O mal e suas representações simbólicas
O texto, "O mal e suas representações simbólicas" de Luigi Schiavo (UCG - GOIÂNIA),com rica apresentação de dados acerca do mal e sua representações, faz uma investigação sobre as concepções do mesmo, personificadas no demônio, a partir do texto bíblico. Mostra a evolução do termo demônio e sua variada terminologia e significados ao longo do Antigo Testamento, sua nova roupagem simbólica no Novo Testamento, com as devidas influências das diversas culturas.
Longe de ser equacionado, o problema do mal continua a espicaçar a mente dos pensadores e críticos. Estamos sempre às volta com o mesmo. Impressionante como este problema e sua personificação no “demônio” ganha terreno e relevância em nossos dias. Creio que o clima de desencanto com a ciência e o clima advindo da pós modernidade tornaram-se um campo fértil para o renascimento da superstição e da magia.
O ser humano, pós moderno, longe de incorporar o ambiente materialista e altamente cientificista das correntes iluministas, racionalistas e positivistas, está fazendo uma volta ao ambiente supersticioso da Idade Média. Acredito que estamos vivendo um tempo de irracionalidade e volta ao universo mítico religioso. A temática do demônio está em alta e muitos até com renomada cultura orgânica crêem na sua existência e buscam exorcismos e orações de enxotamento do mesmo.
Se por um lado há uma multidão incontável dos que crêem na personificação do mal, por outro temos vozes isoladas que a todo custo tentam desvencilhar de sua existência. Há os que dizem que os demônios somos nós mesmos; há os que o teme e vivem uma neurose religiosa de obsecamento pelo escunjuramento do mesmo que é visto e todas as situações; há os que fazem dele o mito de suas vezes e o adoram, oferecendo-lhe oferendas até de seres humanos.
O certo é que estamos diante de um problema que novamente emergem e fustiga os espíritos críticos. Talvez seja a força imaginárias de maior expressão em nossos dias. O diabo está aí, ofertando num menu para todos os gostos. Se por um lado o satanismo emergem como forma alternativa de uma espiritualidade macabra e provocativa, com seus rituais dantescos, por outro o neo-pentecostalismo protestante e católico procura combate-lo com as forças da prática do exorcismo.
Entendo que é um tema que requer uma grande empreitada para tentar entende-lo na sua amplitude. Acredito que uma abordagem que deseja ser abrangente precisa partir do ponto nevrálgico de seu epicentro: a cultura. O mundo passa por mutações profundas e a capacidade de acolhida e compreensão de tais mudanças por parte da sociedade é miúda, causando um tremendo impacto no universo simbólico do coletivo. Isso gera insegurança e cria espaço para a “neurose nuógena”, depressões, desagregação de valores tidos como fixos, etc. Sem capacidade para elaborar tais mudanças, o coletivo se sente inseguro e a necessidade de volta ao “pai” que dá segurança, acaba fomentando o universo religios (a religião está em alta) e a culpa de todos os fracassos e misérias humanas tem um endereço externo: o demônio.
O problema é que a volta a prática ingênua da religião e à formatação do mal na personificação do demônio como agente externo, impede uma visão antropológica adequada da pessoa humana e seu posicionamento objetivo e responsável frente à questão do mal. O demônio fica sendo uma válvula de escape do universo coletivo nos matizes dos mitos antigos - um acomodamento diante de algo tão sério e questionador: o mal. Assim, a solução mitológica fica apenas na intuição inicial do problema do mal, mas não o aprofunda, bastando acomodar-se a esta intuição de solução imediata e mitológica.