Música Morocha

RESENHA –MÚSICA MOROCHA

A letra da música Morocha composta por Davi Menezes Jr. apresenta o tema mulher, sexualidade e amor, num misto de desabafo para com o tratamento das mulheres. Na primeira estrofe o sujeito já demostra através de uma confirmação que é a mulher que se achega ao homem, mostrando-se dessa forma que tal ato seja deselegante para não dizer vulgar. Confirma então o título que é uma mulher morena, mestiça ou crioula.

O eu lírico da música até tenta se justificar, que só adere a essa prática porque foi criado em um inferno, na lida bruta com os animais, no manejo de potrancas e éguas, como se tivesse aderido à teoria de Rousseau.

Continua dessa forma com um linguajar chulo e agressivo, usando metáforas e insinuações para denegrir cada vez mais a imagem da mulher, e comparar assim um ato delicado, romântico e carinhoso como um simples copular dos bichos, e que quem domina a situação é ele, comprovando então sua superioridade em relação ao gênero feminino porque a puxa na cincha e pratica as mesmas regras do campo, da estância em que está acostumado a lidar com os bichos.

Segundo D’ávila (1964, p. 21), determinados acontecimentos, comportamentos, manifestações ideológicas, políticas, sociais e econômicas de tempos e espaços se enraízam profundamente no texto literário, nesse caso a letra da música. Assim sendo, o estudo desse tipo de texto permite ao leitor observar essas peculiaridades do passado e relacioná-las com o presente, a fim de melhor comunicar-se ou interagir em seu meio de convívio. Então, a obra literária tem importância quando usada como uma espécie de jogo que simula os conflitos do mundo empírico e convida o leitor aos desafios do ato de ler. Ler literatura, nesse sentido, é imergir num universo imaginário organizado, carregado de pistas que o leitor deve seguir a fim de atribuir, dentro de seu universo existencial, um sentido peculiar. A literatura e a leitura, portanto, possibilitam aproximar saberes ou vivências distanciadas pelo espaço ou pelo momento histórico, no caso a colonização e a cultura do Rio Grande do Sul.

Por fim a voz masculina e machista da música se arrisca em dizer que é carinhoso, mas incompreendido e dá a última cartada, que é para o bem das mulheres e as aconselha para o bem.

Ilza Ribeiro Gonçalves

Graduada em Letras pela Unioeste/Cascavel. Professora de Língua Portuguesa e Literatura do Colégio Estadual Desembargador Antônio Franco Ferreira da Costa, Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, inserida no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2009-2011.