Resenha de artigo acadêmico.
As múltiplas faces do Brasil em curta metragem, in Multiletramentos na escola, ROJO, Roxane Helena, MOURA, Eduardo [orgs]. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
Por * Gonesa Souza Moreira Gonçalves
“As mudanças tecnológicas relacionadas ao processo de globalização, no campo de informação e comunicação, impõem à educação escolar, sobretudo, no ensino e aprendizagem da língua portuguesa desafios para formar o aluno e prepará-lo para as demandas da vida, sem perda da ética plural e democrática”. Essa é a proposta apresentada por Roxane Rojo, doutora em linguística aplicada ao ensino de línguas pela PUC-SP e professora do curso de letras e do programa de pós-graduação em linguística aplicada do IEL/UNICAMP, onde é chefe do Departamento de Linguística Aplicada (DLA). Propondo uma formação dinâmica no campo de informação e comunicação, que é um crescente referencial na construção de ideologias, a mesma traz exemplos de como o professor pode lidar com a gama de textos que circulam desenfreadamente nas redes sociais e utilizá-los a seu favor num planejamento social, cultural e pedagógico.
Num primeiro momento a autora relata a grande circulação e diversidade de objetos midiáticos, textos que circulam nas redes sociais sem nenhum tipo de restrição e de todos os gêneros sem classificação e com conteúdos diversificados. Especula-se que há influências desses objetos midiáticos na formação de discursos. A partir desse conceito é lançado o questionamento acerca de que enfoque o professor de língua materna irá adotar para a formação do senso crítico do aluno que esta exposto a múltiplos modos de produção e interpretação de discursos. Isso configura a preocupação de Roxane com a formação crítica do aluno, voltando a sua atenção não só para a cultura global dos textos que mais circulam e são prestigiados com maior atenção de um número maior de leitores, mas para a cultura local, propõe um cotejo entre esses dois tipos de mídia para sua formação cidadã.
Na segunda seção há uma breve exposição do termo multiletramentos, que é utilizado para denominar as práticas de letramento em diversos contextos sociais. O discurso na formação do sujeito é focalizado em diversos campos socioculturais, a fim de expor a importância das relações ideológicas, que a autora cita usando o termo “vozes”. Essas “vozes”, segundo Rojo, devem ser devidamente orientadas nesse processo de solidificação do aprendizado crítico do aluno. Ao longo do texto ela aborda a grande contribuição de Bakhtin, com seu principio organizador nas esferas de produção, circulação e recepção. Tal proposta promove a compreensão e o funcionamento do discurso nas relações ideológicas. As relações ideológicas foram citadas na seção anterior pela autora como vozes, ela propõe a aplicação da teoria Bakhtiniana no campo de letramento e ensino da língua materna focalizando o campo midiático como objeto de estudo e adequação do professor de língua materna. Na terceira seção é proposto um plano de aula para a criação de um documentário. Os produtores do documentário seriam os alunos, Rojo propõe uma exposição dos alunos a imagens de nação idealizada, ou seja, as mídias que carregam uma visão preestabelecida de Brasil e ao mesmo tempo, eles seriam expostos a imagens do seu cotidiano, da cultura local. Tal confronto de ideias expostos nas mídias, proposto pela autora, é de grande importância para a formação crítica do aluno e é uma proposta de quebra de ideias pré-estabelecidas, as quais esses alunos são expostos todos os dias sem policiamento necessário para a formação da cidadania educacional.
O texto é muito importante para os professores e alunos que se interessam pelos estudos e letramentos em língua materna, pois traz uma proposta de organização educacional flexível, contemplando as diversas mídias, que abarcam diversos gêneros, proporcionando aos alunos uma maior compreensão de gêneros escritos e interpretação de múltiplos tipos de linguagem.