Vinte e Nove
“Perdi vinte em vinte e nove amizades, por conta de uma pedra em minhas mãos.. Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes...”
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Prisioneiro de escolhas, com dias cada vez mais curtos, onde me imaginei aos 29 anos? A beira dos trinta, parece uma barreira, um divisor...
Por vezes penso que deveria ser diferente, estar diferente, e ao mesmo tempo não me imagino em uma vida distinta da que tenho hoje...
Tenho saudades.. Ah.. Que saudades de tempos que não voltam, de pessoas que já não vejo, de sensações e sentimentos que se perderam em anos vivendo numa velocidade que nossa mente e nosso coração não foram feitos para viver...
Saudades da vida mais simples... De passar as férias na minha avó, de não ter mais preocupações, a não ser não perder esse ou aquele programa de TV que gostava muito... De rir de tudo e de nada com minha irmã, e falar e se entender praticamente com o olhar... Ainda temos isso, mas hoje tenho que me contentar com “as vezes” o que já foi todo dia.. Quando os caminhos se separam, e os kilometros percorridos são demasiados grandes, algum dia as estradas voltam a se encontrar?
Saudades de não me preocupar com o dinheiro no fim do mês... Nem com as metas que preciso bater... Saudades de achar que ainda tinha muito tempo pra fazer tudo que eu quero fazer...
Quando os dias se tornam mais curtos.. O tempo parece menor... Como dar conta de satisfazer a mim mesmo, se o comum não me basta? E nunca bastou....
As vezes pareço assistir da janela enquanto a vida passa, e tudo passa tão rápido, e o tapete voador do calendário me deixa com a sensação de que a vida disputa comigo uma corrida que eu não posso vencer...
Já amei pessoas que me decepcionaram e decepcionei pessoas que me amaram... As vezes me acho mais sincero do que deveria, mais transparente do que gostaria.. Quando as virtudes passaram a ser defeitos?
Sinto saudades do que foi, as vezes demoro a agir no presente e tenho um insensato medo do futuro... Nunca fui perfeito, mas eu não fico satisfeito, em sentir o que eu sinto, se o que eu sinto fica só no meu peito...
E se milhares de musicas, filmes, livros, não reproduzem a amplitude do que eu tenho visto, não vou mentir pra mim mesmo, acreditando que esse texto é capaz de expressar tudo isso....
“Seja onde for uma lágrima de dor Tem apenas um sabor e uma única aparência. A palavra saudade só existe em português, mas nunca faltam nomes se o assunto é ausência... Tas a ver, o que eu estou a ver? “
Me contento com isso, saio de cena, volto, paro, choro, vivo...
Mas eu luto... Nem sempre acerto no que faço, mas meu pai me ensinou a assumir as responsabilidades e encarar de frente as conseqüências das escolhas que fiz, assim sigo, cicatriz por cicatriz...
Já errei, já acertei, por caminhos tortuosos, qual guerreiro em batalha, vi que só quando se desiste que a guerra é perdida, recomeçar não é fácil, mas pra quem sabe olhar pra trás nenhuma rua é sem saída...
Eder Silva
“E aos vinte e nove com o retorno de saturno, decidi, começar a viver.. E vinte e nove anjos me saudaram.. E tive vinte e nove amigos outra vez....”