Vernissage

Fomos convidados a vernissage do marido de Sandra. Além da beleza da mulher, ele produz o belo. Este não é mais um dos meus contos. É uma louvação ao ser humano.

Alguém já definiu que arte é o subconsciente de uma sociedade. Já se fez arte com intuito belicoso ou como exaltação a uma personalidade. Mas guerras acabam e guerreiros morrem. Resta a obra.

A arte e o talento não são privilégio de uma classe e sim do indivíduo. Não existe arte coletiva. Existe o talento individual que expõe em forma de arte o que nosso cérebro define como agradável. Como somos seres sociáveis, é natural que muitos cérebros definam um mesmo agradável igual. Perdoe-me o pleonasmo.

A natureza deu diversas plumagens às aves da mesma forma que capacitou os humanos a diferentes buscas do agradável. Em suma, a arte tende, apesar dos percalços, harmonizar e extrair o conceito da contemplação, do porquê do agradável, da paz.

Um arquiteto naval desenha seus barcos tecnicamente. Um artista nos mostra este mesmo barco em sonho. Lafraia é um destes híbridos de arquiteto e artista. Seus Cutt, Cutter, Tallship são de um didatismo impressionante, devido ao detalhamento, ao mesmo tempo que ouvimos o farfalhar das velas ao vento.

Eu vi em algumas salas européias tais quadros. Lafraia consegue a mesma excelência apesar de nossa sociedade não ter a mesma tradição marinha.

Seus quadros marinhos são impressionantes visões fotográficas submersas. Mesmo quando estiliza o Dourado, sentimos o aroma pisciano. Sua técnica semelhante à de Mike English e Giger, prima pelo romantismo do primeiro do que o fantástico do segundo.

Lafraia define alguns de seus trabalhos como gravuras, mas bem poucos conseguem do macro aperfeiçoar os detalhes. Vejam suas “folhagens”. Algumas delas eu vi em um dos Franz Cafè. O verde das folhas é tão real que confundimos gravura com natureza.

Este artista amigo impressiona com seu lado surrealista. Perdoe-me novamente, aqui no caso misturando as escolas. Ele não tem as pinceladas “harmonicamente” caóticas de Pollock nem o “esquartejamento” magistral de Dali. Eu o vejo mais como um colega de Magritte. Ao fecharmos os olhos, é como a se luz apagasse. Este escuro dos olhos fechados é que vejo em seus quadros. E, sempre ao centro, está a luz. Esta como o pensamento, a reflexão de nossas virtudes e compulsões. Ou quem sabe, o lado pesado da existência em volta do nosso anseio de viver. Há balões. Balões que por um momento nos eleva do fardo diário para respiramos a pureza do sossego, sabendo que mais cedo ou mais tarde desceremos para concluir nossa jornada existencial.

Daí concluímos o quê a arte representa ao cotidiano das pessoas. Não a arte massificada e descartável, mas a que permanece. Aquela requintada que extrai os bons sentimentos, as boas maneiras com o próximo.

Cito novamente o artista como indivíduo que existe em muitos de nós. Como vejo aqui no Recanto das Letras, em várias nuances literárias e estilísticas. Começo a crer nesta nova sociedade que se requinta e se esclarece através de artistas como Lafraia . Vejo esta nova sociedade que realmente faz emergir um “Brasil” mais humano e solidário.

Depois de tanta rasgação de seda, vejam se eu não tenho razão quanto ao Lafraia. Visitem o www.flavio.lafraia.com.br

Obrigado

Raferty
Enviado por Raferty em 02/06/2007
Reeditado em 03/06/2007
Código do texto: T511116