Cavalgada ambígua
CANDIDO, Antonio. Cavalgada ambígua. In: ___. Na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996. 15 páginas
Antonio Candido analisa Meu Sonho, poema de Alvares de Azevedo, localizado na terceira parte da lira dos vinte anos. O poema é escrito na forma de um diálogo entre o Eu e O Fantasma. É a descrição de um sonho, segundo Candido, onde se percebe a angústia motivada pela frustração de aspirações, personificada na figura de um cavaleiro que galopa por meio do reino da morte. Este é um primeiro sentido que será confirmado pela análise do nível estético da obra. O Eu é um observador que mostra o que está ocorrendo. Em Meu sonho a tonalidade é noturna, em que o vocabulário e a sintaxe são simples, além de conter uma “sonoridade expressiva”. Devido a divisão das estrofes, o poema apresenta um certo desequilíbrio, sendo este restabelecido no nível do esquema rítmico. O ritmo representa não só o galope d’ O fantasma, mas o fôlego de angústia do Eu.
Bem de conforme ao espírito romântico, valorização do mistério, que considera o inexplicável e tem predileção por sentimentos indefiníveis, este lado noturno está de acordo.
Antonio Candido aponta para o fato de que Meu Sonho se parece com uma balada. No entanto, Alvares de Azevedo revela sua originalidade, compondo uma narrativa interior, em que demonstra um drama vivido pelo emissor, sendo que o elemento dialógico corresponde aos desdobramento da alma. Por fim, Candido conclui mostrando o dilaceramento do Eu, encoberto pela enunciação d’ O fantasma, em que o amor é visto como angústia sexual.
Nesta análise do poema Meu Sonho, de Alvares de Azevedo, em todo texto Antonio Candido faz comparações entre os elementos estéticos presentes na obra e a corrente na qual se contextualiza.
O ensaio foi escrito em bom nível de qualidade intelectual. Com um estilo conciso e coerente, o leitor é levado a identificar os elementos apontados, acompanhando passo por passo os desdobramentos da análise feita do poema.
A leitura deste ensaio é de fundamental importância para estudantes do curso de Letras e curiosos em literatura em geral.
Antonio Candido nasceu no ano de 1918. Crítico e ensaísta brasileiro, foi autor da primeira análise sistemática da literatura brasileira, cujo resultado é o livro Formação da Literatura Brasileira (1959). Teve sua estreia como crítico na revista Clima, da qual foi fundador, e no jornal Folha da Manhã, em São Paulo. Também coordenou o Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, e membro atuante na fundação do Partido dos Trabalhadores. Lecionou na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista. Quando se aposentou era professor de Teoria literária e Literatura comparada da Universidade de São Paulo. Grande parte de sua obra está traduzida para o inglês, o francês e o espanhol. Entre seus livros destacam-se Literatura e sociedade (1965), Teresina etc. (1980), A educação pela noite (1987) e O discurso e a cidade (1993). Em 1998, recebe o Prêmio Camões.