FILÉ-MIGNON E CHUPA-MOLHO

Algumas classes sociais como a dos artistas, dos jogadores, dos empresários, e sobretudo, dos políticos, pertencem à classe da sociedade privilegiada que não sentem na consciência, as necessidades mais prementes do povo sofrido em nossa anarquista e corrupta democracia. Assim, todos têm o direito, portanto, como qualquer cidadão comum, de escolher o seu candidato preferido, afinal, a escolha é livre e soberana, ainda que o voto continue sendo uma manobra de troca mesquinha que mais beneficia o poder do que o povo. Por comparação, a nossa democracia funciona assim: o poder se nutre do filé mignon, comprado com o dinheiro do povo. Em troca, o poder doa ao povo as migalhas sociais para que possa se nutrir de chupa-molho. Para que o povo possa se nutrir também de filé mignon, tem que chegar ao poder. Sabemos que o ideal de uma democracia eficiente não é assim: injusta, indecente, desigual. E uma das formas de combater essa ineficiência sociopolítica, já que os três poderes que nos representam são corruptos, é o povo não alimentar a corrupção já enraizada, tendo a consciência decente de não optar por reeleger os corruptos de plantão. A meu ver, seria a principal forma imediata de combater esse mal social silencioso em nossa combalida democracia. A outra forma seria a do eleito exercer só um mandato. E mais outra ainda, uma punição severa para quem metesse a mão no dinheiro público com o fim de enriquecimento pessoal. Podem haver também outras medidas que visem o bem-estar moral do poder pro povo e do povo pro poder, como as reformas políticas, tributárias, etc. Enfim, até agora, o que há em nossa debilitada democracia é o hábito crônico da prática cínica da hipocrisia recíproca, em que, o poder alimenta o povo com o discurso demagógico de palanque eleitoral, apenas pra obter o voto, enquanto o povo, tão habituado à conivência demagógica do discurso enganador, vai sobrevivendo do chupa-molho que o poder lhe doa, usando o seu próprio dinheiro, enquanto o poder vai se deliciando com o filé mignon. Com a palavra, o povo brasileiro, pra mudar essa situação de desigualdade social, de violência moral e física, de marginalização da sociedade, de desinteresse do povo em lutar por uma sociedade mais justa, mais digna, mais igual. Se a força da democracia está na soberania popular, cabe então, a quem constitui o poder, não alimentar-se da imoralidade, mas da moralidade pública.

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 15/09/2014
Código do texto: T4962936
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