Vingança polifônica
Título provocativo. Pensemos aqui a arte como recurso perfeito para a execução de algo, já que realmente os escritores são vingadores em excelência. Sabem vingar-se enquanto percorrem o caminho do indizível e invisível. Eles – os escritores – trilham caminhos inimagináveis, resgatam sentimentos sequer declarados, mas o faz de maneira exímia a ponto de os olhos desavisados nem perceberem.
José Fernandes faz isso, pois possui uma dosagem adequada de ironia em suas crônicas, além de trazer outras vozes para seus textos a fim de corroborar seu pensamento e elucida a polifonia de Bakhtin em que o “eu” do outro é afirmado não como objeto, mas como outro sujeito. Tudo isso ocorre, como podemos perceber na crônica “A arte da vingança” no mesmo instante que se discute o gênero contemplado, bem como a temporalidade da crônica justamente como estratégia para declarar sua vingança. Para o cronista, a arte tem sim sua função, pois caso contrário, por que escrever?
Penso que quem já ousou alguns escritos, naturalmente tenha se vingado de alguém ou instituição, por mais que seja – talvez – uma vingança inútil, conforme salienta JF, mas essa arte é quase obrigatória.