PARA LER ALÉM

ENCONTRO DA ESCRITORA CLÁUDIA RODRIGUES E

O ESCRITOR PEDRO BANDEIRA

PARA LER ALÉM

No dia 24 de maio a escritora Cláudia Rodrigues participou do bate papo no Sesc Itaquera com o escritor de quase 90 títulos infantis e juvenis que é um entusiasta dos prazeres da vida, sobretudo na formação da leitura de crianças e jovens e ao desenvolvimento cultural de toda comunidade. Durante a conversa, Cláudia Rodrigues apresentou o projeto de leitura “Poetas & Doces Escritores” criado desde o ano de 2010 ao escritor relatando a ele como é feito esse trabalho na E.E. Profª Dulce Leite da Silva e atentamente foi ouvida por Pedro Bandeira que elogiou todo o trabalho da equipe e apreciou o material do projeto com bastante alegria e satisfação.A escritora também autografou o seu livro infanto juvenil “ As Borboletas de um Jardim” mostrando o seu encanto pela leitura e que também havia citado o escritor em sua obra, dando ênfase maior ao seu texto; neste momento foi elogiada e agraciada pelo livro que encantou-se pelas páginas folheadas. Iniciando o bate papo com a plateia Pedro Bandeira começou falando da história fazendo um paralelo entre o Brasil e outros países do mundo. Desde o descobrimento no século XV até os dias de hoje.Que a história do analfabetismo no Brasil não é por acaso. Era proibido até o livro e a imprensa naquele época. Saber ou não ler não tinha importância nenhuma. Antigamente ou se era camponês ou dono de terras. Não havia sonho em aprender a ler para se informar de nada. Então, a revolução necessária é criar uma nova geração que seja diferente da geração atual. Educar as crianças para que elas gostem de ler e que, mais tarde, eduquem seus filhos também gostando de ler, e que comecem a educar seus filhos em casa. Infelizmente os pais de hoje, em geral, só pensam em prover o sustento do filho. Acham que educar é problema da escola. Não é! Educar é um problema da família. A escola é um ajudante. Em outros países, enfatiza o escritor, que as pessoas se apresentam pelo sobrenome dando valor a família. Já no Brasil não há esse referencial, o sujeito se apresenta pelo primeiro nome e pronto, não tem uma importância maior saber de onde ele veio. Explicitou que é natural que o ensino público hoje passe por grandes problemas, porque ele veio de um passado em que a educação era apenas para a elite, para uma minoria, quando o professor até ganhava bem. Mas, hoje, passou para uma fase em que a educação é oferecida para uma totalidade, ou seja, houve a democratização do ensino,mas a maioria da população não se deu conta disto. Por isso o professor deve tratar os alunos chamados” difíceis” com amor e carinho, trazê-lo para o prazer da leitura, alunos com déficit de aprendizagem é aquele que tem problema na família; totalmente desprivilegiado. Esses sim, que devemos dar atenção,pois ele só tem a escola para isso. Da alfabetização ao letramento é importante fazer com o que os alunos sintam vontade de ler e encantar-se com um livro com a história que leu e apropriar-se desse conhecimento para a sua vida. Diz ainda que é importante trabalhar com poesia na alfabetização,pois trata da redondilha, da rima e fica mais fácil da criança ler e entender o que está escrito. Enfatizou ainda que nós vivemos, agora, numa democracia. Cada pai, cada professor dará ao filho ou ao aluno aquilo que quiser, portanto cabe a cada um o seu papel na vida e na sociedade. Parabenizou o trabalho do professor na escola, pois que hoje em dia os alunos leem muito mais do que antes e isso se dá ao trabalho do mestre em sala de aula.O escritor terminou o bate papo nesta manhã de sábado com uma declamação grandiosa do seu texto Pedro Malasartes e o Pássaro Lapão

Do tal Pedro Malasartes,

você já ouviu falar?

Pois prepare sua risada

que estou pronto pra contar.

Esse Pedro é uma caipira

Bem do tipo brasileiro:

É quietão, de fala mansa,

Mas sabido e muito arteiro.

Pra dar duro no batente,

nosso Pedro é só preguiça,

mas não perde ocasião

de vingar uma injustiça.

E injustiça é o que não falta

nessa vida lá da roça.

Só se livra das maldades

o sujeito que tem bossa.

Foi assim que certa vez

o Martinho Deodato,

capataz do coronel,

foi caçar jacu no mato.

Quando ouviu um barulhinho,

levou a espingarda ao peito,

mas errou a pontaria,

deu um tiro tão sem jeito

que matou o cabritinho

da viúva do Chicão

e em vez de pagar a perda

inda disse um palavrão.

A viúva foi ao Pedro

contar a situação.

Pedro não era de briga,

mas jurou reparação.

Tratou logo de comer

uma janta reforçada:

rapadura, dois repolhos

e uma enorme feijoada...

Frente à casa do Martinho,

agachou-se bem na estrada.

Esperou fazer efeito...

e soltou a feijoada!

Com o seu velho chapéu,

tudo aquilo ele tapou

e agarrando bem as abas

calmamente ele esperou.

Foi aí que o Deodato

a tal cena veio ver

mas achando muito estranho

malcriado quis saber:

-Que será que está havendo?

Será louco esse sujeito?

O que está fazendo aí

agachado desse jeito?

Pra erguer esse chapéu

você não tem força, não?

Ou será que esse chapéu

tá pregado aí no chão?

Malasarte até gostou

da caçoada do safado,

pois chegara a ocasião

de fisgá-lo bem fisgado.

-Nada disso, meu amigo,

é que eu consegui pegar

o tal pássaro lapão

que não pode me escapar.

Ele é muito valioso:

a mulher do delegado

prometeu dar um milhão

se eu pegar este danado...

Quando ouviu falar

a cobiça começou

a crescer no Deodato,

e o safado comentou:

-Um milhão é um bom dinheiro,

muito mais que o senhor pensa.

E por que não vai buscar

essa grande recompensa?

A arapuca estava pronta,

só faltava um bocadinho

para ver o Deodato

cair nela direitinho.

Esse é um bicho delicado,

qualquer coisa lhe faz mal.

Só se deve transportá-lo

em gaiola especial.

A gaiola é muito cara,

fabricada no estrangeiro.

E eu nem sei o que fazer

já que não tenho dinheiro.

A cobiça foi crescendo,

Até dava comichão,

pois aquele capataz

só pensava no milhão:

-Vou enganar esse caipira,

pelo jeito ele é um cretino.

Não fosse eu, o Deodato,

um sujeito tão ladino...

Se a questão era dinheiro,

e se o outro nada tinha,

para ele estava fácil,

era só manter a linha:

-Gostaria de ajudar

e o problema resolver.

A gaiola, quanto custa?

Gostaria eu de saber...

Malasarte suspirou,

fez um cálculo mental,

lembrou da boa viúva

e do seu pobre animal.

-A gaiola, meu amigo,

é bem cara, eu admito.

Ela custa, lá na venda,

mais que o preço de um cabrito...

Sem perder nem um segundo,

nem contar o que continha,

Deodato lhe estendeu

a carteira bem cheinha.

-Eis aqui todo o dinheiro,

não precisa nem contar.

Deixe que eu seguro as abas,

e a gaiola vá comprar!

Malasarte foi pegando

o dinheiro sem demora,

montou rápido na mula

e tratou de ir logo embora.

Foi pra casa da viúva,

que chegou a dar um grito

quando viu tanto dinheiro

pra comprar outro cabrito.

O Martinho Deodato

Ficou vendo o Pedro ir

e assim que se viu sozinho,

bem feliz ficou a rir:

-Pelo preço de um cabrito,

vou ganhar esse milhão!

Agora é só agarrar

o tal pássaro lapão!

Foi pegar o passarinho,

mas, com medo de feri-lo,

devagar ergueu a aba

e enfiou a mão naquilo!