A EDUCAÇÃO À LUZ DA SOCIOLOGIA
O texto “Educação e Sociologia”, de Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia como disciplina científica, faz uma abordagem especial da educação como sendo uma prática social. Atribui a ela a socialização da criança. Enquanto educador e sociólogo, o autor diz que constituir um ser social, a partir do individual, é o objetivo da educação. Traz a afirmação de que é possível individualizar socializando. Muitas vezes, ao longo do livro, segue provocando resistências com muitas de suas afirmações.
Na introdução da obra o autor vai discorrendo sobre o vínculo existente entre educação e sociedade, apresentando a Psicologia como uma possível via de acesso pela qual pode ser abordado o estudo da educação. Unida à Sociologia, aquela colabora para a educação oferecida a uma sociedade, segundo a perspectiva de Durkheim, criando um ser sociável, ajustado ao que o meio possa exigir.
Em suas considerações, levanta a discussão sobre a evolução da criança como resultado do meio em que está inserida, não sendo, portanto, a obra resultante apenas da ação dos professores, o que nos leva a refletir sobre a nossa formação como sendo pela sociedade, através da educação.
Num comparativo da educação em épocas e contextos distintos, percebe-se que a educação fica limitada às características pertinentes a cada uma delas (religião, economia, política) e isso faz com que a individualidade seja questionada. Ora, se isso ocorre então se pode concluir que há vários tipos de educação, uma para cada sociedade, quando ela deveria estar acima das vontades individuais, preocupada em formar culturalmente, quando menciona formar o espírito, e não apenas preenchê-lo.
Trata da educação moral, como ferramenta necessária ao desenvolvimento da criança, ensinando-a acerca dos seus direitos e deveres, o respeito ao outro, falando da humanização do indivíduo, que deve ser preparado para o convívio social, por meio do aprendizado. Mas isso evoca a questão da moralidade repassada ao indivíduo voltada para o que cada sociedade entende como tal, de acordo com os modos e costumes observados em cada uma.
Durkheim passa ao capítulo seguinte, que trata da natureza e do papel da educação, onde tenta definir a educação de forma universal, citando conceitos de outros autores, como Kant, que fala de perfeição ao tratar do tema. Também cita James Mill, que fala de transformação do ser para a felicidade. Enfim, a educação variou em conformidade com o que se passava em distintos tempos e países, conforme apresenta contextos que objetivavam educar buscando um determinado ideal.
Finalmente, na tentativa de se conceituar educação, é necessário considerar sistemas educativos, fazendo comparações, identificando os aspectos comuns. A educação, segundo o autor, entende-se como a ação de adultos sobre a geração mais jovem, considerada ainda imatura para a vida social. É papel da educação, como mencionado anteriormente, se utilizar de meios para formar a criança, satisfazendo, assim, necessidades sociais. A educação desempenha um papel coletivo. Recebe a criança com o objetivo de torná-la apta ao convívio social, devendo o professor lembrar que, ao ingressar na escola, a criança carrega uma formação advinda do núcleo familiar e que deve ser realizado trabalho para a consecução da harmonia entre esses meios de convívio.
E nesse campo entra a ação do Estado, que não detém poder suficiente para intervir na educação considerada como privada e doméstica, quando se trata dos direitos da família, mas que tem papel importante, sendo sua a responsabilidade de oferecer escolas, bem como monitorar seu desempenho, garantindo à criança uma educação de qualidade, onde a capacitação do professor é fundamental.
Quanto ao poder da educação, o texto traz passagens que indicam o papel do professor na educação da criança, influenciando no seu desenvolvimento, modelando-a, fazendo um comparativo do processo educacional à ação hipnótica, sugerindo que o professor tem o poder de manter a criança submetida à sua autoridade. O professor passa a ser entendido como um ser superior. Chega a mencionar a autoridade moral como principal qualidade do educador.
A educação como a ação exercida sobre a criança traz ao texto a temática da Pedagogia, entendida como as teorias que explicitam as formas como se dá a prática da educação, o meio de estudo dos fundamentos da educação. Trata-se de práticas voltadas para a experiência do professor em contato com a criança, no exercício da sua profissão. Apresenta como incontestável a atribuição de qualquer autoridade à Pedagogia, ao considerar outras áreas, às quais se relacionam entre si, com bases científicas incertas e incompletas. E conclui que o papel da Pedagogia é ultrapassar as imperfeições da ciência, empregando-a para prevenir riscos na ação do processo educativo.
O autor faz uma abordagem ao tema Pedagogia e Sociologia, afirmando que a Pedagogia depende muito mais da Sociologia do que de qualquer outra ciência. A Sociologia é determinante no alcance dos fins que a educação deve buscar e tem papel importante na escolha dos meios. Ela só não pode apresentar processos prontos, mas dá direcionamentos, uma vez que funciona como parte do processo, auxiliando na escolha dos meios para o alcance dos fins, que são sociais.
O livro aborda um tema discutível, podendo ser bem aceito por profissionais não só da educação, mas por todos aqueles que tenham interesse em conhecer para, quem sabe, até propor novas ideias ou sugerir novos conceitos acerca dessa temática que envolve várias áreas. Pode ser que tenha maior aceitação por pedagogos e outros profissionais de áreas afins, mas isso não é impedimento para que quaisquer profissionais, estudantes e pesquisadores interessados na discussão possam se deleitar numa leitura não tão simples, mas rica em aprendizado.
Referência do Livro Resenhado
Durkheim, Émile. Educação e Sociologia. Tradução de Stephania Matousek. Petrópolis-RJ, Vozes, 2011. (Coleção Textos Fundantes de Educação.