- Qual o Segredo da Sua Mala

Durante o período de férias nos dedicamos a descansar a mente e passear por outros lugares. Existem diversas maneiras de aproveitar esse tempo de descanso e a leitura está entre uma delas. A internet nos fornece milhares de formas para que possamos aproveitar de artigos, textos e até mesmo livros, não sendo necessário, portanto, sair de casa para obter obras incríveis. Foi durante um “passeio” pela internet, que tive o prazer de esbarrar no projeto do fotografo Jon Crispin, conhecido principalmente pela sua paixão por temas diferentes, dentre eles a curiosidade por manicômios abandonados.

O trabalho de Jon Crispin consistiu em fotografar cerca de 400 malas encontradas no manicômio Willard Asylum For The Chronic Insane (Asilo Para Cronicamente Insanos De Willard), lugar este que funcionava desde 1869, fechando suas portas em 1995. Em 1975 o asilo passa a ser patrimônio histórico dos Estados Unidos. Foram encontradas centenas de malas que pertenciam aos usuários que por lá passaram e que provavelmente lá morreram, malas carregadas de lembranças e histórias, tornando-se assim objetos do acervo do Museu do Estado de Nova York, para acesso da população.

O Willard Asylum for the Chronic Insane era mais um dos inúmeros locais onde as pessoas eram mantidas excluídas da sociedade. Não precisam mostrar sintomas de perturbações mentais, bastavam não entrar no grupo de pessoas “normais” segundo as normas da sociedade. Pessoas deprimidas, gays, pobres, negros, prostitutas, mendigos, pessoas essas que precisavam ser mantidas longe, possivelmente passaram mais da metade de suas vidas presas e afastadas do mundo.

Willard Asylum for the Chronic Insane

Não diferente de outros asilos, o Asilo Para Cronicamente Insanos De Willard também utilizava de formas rudimentares para o tratamento de seus internos. O asilo fechou na época em que tais formas de tratamento foram consideradas desumanas e cruéis.

Segundo alguns estudos, foi através da reforma psiquiátrica que, pode-se iniciar a luta pela extinção de locais como o Asilo Para Cronicamente Insano De Willard. A luta antimanicomial consiste principalmente em lutar pelos direitos da dignidade aos pacientes psiquiátricos, “luta essa com um olhar para o ser humano como sujeito de todas as ações, tendo como princípios a desinstitucionalização do manicômio” (LEAL, s/p, 2012). A reforma psiquiátrica visa modificar o sistema de tratamento clinico da doença mental, eliminando como forma de tratamento a internação e exclusão do paciente da sociedade.

O trabalho do fotografo Jon Crispin nos proporciona uma viagem pelo passado desses pacientes que tiveram suas vidas eliminadas de uma sociedade munida de pré-conceitos. Cada mala registra a simplicidade, os sonhos e os desejos de cada um dos internos, que foram mantidos guardados, na esperança de que um dia eles pudessem finalmente voltar para suas casas, para uma vida normal. As fotografias foi um tipo de resgate à lembrança dessas pessoas que por lá foram esquecidas.

São imagens como essas, de uma realidade mantida por anos escondida, que nos fazem refletir sobre a nossa maneira de encarar a loucura, a nossa mania de deixar que nossos pré-conceitos dominem toda uma história. Lugares como esse asilo ainda existem por aí, cabe a nós lutar para que eles sejam excluídos de nossa história e que sejam lembrados apenas como um erro que não deve se repetir.

Fonte: http://somentecoisaslegais.com.br/curiosidades/fotos-de-malas-de-hospicios

LEAL, D. Reforma Psiquiátrica. 2012. Disponível em http://enfprofdiegoleal.blogspot.com.br/2012/03/resenha-critica-reforma-psiquiatrica.html. Acesso em 21 de jan. de 2013.

Imagens: http://joncrispin.wordpress.com/tag/willard-suitcases/