negra, que não parece com absolutamente nada, além de não se perceber um mínimo de performance do vocalista, nota-se que os integrantes são muito bons no que fazem com os seus instrumentos dentro do estúdio e/ou em suas respectivas bandas de origem, sem as máscaras; mas por trás daquelas máscaras de Mefisto, não assustam nem o gato da minha vovozinha.
Tomando as músicas desse pequeno álbum como dístico à uma ligeira referência embasada nas disparidades musicais, saindo do claustro do lugar- comum em se fazer cover de grupos que influenciam as origens da banda que recria, não apresentando o poder do novo, é aqui que surge o EP em questão, há uma verdadeira “Panela do diabo de estilos” – pós-punk; techno; pop/rock e pop -; sendo convertidos em doom metal; ambient music; hard rock e rock progressivo tradicional.
Da dupla inglesa, Echo & The Bunniymen, eles retiraram o doom metal mencionado através de “Nocturnal me”, a música em questão, consta do álbum “Ocean Rain”, que, além de estar entre os de maior destaque na carreira da dupla, traz a sua canção mais famosa - “Killing moon”. O cover da música anglo-saxã ganhou uma preocupação quase histórica com a ajuda de teclados, dando uma ambientação medieval - dos ecos dos mosteiros e monastérios. Em sua constituição literária, transmite uma confusão sensorial na sua abundância de metáforas e possui um aparelhamento linguístico que deixa poucas opções a traduções fidedignas. As vozes superpostas são um recurso bem interessante, já que quando chega no coro da canção há um cuidado em ser o mais fiel possível na conservação de sua originalidade primária, assim, torna-se até mais sensível a passagem, talvez pela dramaticidade que é invocada nessa parte da letra. Com todo conjunto de encaixes eles conseguiram transportar a atmosfera depressiva e gótica do pós-punk à algo similar daquilo que surgia no início dos anos 70, o decadentismo inglês motivado pelo desemprego do proletariado, nativos aos que seguiam os passos do Black Sabbath, que surgiu das cinzas da ultrapassada Revolução Industrial.
Algo inesperado, porém surpreendente foi a escolha de uma música totalmente extrema em alheamento ao estilo aqui discutido. A escolha de “I Believe” da dupla Techno, Simian Mobile Disco, me pareceu meio que um equívoco, não por ser uma música techno, mas por ser uma música sem algo de novo, seria mais interessante, analisando o fato que a dupla do século XXI parece receber alguma influência do grupo alemão Kraftwerk, lá do século XX, escolher os próprios; pois, apesar de terem se passados quase 40 anos de seu álbum “Man Machine”, pouca coisa no seu estilo é melhor do que foi gravado naquele longínquo ano de 1978.
Não é todo dia que se vê músicos de Heavy Metal coverizar batidas eletrônicas, entranhas ao mundo headbanger, e quando os fazem, geralmente dão bastante peso às mesmas. Aqui, inverteu-se a lógica, retiraram-se os elementos eletrônicos e quebrou, desconstruiu a parte dançante da melodia, e o maior hit da dupla de nome extenso foi destruído; confesso que não gostei nem da versão dos suecos - densa demais, quase ambiental, entediante -, como não gostei do original, aliás, principalmente do original. Por favor, tomara que isso não vire moda!
É interessante analisar, não sei se por mera coincidência, que os covers escolhidos pelos mascarados, não são de conjuntos completos de músicos, a especificar – vocal, guitarra, baixo e bateria -, mas de duplas, e, em sua maioria, as canções escolhidas são de ótima qualidade – seria algo como um paradoxo a eles mesmos? por serem uma banda com muitos integrantes e por criarem canções simples?
O Eurythimics além de “Missionary Man” teve outra grande canção gravada por um grande nome do Rock’N’Roll mundial, o Marilyn Manson, - “Sweet Dreams” -, transformando-a como o seu maior hit, apesar de não superar a versão original. Na roupagem dada pelo Ghost B. C. deve-se notar: primeiro, retirou-se as linhas country que a melodia apresentava, desistiram do “rockão” de meia-idade daqueles artistas que seguiam a linha pop/rock de rádio da metade dos anos 80, tipo ANNIE LENNOX, isso deu um belo ar de modernidade à mesma; segundo, trouxe para a canção um vocal à la “pato rouco” de Dave Mustaine, creio que em falsetes, ou por outra voz, digo isso ante à misteriosa identidade do vocalista. A melodia em si, traz um belo Hard Rock, poderíamos suscitar uma lembrança com “Welcome to the jungle” do Guns’N’Roses, principalmente quando a melodia chega na cozinha, especificamente, das guitarradas similares às de Slash. É, entre as músicas que foram escolhidas como covers, a melhor sem sombras de dúvidas.
O “Papa anônimo e seus asseclas”, resgatam uma banda pop/pós-punk sueca - o Imperiet -, e dá ares progressivos com estilo tradicional, tipo - Pink Floyd na voz de ROGER WATERS, aliado ao Yes, ao som escolhido pelos músicos, principalmente no coro da canção, numa fusão que se torna muito flagrante. Eles ainda intermeiam um narrador final, transformando-a num cântico no fim do EP - simbolicamente, poderíamos interpretar como algo parecido com um Salvador, um Cristo? Analisando o fato da letra se chamar “Bible”, e, no caso de se tratar do Ghost B.C., isso soa meio que sugestivo, o que poderíamos entender? Através de um olhar simples sobre sua literatura primária, alienada, ultrapassada, mas de conceito lógico ao que pretendem representar, ou seja, um satanismo infantilóide do início dos anos 80, suspeito que esse Ser só possa ser o próprio Diabo, o Destruidor! Hoje, com tantos monstros cibernéticos perambulando pelas Redes Sociais, como disse Nietzsche: “Deus está Morto.” Eu digo, agora: “O diabo está morto!” pois se morre o protagonista, qual a razão do antagonista existir? Não levem em consideração nada mais do que falavam sobre deuses e outras entidades, pois maiores apocalipses já nos foram apresentados e ainda são programados piores – seus reveladores quem são? O Homem. Hoje, Só quem tem medo do diabo, são os fanáticos neopentecostais?
Deixei “Square Hammer” para ser resenhada por último como a cereja do bolo. Não sei se a banda compôs a música para o EP ou o EP para a música, adianto-me a falar que a música foi composta primeiro – Ela se torna hit logo nos primeiros acordes, quão cativante ela é, sonora, vibrante, um verdadeiro oxímoro ao estilo pretendido pelo sexteto; apresenta um vocal quase feminino, tenho que confessar que Papa Emeritus III ou quantos eles sejam, realiza um trabalho fabuloso. E para não deixar de salientar faz jus ao título do EP “POPESTAR” – a canção não foi feita para se encostar num nicho específico do underground do Heavy Metal. Queira ou não, o Ghost B.C. não é uma banda ortodoxa, e não se preocupa muito com uma linha ética em relação ao mainstream, ao mesmo tempo que é totalmente mercantilizada, não se dando ao luxo em se preocupar a agradar fãs; dessa forma, eleva sua música aos mais distantes e extremos recantos da melodia e da harmonia, não querendo desvelar louvores ao som que fazem, somente fazendo referência à atitude da experimentação e do ganho que se obtêm com isso. O que importa no final, seja Metal ou Carnaval, é que cada um esteja no seu lugar, respeitosamente, na tolerância do seu quintal.
Posso dizer que essa linha traçada pelos demônios suecos, em ousar a mistura de outros estilos, não fugindo do seu conceito, é o grande trunfo que sempre elevou o Rock e o Metal à categoria de maior estilo musical já criado. O que o Sepultura fez, por exemplo, com os álbuns “Chaos A. D.” e “Roots” revolucionou, de certa forma, uma cena que estava estagnada na época, e deu um fôlego a muitas bandas que surgiriam depois - as chamadas “Nu Metal”. Às concepções que ainda são radicais diante da música pesada, mirando-se apenas como foco somente ao extremismo do ócio de um bate-estaca, um black metal satânico, ou ao death metal ultrassônico puro, sem máculas, é bom saber que os músicos que são as mentes criadoras dos estilos em questão, provavelmente não ouvem o que produzem, eles, certamente, estão mais interessados em algo que os levarão a estágios cada vez mais além da daquilo que podem ir, eles querem aprender a apreender algo novo para aplicar naquilo o que sabem.
Em última análise, se existia ainda alguma dúvida se a banda era um projeto paralelo, creio no desaparecimento dessa hipótese. Mas, como relevância a uma passagem já citada no texto, quero deixar registrado dois questionamentos: Será que o fato dos membros do grupo usarem toda aquela indumentária, inclusive as máscaras e exclusivamente as máscaras não lhes dá a coragem e a confiança de jogarem em qualquer campo, sem medo de errar? pois, se houverem críticas, não afetam pessoas, mas personagens. Também, ainda nessa seara, seria a banda, um grupo homogêneo, com integrantes fixos, ou artistas convidados de influências distintas, às vezes, quem sabe, até pertencentes a outros estilos?
Assim, apesar de questionar algumas opiniões, sigo comemorando lançamentos como este que estou resenhando, por tudo o que ele representa: Longe da mesmice e do “mais do mesmo”; se aventurando em provocar experimentações diferentes incorporadas ao Metal e, acima de tudo, surpreendendo sempre, deixando a velha indagação – Ame-o ou odeie-o!