Moribundo

Estava ali assentado num banquinho de madeira,bem em frente à porta de entrada,com sua bíblia na mão,era o que mais gostava de fazer.

Lia com calma os versículos,depois abria novamente o livro sagrado e, perguntava a quem estivesse por perto.

Diz aí, o que entendeu disso tudo?

Se a resposta não fosse o que ele queria ouvir, ficava irritado e, saia dali direto para o leito, era só o que fazia nos últimos dias de vida moribunda,seus olhos já haviam perdido o brilho,suas mãos trêmulas,quase não sustentavam o próprio peso.

Agonizava cada vez em que lhe era servido uma refeição, a mesma era feita através de uma sonda. Anexada próximo ao estômago,pois o trageto de via normal, já lhe era tomado pela doença. Mesmo assim ainda resistia, andando até a cozinha em busca de algo que lhe desse sustância.

Um mingau,um ovo quente,ou qualquer coisa que pudesse colocar na boca e, sentir o sabor,enquanto o alimento era injetado através da sonda.

Os ensinamentos vindo d`ele sempre os incomodavam, sentiam invadidos,a privacidade era corrompida pelas palavras arrogantes que saiam de sua boca.

Não os viam seguindo aqueles mandamentos, era demais ouvir as palavras.Ver aquele rosto cadavérico lhes dando ordens mesmo quase na hora de sua morte.

Não conseguiam sentir pena, ou qualquer outro sentimento que fosse, guardavam sempre na memória todas a mágoas antigas e recentes,vindas de suas palavras e xingatórios.

Durante toda vida, foi o que ouviram, filha mulher não presta, só serve para parir, dar trabalho ou seja eram consideradas um lixo,sim, pois eram em seis o número de mulheres naquela casa,sem contar a esposa, a quem sofria com todas as palavras, “mal-ditas”.

O trabalho braçal era compartilhado com todos sem exceção , homens e mulheres daquela casa, todos tinham as mesmas tarefas.Quanto a esposa,esta era humilhada a todo instante, nem sequer podia abrir a boca, sua opinião não contava.Vivia chorando uma lágrima sofrida,silenciosa. Uma lágrima ambulante,isto é o que ela era.

Cada filho que nascia, se fosse menina, era motivo de humilhação.Talves seja isto a repugna, não sentir nenhuma pena, ver aquele rosto desfigurado, a espera da morte.

A peregrinação entre o saber da existência da doença, durou menos que um ano, mas o sofrimento foi humilhante, em alguns momentos a revolta era tanta que ele dizia ter vontade antecipar sua partida

Talves pensando em ser atendido do outro lado, com mais carinho do que recebera de seus pais.

Durante toda sua vida trabalhou muito, não arrecadou fortuna, o trabalho era árduo, tanto quanto sua ignorância,a recompensa, talves viesse , se ele a considerasse oportuna,parecia punir-se, pelo que acontecera, no decorrer de sua existência

Inerte àquilo tudo,lá estava ele, a espera de sua partida,enfim este dia chegou,vindo a falecer, na véspera do natal.

Sissapoetisa
Enviado por Sissapoetisa em 22/02/2015
Reeditado em 22/08/2023
Código do texto: T5145753
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