H.P.LOVECRAFT : OS RATOS NAS PAREDES (conto)

 
O AUTOR : Howard Phillips Lovecraft(1890-1937), em vida, obscuro autor de histórias de terror no estilo das revistas populares de terror e ficção científica de seu tempo, ganhou celebridade póstuma pela originalidade de sua obra, de temática peculiar mesmo dentro do estreito campo do horror e da fantasia.Sua popularidade pode ser medida pelo número de edições disponíveis de seus trabalhos,desde os mais relevantes,até sua poesia e correspondência.No Brasil há um número crescente de adoradores(o termo, em se tratando do autor,é bastante apropriado)que promovem a publicação de coletâneas com os contos de Lovecraft, a maioria em traduções bem porcas,ainda que bem intencionadas.O conto lido, que aqui apresento sucintamente emitindo apenas uma opinião que me ocorre após deleitosa releitura, encontra-se na coletânea OS MELHORES CONTOS DE MEDO, HORROR E MORTE(Editora Nova Fronteira,2005),na tradução de Marcelo Mendes.

 
O CONTO : o protagonista, descendente de uma família antiga, encara repentinamente um horror que transcende gerações, ao reformar uma propriedade herdada de seus ancestrais.As coisas que ele encontra por lá, e os boatos aterradores que envolvem o lugar amaldiçoado, colocam diante dele o desafio de esclarecer os fatos terríveis envolvendo seus antepassados e a razão do ódio que o nome de sua nobre linhagem desperta nos camponeses das cercanias há tanto tempo.Talvez devesse mencionar os ratos do título, mas acho que já seria spoiler.Leia o conto, preferencialmente à noite...e só.

 
A história é típica de certa abordagem lovecraftiana – para efeito de comparação, enredos semelhantes serão encontrados no romance O CASO DE CHARLES DEXTER WARD, e nos contos A COISA NO UMBRAL DA PORTA e O HORROR EM RED HOOK, para ficar apenas em poucos exemplos – a categoria de textos que explora  o tema dos saberes-proibidos-cuja-influência-desencadeia-loucura-e-aberrações-inomináveis.Esse é um aspecto de Lovecraft, um traço que eventualmente surge combinado com outros, ainda mais marcantes e característicos como a abordagem direta do corpo principal do que ficou conhecido como ‘mitos de Cthulhu’, sua mitologia original de uma ficção que pode apropriadamente ser chamada de ‘horror cósmico’,que nós, leitores tardios, associaremos a teorias dos alienígenas do passado(CHARIOTS OF THE GODS,por aqui, ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?, do suíço Erich Von Dänniken).

 
O estilo de Lovecraft é pesado – ‘prosa adiposa’ foi o termo usado por Edmund Wilson – não é um autor refinado, sutil, mas, para todos os efeitos práticos ou nem tanto, sua literatura simplesmente funciona.Leitores de imaginação não ficarão indiferentes ao enredo lovecraftiano, os mais sensíveis poderão mesmo ficar aterrorizados.E o que se insinua geralmente tem implicações mais terríveis que o que é escancarado nas fuças do leitor incrédulo e seguro de seu racionalismo prepotente.

 
De uma perspectiva estritamente pessoal, o que há de mais interessante na releitura de contos e poemas desse autor, que conheço desde uma época algo remota em minha trajetória entre livros, é perceber que a obra de Lovecraft assume uma personalidade única nesse momento conturbado da história humana.É uma obra que se bem absorvida – e não ouso sustentar que eu o tenha alcançado – tende para a atemporalidade característica do que entre acadêmicos costuma ser entendido como ‘clássica’.Causa certa perplexidade (e riso, confesso) ouvir alguém resenhar Lovecraft nesses termos:

 
- É o primeiro texto que leio desse autor, parece bom, mas achei meio racista...
 

Deveríamos alertar o futuro leitor de Lovecraft que não há espaço para o politicamente correto na ficção de um autor que só tem compromisso com seus próprios ideais estéticos, sua visão de mundo e sua arte?Não há lugar para o cosmopolitismo e a ‘pluralidade’ na obra de Lovecraft, a não ser como sintoma de corrupção e degeneração social.Da mesma forma, a religiosidade tradicional, bem como os cacoetes pós-iluministas que se lhe opõem, são solenemente ignorados ou, em certos momentos, reputados por inócuos resquícios primitivos de uma besta que se alegra estupidamente em ser o que é, irracional e feliz em sua ignorância.Lovecraft foi fruto de seu tempo, há elementos dos trabalhos de Cesare Lombroso(1835-1909) em sua obra(no conto em questão,por exemplo),bem como do Darwin(1809-1882) de DESCENT OF MAN.Não é, definitivamente, um autor para defensores de ‘minorias’, estejam avisados. 


.
Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 16/04/2016
Código do texto: T5606804
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.