mais 04 questões sobre João Cabral de Melo Neto

Texto I

O sim contra o sim

[...]

Miró sentia a mão direita

demasiada sábia

e que de saber tanto

já não podia inventar nada.

Quis então que desaprendesse

o muito que aprendera,

a fim de reencontrar

a linha ainda fresca da esquerda.

Pois que ela não pôde, ele pôs-se

a desenhar com esta

até que, se operando,

no braço direito ele a enxerta.

A esquerda (se não se é canhoto)

é mão sem habilidade:

reaprende a cada linha,

cada instante, a recomeçar-se.

[...]

MELO NETO, J.C. de. Serial e antes. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1997.

Texto II

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas...

Que já têm a forma do nosso corpo...

E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos

mesmos lugares...

É o tempo da travessia...

E se não ousarmos fazê-la...

Teremos ficado... para sempre...

À margem de nós mesmos...

(Fernando Teixeira de Andrade)

Marque C para as afirmativas corretas e E para as erradas

Questão 01

O diálogo semiótico entre texto I e II sugere que

a) o recomeço exige rupturas com o passado.

b) o conhecimento estabelecido impede a criatividade

c) a construção de novos paradigmas depende da desconstrução de antigos.

d) “mão sem habilidade” está para “caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares”.

e) “roupas usadas” está para “mão direita”, assim como “travessia” está para “linha ainda fresca da esquerda”.

Assinale a alternativa correta

Questão 02

De acordo com a análise do texto I, conclui-se que

a) a mão direita transformou-se na mão esquerda.

b) apesar de “demasiada sábia”, a mão direita “já não podia inventar nada”.

c) o título “O sim contra o sim” faz referência ao confronto entre a mão direita contra a esquerda.

d) a mão esquerda não possui habilidade.

e) as mãos direita e esquerda são alegorias à luta política e ideológica no Brasil.

Texto III

ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO

— Essa cova em que estás,

com palmos medida,

é a cota menor

que tiraste em vida.

— É de bom tamanho,

nem largo nem fundo,

é a parte que te cabe

deste latifúndio.

— Não é cova grande,

é cova medida,

é a terra que querias

ver dividida.

— É uma cova grande

para teu pouco defunto,

mas estarás mais ancho

que estavas no mundo.

— É uma cova grande

para teu defunto parco,

porém mais que no mundo

te sentirás largo.

— É uma cova grande

para tua carne pouca,

mas a terra dada

não se abre a boca.

(...)

(João Cabral de Melo Neto, “Morte e vida severina” em Poesias completas)

Assinale a alternativa correta

Questão 03

Segundo as ideias extraídas do texto III, conclui-se que

a) a terra pertence a quem nela trabalha.

b) o defunto se sentirá largo porque será enterrado em seu latifúndio.

c) a segunda fala é o recorte metonímico da questão fundiária ainda não resolvida pela Reforma Agrária.

d) na quinta fala, há ironia nos termos “cova grande” e “te sentirás largo”.

e) na sexta fala, “a terra dada não se abre a boca”, por ser um provérbio popular, deveria estar entre aspas.

Texto IV

CANSADO DA VIAGEM O RETIRANTE PENSA INTERROMPÊ-LA POR UNS INSTANTES E PROCURAR TRABALHO ALI ONDE SE ENCONTRA.

— Desde que estou retirando

só a morte vejo ativa,

só a morte deparei

e às vezes até festiva;

só a morte tem encontrado

quem pensava encontrar vida,

e o pouco que não foi morte

foi de vida severina

(aquela vida que é menos

vivida que defendida,

e é ainda mais severina

para o homem que retira).

(...)

(João Cabral de Melo Neto, “Morte e vida severina” em Poesias completas)

Assinale a alternativa correta

Questão 04

De acordo com as ideias do texto IV e de toda a obra “Morte e vida severina”, conclui-se que

a) o enunciado entre parênteses é um aposto restritivo do termo que o antecede “vida severina”.

b) “festiva”, “severina”, “vivida” e “defendida” são termos que caracterizam o substantivo “vida”.

c) a morte é uma fonte de trabalho e renda na região: coveiros, farmacêuticos e benzedeiras são beneficiados pela indústria da morte.

d) a morte é o caminho menos doloroso para uma vida severina.

e) a vida só vale a pena se for uma vida severina.

GABARITO

QUESTÃO 1

a - C

b - E

c - C

d - C

e - C

QUESTÃO 2 - b

QUESTÃO 3 - c

QUESTÃO 4 - c

RENATO PASSOS DE BARROS
Enviado por RENATO PASSOS DE BARROS em 12/09/2015
Código do texto: T5379336
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