A Função Social do Carnaval (Laís Araújo Moreira)
A FUNÇÃO SOCIAL DO CARNAVAL
Brilho. Música. Dia. Dança. Noite. Mais brilho. Dança. Povo. Pro povo.
Há quem diga que o ano só começa após o carnaval. Há quem diga também, que isso é “festa da carne”. Entre pontos e contrapontos, algo acontece no mês de Fevereiro. As pessoas ficam exaltadas. Os turistas se aproximam. A economia engrandece. Afinal, qual a função social do Carnaval?
Em uma analise inicial, vivi-se em uma sociedade claramente marcada pelas diferenças, sejam elas, regionais, sociais, raciais, sexuais. Muitos acontecimentos foram pensados para reforçarem estas diferenças, brevemente apresentadas. Instituições, códigos, linguagens, escritas foram planejadas para manterem estas diferenças sistematizadas.
Embora a sociedade brasileira seja plural, cultuam-se “símbolos” para manter a distinção, reproduzindo uma hierarquização de papéis sociais pré-estabelecidos por esta sociedade. Criam-se festas de ordem para simbolicamente estabelecerem as desigualdades, bem como centralizar a atenção de determinadas classes.
Em meio a esta realidade, na qual as desigualdades são reforçadas a todo tempo, e em distintos lugares, os/as brasileiros/as, fizeram do evento Carnaval, um estado de exceção a esta regra. Este é o único evento em que os símbolos se invertem ou até, se anulam. No mundo cotidiano, o jaleco de um médico vale mais do que um uniforme de um operário, ao passo que, no carnaval, segundo a formação histórico social, eles valem o mesmo. Eventualmente o carnaval inverte os valores simbólicos afirmados e reforçados pela sociedade. Não haverá hierarquização ou diferença se a pessoa está de chinelo ou sapato social.
Destaca-se a questão racial, que nitidamente, neste momento, é aplaudida. O/a Negro/a passa a ser destaque, como por exemplo, a “Globeleza”, em uma rede de televisão onde todos os apresentadores são brancos, a mulher negra é estereotipara na sua sexualidade com séries, evidentemente, racistas. O gari negro é televisionado nacionalmente. Passam sua imagem como “exemplo” e, sem seu “profissionalismo”, a festa não seria possível.
Além disso, a sociedade brasileira é extremamente conservadora a respeito do sexo e sexualidade. Percebe-se que no carnaval há uma libertação desta imposição fundamentalista. A censura é momentaneamente paralisada. As formas de agir, de manifestar, de comportar, são completamente diferentes das festas de ordem, que marca as distinções. No carnaval não há percepção de tempo, enquanto que na vida cotidiana, regula-se cada minuto. O tempo se anula. O tempo para no carnaval.
Afirma-se, por fim, que por instantes crê-se que não existe miséria. Não existe pecado Nesta festividade, troca-se o uniforme pela fantasia. Vivi-se à fantasia. Vivi-se o mito da igualdade. Quando o carnaval termina, os símbolos sociais voltam a pesar e distanciar novamente.
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DAMATTA, Roberto. Do que faz o brasil, Brasil. Editora Rocco: Rio de Janeiro. 1986