"De Todas as Tribos"
"...Escutei uma frase interessante:
Salvador é território Tupinambá!
Isso em meio a folia momesca me levou a observar que Salvador e a Bahia como um todo é Tupinambá, Kiriri, Malê, Macuas, Keto, Banto.
Um caldeirão de culturas numa mestiça Bahia, que não estão nos Camarotes e Blocos caros, não como protagonistas mas, segurando as cordas, vendendo uma sensação falsa de segurança. Esta Bahia Preta e Tupinambá está por trás das estruturas de compensado decorado e ferro, limpando, servindo.
Esta emblemática frase (Salvador é território Tupinambá) levou-me a recorrer à história dos carnavais antigos onde antes do afro reconhecimento, hoje difundido pelo mundo, a negra Salvador se reconhecia na imagem do Indios Americano. No Apaches do Tororó, Comanches etc...
Ou seja o contexto mesmo que americanizado era o reconhecimento de também ser o gentio.
Séculos se passaram desde o casamento de Diogo Álvares (Caramuru) com a Índia Catharina Paraguassu ou (Guaibimpará= Mar Grande) e a Salvador Tupinambá se tornou a Salvador de todas as tribos, daqui e de lá de além mar.
De cima do trio elétrico podemos ver o mar de pessoas de todas as tribos e cores, vemos a Bahia Preta do Jorge Baptista Carrano, a Tupinamba, ameríndia e o fosso social que segrega esta Bahia.
Que destoa e distingue de forma clara a realidade do Quilombo dos Macacos e a do Morro do Gato, onde a única coisa que os liga é que nestes locais moram pessoas, tratadas de formas distintas.
Vemos a verdadeira face da exploração secular da mão de obra barata e de uma "Branca" Bahia que ao longo dos tempos se mantém indiferente aos territórios secularmente existentes.
Se detém apenas aos seus interesses, que aí estão postos desde que Catharina se tornou a "Mãe" do Brasil, desde que a Bahia deles, se sobrepôs à Bahia do Cacique Taparica, à revolta dos Búzios, dos Malês, ao próprio 2 de Julho onde os Tupinambás tiveram participação importante.
A Bahia dos Territórios, guetos e quilombos pode ser vista em Salvador assim como o mar, em todos os cantos.
Terra da magia e da beleza é ainda extremamente preconceituosa, sob o manto de uma falsa ilusão de que a miscigenação faz dos Baianos iguais e felizes.
A Salvador Tupinambá está em mim, assim como a Salvador Africana, a Europeia, assim como no "Branco" baiano.
Seja no abadá do cordeiro, na pulseira do camarote ou na reprodução carnavalesca do navio negreiro dos Blocos de corda.
A história é a mesma, os atores os mesmos, o que mudou foi que hoje podemos ver de forma menos velada a face e o fosso, sob a chuva, suor, caixas de isopor com cerveja..."
("De Todas as Tribos", by Carlos Ventura)