RUBAIYAT.
VAMOS REFLETIR SOBRE POESIA, CULTURA E FILOSOFIA?
O que é um RUBAI? (Cujo plural é RUBAIYAT).
É um “quarteto” persa por excelência, constante de quatro versos de igual medida, rimados o primeiro, o segundo e o quarto, ficando livre o terceiro. O quarto, por contrapor-se ao terceiro, adquire um vigor e um relevo extraordinários.
Os quartetos de RUBAIYAT são de uma beleza delicada e lânguida; o poeta canta para a brevidade da vida, para o amor e para o destino do homem, com abundância de imagens e aforismos; é tão místico quanto cético e satírico; e é um tanto epicurista.
Quem descobriu os quase 250 HAIKAIS foi DE BOBLER e por isto foram chamados de Manuscritos bodleriano. Depois foram encontrados mais 800 HAIKAIS, que estão na Biblioteca de Cambrigde, Inglaterra. A maioria é composta de meras variantes (não sendo comprovaqdamente de KAIYYAM) que foram sendo multiplicadas.
Quem primeiro traduziu do PARSI e publicou alguns KAIKAIS na Inglaterra, em 1859, foi o irlandês FITZGERALD, que decidiu restringir-se à rima.Esta tradução não foi bem aceita porque Ele se descuidou na fidelidade à originalidade poética.
O Cônsul francês na Pérsia, J.NICOLAS, em 1867, empreendeu um nova tradução. Afirmou que o Poeta KHAYYAM era um SUFI (CONSIDERAVA O VINHO COMO UMA DIVINDADE, A TABERNA SERIA UM TEMPLO, O (A) COPEIRO (A) SERIA A RELIGIÃO, O CÁLICE (TAÇA) SERIA O UNIVERSO, A EMBRIAGUEZ SERIA O ÊXTASE MÍSTICO E O AMOR, O AMOR DE DEUS) e, por esta razão os RUBAIYAT mostravam, de forma alegórica, o pensamento e os ensinamentos desta escola mística. Neles se canta ao amor, ao vinho, à brevidade da vida e à morte. São belíssimas peças literárias.
Eis alguns dos RUBAIYAT do poeta persa OMAR KHAYYAM (1.040/1123), cujo nome completo é:
GHYAT-ED-DIN ABU FAL OMAR IBN IBRAHIM AL KHAYYAM.
E o que sabemos sobre este poeta (ou mistico) persa?
Nasceu em Naishapur de Korassam. Fiu poeta, matemático e astrônomo. Escreveu um Tratado de Álgebra, construiu tabelas astronômicas e reformulou o calendário muçulmano, nele introduzindo o ano bissexto, a cada quatro ano. Também escreveu sobre Ciências Naturais, Ética, Direito e Metafísica.
Sua vida está estreitamente ligada à de dois grandes personagens da História Universal: Hassan Sabbah, o legendário "Velho da Montanha", e Nizam al Mulk, que foi Vizir do Sultão Alp Arslan.
Hassam e Nizam, quando jovens, foram a NAISHAPUR para se instruírem com o ancião imã Novassak, quando conheceram OMAR KAIYYANT, nascendo entre eles uma amizade, que resultou em solene pacto: quem vencesse primeiro seri obrigado a ajudar os outros dois.
Nizam chegou à frente, e muito à frente: foi Secretário e depois Vizir do Sultão ALP Arslam, o Leão. E lembrou dos dois amigos e do compromisso assumido. OMAR solicitou e conseguiu uma pensão de 1.200 mitkales de ouro e com isso prosseguiu placidamente seus estudos, vivenciando com prazer o terraço de sua casa, num divã luxuoso, conversando, bebericando ao som dos tocadores de alaúde, ouvido cantores, vendo dançarinas e sendo servido por graciosas donzelas, entre austeros estudos e fáceis prazeres. E foi convidado pelo Sultão MALEK CHAB, que lhe encheu de honras e proporcionou-lhe condições para que escrevesse seus livros.
E Hassan? Este pediu e obteve um cargo no Sultanato de Alp Arslan, mas, ao se envolver em intrigas palacianas, caiu em desgraça e retirou-se para as montanhas do sul do Mar Cáspio, encabeçando um grupo de rebeldes. Aterrorizando todas as regiões vizinhas, adquiriu, entre os cruzados cristãos, a mais triste reputação de "assassino". De seu nome e de seus criminosos seguidores proveio o pesado nome de" HASSASSINES".
Do livro RUBAIYAT, Editora EKO, Blumenau, Santa Catarina.
Numa tranquila tarde, eu observava um oleiro que amassava o barro com os pés,
Quando ouvi uma doida voz saindo daquele barro pisado,
Que me dizia, me repetia e insistia:
Te cuida! O mesmo que tu és hoje neste agora, eu já fui um dia.
No dia em que eu morrer acabarão as rosas,
Os alvoreceres e os crepúsculos, a pena e a alegria.
E o mundo nunca mais será,
Pois a sua existência está em nós mesmos.
A vida é um tabuleiro de xadrez,
Onde o destino nos movimenta a todo instante.
E logo, assim que o jogo finda, nos tira do tabuleiro,
E vamos para o cofre do Nada.
Depois de tantos séculos há alvoreceres e crepúsculos
E as estrelas seguem o seu curso infinito.
Pisa suave o barro, pois aquilo em que pisas,
Um dia serviu como sonhos de amor.
Não esqueças que o tempo foge
E cede, à medida que avança pela vida.
Morreu o ontem... Incerto é o amanhã;
Só deve ser importante o hoje.
Quando a morte chegar e cortar o fio da minha vida
Com os meus despojos quero que se fabrique uma jarra.
Quem sabe se ao enchê-la de vinho até a borda,
Eu possa renascer para vida?
Esse cálice de barro, quem sabe se, em tempos longínquos,
Foi uma alegre criatura e as suas bordas,
Onde pousei a minha boca,
Quantos e quantos beijos terão dado e recebido?
O tempo inexorável vai fluindo.
O que aconteceu com Bagdad e com tantas cidades?
A rosa murchou com o roçar da brisa. Sorva o vinho.
E, ao olhar para as estrelas, pensa nos povos que o deserto consumiu.
Ai! Já passou o tempo de meus melhores anos.
A primavera da minha vida se foi
E a ave da minha juventude levantou voo.
Nem sei quando ela veio nem quando foi embora.
Não tentes conquistar a felicidade,
Pois a nossa vida dura tanto quanto um suspiro.
O pó e o vento de tantas vidas, ao sol dançam em redemoinhos.
A vida e o mundo são apenas ficções e sonhos.
Pelo desgastado balcão que é este mundo,
Cujas únicas portas são a noite e o dia,
O que restam dos altivos sultões pomposos e opulentos
Que passaram em um instante e logo se foram?
O alvorecer! Um imenso rubi cintila em cada cálice.
Pega esses dois ramos de sândalo;
De um deles dá-me um alaúde que abrace o outro,
Para que o seu perfume nos brinde.
Sabe que da tua alma será separado
E que passarás atrás do Véu que guarda o segredo do SENHOR.
Sê feliz...! Tu não sabes de onde viestes...!
Sorve o vinho deste instante...! Tu não sabes para onde irás...!
Pela janela pode-se ver que, na sombra do jardim,
A primavera acaricia suavemente as pétalas de uma rosa.
Nada que me digas sobre o passado tem encanto para mim.
Sê feliz hoje; não fales do ontem.
O dia é belo e a brisa é suave; a chuva dissipou o pó
Que manchava a face das rosas.
O rouxinol diz-lhe em sua antiga linguagem:
Embriaguem-se com os cantos alegres e perfumes suaves.
Todas as manhãs o orvalho enfeita o rosto das tulipas,
As violetas inclinam suas cabeças no jardim,
Mas nada é tão belo como a rosa
Envolta em sua roupagem brilhante.
Esta sabedoria é dita cem vezes ao dia:
Compreende neste exato instante da tua existência
Que não és como essa relva que,
Depois de ter murchado, renasce como a primavera.
O vasto mundo: um pouco de pó no espaço.
Todo saber do homem: palavras.
Os povos, os seres e as flores: sombras.
O resultado da tua meditação perpétua: NADA.
Quando nos arrancarem o disfarce de nossas vidas,
Os mundos continuarão impassíveis
Com o nosso ir e vir
Assim como o mar não se preocupa com o vai-vêm das ondasç
Por que devo inquietar-me com o que o futuro esconde?
A desgraça persegue o homem medroso.
Alegra-te e não leves a vida muito a sério:
Os soçobros não alteram o curso do destino.