Cultura Popular VERSUS Cultura de Massa
As classes pobres sobrevivem à margem da informação, da educação e do erudismo. Em virtude disso as classes pobres buscam em seus passados agregados as migalhas que advêm do alto para criarem uma forma de cultura que atenda as suas necessidades.
Devido à carência no tocante à educação, por mais que se tente aperfeiçoar ou ultrapassar essa problemática real, a cultura criada pelas massas pobres muitas das vezes rica em sentido, lógica em razão, sofre um decréscimo quanto ao seu conteúdo quanto se predispõe ou é colocada, ou descrita e salvaguardada, no papel.
É perceptível o choque da criação, nascida nos moldes coloquial, com a forma culta quando se a passa para a escrita. Os lingüistas denominam essa criação coloquial de código restrito.
Um pesquisador não pode, somente, propor-se a ser um mero espectador de sua pesquisa e relevando os fatos sócio, econômicos e culturais que levam ao criador da cultura popular criá-la. Por isso Jacques Loew propôs a idéia de ser criar uma comunidade de destino, esta, com a finalidade de levar o pesquisador de um mero espectador a um participante de uma cultura de massa.
Salientar essa cultura é mostrar à sociedade que o que baldeia, o que alimenta influencia essa criação é nada mais, nada menos que a fadiga, como observou Simone Weil. O criador nessa cultura protubera em sua elaboração, um tanto queixativo, a sua indignação, o seu pesar, o seu parecer concernente ao seu cotidiano, eventualmente penoso.
É perceptível a apoderação da cultura de massa, popular, pelas classes dominantes afim de por meio dessa obter lucros capitalistas, tornando-se divulgadores e padrinhos das manifestações culturais popular promovendo o comércio desta e denegrindo e apartando qualquer outra que, por mais idêntica que possa vir a ser, mas que por apenas não fazer parte ou subjugar-se a que se deixou dominar pelos organizadores e maestros da cultura dominante, é considerada de inferior qualidade.
Desde longa data é sabido que a história sempre foi escrita pelos vencedores, pelos dominantes por aqueles que possuem controle dos objetos que favorecem o enriquecimento da cultura. Antes dominadores se prendiam à palavra para descreverem a história, usavam seus escribas, historiadores eruditos e alfabetizados para retratarem a história que melhor lhes conviessem. Poucas vezes o soldado no campo de batalha, morto, olvidado era prestigiado com a mera menção o seu nome.
A cultura popular, o folclore, muitas das vezes submetido à aguerrida intervenção das camadas dominantes, não tem dado o prestígio e o merecimento que o singelo operário, pescador, trabalhador, artesão popular, justo ele, o trabalhador incógnito que procura extravasar o cansaço de sua vida produtiva laboral dentro das manifestações folclóricas culturais populares. É como relata a poesia de Vinicius “A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval, a gente trabalha o ano inteiro, por um momento de sonho p’ra vestir a fantasia de pirata ou de jardineira, p’ra tudo se acabar na quarta-feira”.
O testemunho do observador deve vestir-se de respeito à criação limitada, mas nem por isso não criativa e rica de detalhes singelos extraídos do dia a dia do a cria. O constante respeito aos oprimidos e a camaradagem, condizente com o status de pessoas humildes e mesmo subtraída de certos dispositivos e recursos estendem suas mãos àqueles que se encontram em igual condição social. Isso implica mostrar que a pessoa humilde não é desprovida de consciência, e que por mais que as contradições sejam tantas e irremediáveis em certas ocasiões esses homens simples tecem a história dentro da idéia de consciência coletiva Durkenheiminiana.