Resenha de Juca-Pirama - Gonçalves Dias
Do tupi: "o que há de ser morto", o personagem-título Juca-Pirama é um guerreiro tupi que após uma batalha contra os Timbiras, é aprisionado, tendo como destino ser morto e devorado. Mas antes, a tribo inimiga ordena que ele entoe seu canto de morte, e ele o faz, narrando seus feitos heróicos, porém, pensando em seu pai cego e doente, pede que o deixem viver. Ele é visto como covarde e o chefe Timbira, com asco, ordena que o soltem: "não queremos com carne vil enfraquecer os fortes".
Juca-Pirama vai ao encontro do pai, que fica desapontado com sua renúncia e pede que ele retorne à tribo dos Timbiras para cumprir seu destino. Lá, o guerreiro reage e luta bravamente, destruindo a tribo. Tempos depois, seu feito é narrado pelo chefe da tribo, que exalta a bravura do inimigo.
Dividido em dez cantos, alternando em primeira e terceira pessoa, o poema apresenta variações de ritmo e métrica, de acordo com as ações narradas. Em todo o texto, a cadência dos versos se assemelha ao canto que os índios entoam em suas cerimônias:
"Meu canto de morte
guerreiros ouvi
sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da Tribo Tupi."
Obra da primeira fase do Romantismo brasileiro, Juca-Pirama representa o estilo indianista, cujo intuito era exaltar os valores nacionais e se distanciar da influência de Portugal.
O índio foi o herói escolhido para figurar nessa vanguarda proposta pelos nacionalistas. A extrema coragem, força, honra e pureza são elementos de uma visão ainda idealista e romantizada do índio.
No culto à natureza, no sentimentalismo e no forte nacionalismo, essa subjetividade também reflete um período em que, na literatura brasileira, havia a busca ávida por uma identidade nacional.
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DIAS, Gonçalves. Antologia Poética. 5ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1969.
Colaboração de Sandra M.P.Marinho e Luiz A. Faria