FAMÍLIA NUCLEAR E TERAPIA DE FAMÍLIA: CONEXÕES ENTRE DUAS HISTÓRIAS- (principais tópicos do artigo)
FAMÍLIA NUCLEAR E TERAPIA DE FAMÍLIA: CONEXÕES ENTRE DUAS HISTÓRIAS-
NUCLEAR FAMILY AND FAMILY THERAPY: CONECTIONS BETWEEN TWO HISTORIES
Edna Lúcia Tinoco Ponciano*
O campo da Terapia de Família, atualmente, é caracterizado pela diversidade.
Como se forma a família nuclear na modernidade? Como a intervenção terapêutica se relaciona com este modelo de família?
A família, determinada por um contexto socio-histórico, o da modernidade, é caracterizada pelo casal em torno dos filhos (família nuclear).
“surto de sentimento”, ocorrido desde o século XVIII, fazendo desaparecer a família tradicional. Esse surto se desenvolve em três áreas: namoro (caracterizado pela busca de felicidade e desenvolvimento individual), a relação mãe-bebê (que passa a se caracterizar pelo bem-estar do bebê acima de tudo) e a relação família comunidade circundante (os laços entre os membros da família reforçaram-se, caracterizando a “domesticidade” e definindo até o século XX a divisão entre público e privado).
A família não tem mais um script definitivo para orientar os papéis de seus membros, mas terá de construí-los a cada momento, com ajuda do saber especializado (Figueira, 1987).
A FAMÍLIA NUCLEAR E A TERAPIA DE FAMÍLIA
A Terapia de Família, orientada pela Teoria dos Sistemas (anos 50 e 60), é, quase exclusivamente, influenciada pelo modelo de família nuclear.
Uma das principais fontes iniciais de questionamento e transformação para a Terapia de Família encontra-se no movimento feminista (a partir da década de 80)
Salvador Minuchin Psiquiatra argentino radicado nos Estados Unidos, é um dos pioneiros da Terapia de Família e defensor de uma proposta terapêutica que se mantenha estreitamente ligada a uma idéia de família
A família tem dois objetivos: “Um é interno – a proteção psicossocial de seus membros; o outro é externo – a acomodação a uma cultura e a transmissão dessa cultura.” (Minuchin, 1990a, p.52).
Família é entendida como um sistema aberto em transformação, semelhante a um ser vivo, tendo como conseqüência a ênfase deslocada do indivíduo isolado para a relevância da relação.
Pensar situações de recasamento e de casais homossexuais já é fruto de um outro momento histórico da Terapia de Família,
A Terapia de Família considerada feminista, durante os anos 80, oferece uma interpretação renovada quanto à ligação entre as interações dos membros da família e o sistema social mais amplo. Busca relativizar, assim, a família nuclear, apontando para
outras formas, como famílias monoparentais, famílias compostas por homossexuais e seus filhos, entre outras.
Teoria sobre os Sistemas Familiares de Bowen (voltada para o passado e a família de origem – campo emocional que abarca três gerações).
SEM FAMÍLIA, NEM ESPECIALISTA
A crítica, referendada por Minuchin (1991; 1998), é ao abandono da possibilidade de se sistematizar teorias, baseando-se na constatação de que não há realidade “em si”. Abre-se mão da idéia de verdade, já que não pode haver sistemas teóricos explicativos, restando a experiência, os discursos, a linguagem e a conversação entre o terapeuta e seus clientes.
O terapeuta, ao atender um pedido de ajuda (“mude-nos sem nos mudar”), procurará ampliar as alternativas do sistema, desafiando as regras estabelecidas ao mesmo tempo
que ataca o equilíbrio (a homeostase) familiar, criando crises e levando ao desenvolvimento de outra organização, que funcione melhor (Minuchin, 1990b). Ao estabelecer um desequilíbrio, o terapeuta muda as relações hierárquicas familiares. Para tanto, Minuchin vai fazendo alianças com membros específicos da família, alternadamente.
Terapeutas de família, produtos de sua própria cultura, devem guardar-se por isso mesmo contra impor modelos que lhes são familiares, assim como as regras de funcionamento que lhes são familiares.
O saber do especialista deve, por conseqüência, conformar-se aos “dramas familiares” e sua avaliação deve ser vinculada aos objetivos terapêuticos, visando à autonomia, e não à confirmação do seu saber.
Ao trabalhar com crianças difíceis e pais ineficientes, sempre tenho de refrear meu impulso de assumir o controle. Parece tão fácil dizer: “Johnny, não faça isso” e ele irá parar. Mas eu sei que a minha capacidade de fazer os filhos de outras pessoas responder não me dirá nada sobre o seu drama cotidiano de impotência e desespero. Isso somente me dirá alguma coisa sobre a minha capacidade com os filhos dos outros.
A leitura do texto muito mais que explicativa trás novas perspectivas, e questionamentos sobre a terapia familiar na atualidade, tais como:
Será que esta compreensão mais recente significa o desaparecimento da família como a entendida por Minuchin? Será que estamos também diante do desaparecimento do especialista? Em que se estão transformando os terapeutas de família sem ter a família como conceito central? Se não há mais uma necessidade de um saber especializado, haverá a necessidade de um espaço para o especialista como a terapia?
Mas apesar das mudanças: O modelo nuclear continua presente, marcando, por exemplo, o desejo de casais homossexuais em terem filhos, assumindo papéis parentais e dividindo tarefas à semelhança de uma família conjugal.