Resenha sobre a música: OS ARGONAUTAS, de Caetano Veloso
Viajar dentro de nós é bom e brincar de refletir é fabuloso e faz crescer.
Essa bela canção do Mestre Caetano tem um título que nos remete ao mito grego desse mesmo nome: OS ARGONAUTAS. A história conta que um grupo de heróis percorre os mares com a finalidade de cumprir uma missão extremamente difícil. Tinham que achar um objeto raro e sagrado que era o velocino de ouro, talismã que garantia poder a quem o conquistasse. O mais interessante é que nessa busca atingir o triunfo era mais importante que sobreviver.
Quem conhece sabe que a canção nos lembra um “fado” e isso não é por acaso. No refrão vemos um dos textos mais conhecidos do português Fernando Pessoa: “Navegar é preciso. Viver não é preciso”. Pessoa também falava das aventuras dos marinheiros portugueses da época das grandes navegações, em que o chamado do mar era também mais forte que a própria necessidade de garantir a sobrevivência.
Ele é da opinião que mesmo enfrentando os maiores perigos, os marinheiros realizaram façanhas das quais toda a humanidade pode se orgulhar, dentre essas o processo de ocupação e colonização do Brasil, mas nesse caso, há dois lados para se olhar, se não fosse pelos portugueses com certeza não seríamos o que somos, ao mesmo tempo houve uma falta de respeito e consideração total aos verdadeiros donos da terra. Ih... essa conversa “dá muito pano para a manga”, talvez eu esteja saindo um pouco do tema da música, mas o bom é isso mesmo... podermos viajar e viajar e viajar...
De qualquer forma, o tema principal da canção é a navegação e os navegantes que colocam os seus objetivos acima da própria vida... Não dá para deixar de tocar num ponto extremamente instigante relacionado ao termo “navegar”, este que tem um potencial metafórico muito forte e pode ser interpretado como a coragem de enfrentar os desafios da existência. Fala-nos da importância em rompermos com a mesmice, com a rotina e nos convida a aproveitar a vida ao máximo. Por outro lado, viver seria passar pela existência sem aceitar tais desafios, ter uma postura mais confortável, ainda que menos interessante.
Ainda podemos fazer a interpretação relacionada ao termo “preciso” com o sentido de “exatidão”. Navegar é “preciso” pois se tivermos, no mínimo, uma bússola saberemos exatamente para onde estamos indo, quanto a “viver”, bem aí não dá para dizer o mesmo, nesse caso a vida é tão imprecisa que só muita sabedoria para irmos resolvendo as coisas à medida que estas vão aparecendo, pois não temos o controle de nada... Somos livres e podemos escolher sim, claro... mas dentro de certas possibilidades...
Abaixo a letra e o endereço para quem desejar escutá-la, é só copiar e colar!
Forte Abraço,
Anienne Nascimento
OS ARGONAUTAS
O Barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O Barco!
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O Barco!
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso.
(In: VELOSO, Caetano. Chico e Caetano, juntos e ao vivo, Polygram,
1969.)
http://www.youtube.com/watch?v=1sXg-XcP9wM