Teresa de Jesus e a Inquisição, anotações sobre o estudo de Agustina González Álvarez

Estas anotações se referem ao estudo elaborado por Agustina González Álvarez, intitulado Teresa de Jesús y la Inquisición. O objetivo destas anotações (uma espécie de fichamento ou de resenha) é o de conhecer aspectos da vida e da obra de Teresa de Ávila. As abordagens de Agustina abrangem uma introdução na qual a pesquisadora coloca as bases e intenções do seu estudo e, ainda, as seções do texto em destaque: Nossos personagens e seu entorno (A Inquisição e Teresa de Jesus, descendente de judeus?); Primeiras acusações à Inquisição (Informações diante do Tribunal de Córdoba-1574/75, Gestões no Tribunal de Valladolid-1575; e Acusações perante o Tribunal de Sevilha); Gestão Inquisitorial em torno dos livros escritos por Teresa de Jesus (subdividida em Livro da Vida e livros impressos).

No texto introdutório, Agustina González Álvarez situa seus personagens e objeto de estudo na Espanha do século XVI. Portanto, a autora lança seu foco de atenção sobre Teresa de Cepeda y Ahumada e sobre a Inquisição. Na palavra da pesquisadora Teresa e a Inquisição estiveram juntas durante bastante tempo, pois a Inquisição, criada no século XV, de forma direta ou indireta seguia intervindo zelosa e vigilantemente na vida religiosa do povo espanhol. Ainda inclui que a Inquisição tratou duramente tanto Teresa quanto outros de sua época e foi isto um motivo que, contraditoriamente, serviu para fortalecer sua a vontade, caráter e personalidade.

A pesquisa de Agustina González Álvarez se fundamenta em fontes bibliográficas, a exemplo destas (entre outras) agora apontadas: BENNASSAR, B. La España del siglo de Oro. Barcelona. Crítica 1983; CORTÉS PEÑA, A.L. "La Castilla de Santa Teresa". Santa Teresa y su época Cuadernos Historia 16 nº 110 (pp 4-9); CHAUNO, P. La España de Carlos V. Barcelona Península 1976; DI FEBO, G. La Santa de la Raza. Barcelona 1988 (Traducción: Sánchez-Gijón, A); DOMÍNGUEZ ORTÍZ, A. "Los judeoconversos en la vida española del Renacimiento" Actas de las jornadas de estudios Sefardíes. Cáceres 1980, pp. 190-191; EFRÉN M.D. y OTGER STEGGINK. Obras Completas de Santa Teresa de Jesús. B.A.C. 1982; VIGIL, M.D. La vida de Las mujeres en los s. XVI y XVII. Siglo XXI. Madrid 1986.

A perspectiva do trabalho de Agustina, a autora o afirma, é histórica e não doutrinal. Ao final da introdução, a pesquisadora adianta que mais uma vez foi possível comprovar como a natureza humana dos acusadores se revestiu de debilidade, deixando-se levar pela inveja, a soberba e a ansiedade em puxar para baixo os que estão no topo da montanha.

Teresa de Jesus nasceu em Ávila, no dia 28 de março de 1515. A partir daí, Agustina relaciona fatos que se estendem até o dia 4 de outubro 1582 Em 15 de outubro ocorreu a reforma gregoriana do calendário.

Quanto ao entorno em que estão Teresa e a Inquisição, esclarece a pesquisadora, era o de uma Europa apartada em duas metades religiosas advindas da ação de Martinho Lutero. O rei Carlos V experimentara as consequências de ordem política da heresia protestante. Esse rei repetia para o filho as advertências sobre as consequências da heresia protestante e que seria necessário impedir que as dissensões religiosas minassem a Espanha.

Agustina frisa o detalhe de que A Inquisição, tribunal estabelecido na época dos Reis Católicos (de 1480 a 1834), verificava criteriosamente a entrada de livros luteranos, evitando assim que o herege colocasse em questão o juízo da fé que ameaçara com a subversão o corpo social da Espanha católica. Foi uma fase em que a Inquisição atravessou profundas preocupações.

"Se había puesto en guardia ante los descubrimientos de focos iluministas y alumbrados, que bajo pretexto de vida de oración y piedad se entregaban a la práctica de una vida poço moral. En Extremadura se había localizado en el año 1565 uno de los núcleos más importantes de los alumbrados. Bajo la apariencia de una piedad inexistente y una vida de interioridad y comunicación con Dios, sus miembros se entregaban a prácticas indescriptibles; la mayoría eran mujeres. A esto se añadía el que muchas mujeres que parecían santas fueron declaradas burladoras y herejes. La Inquisición castigó con duras penas a personas acusadas de tales delitos. Desde mediados del siglo XVI vivía en el pensamiento de todos el caso lamentable de Magdalena de la Cruz y de otras famosas embusteras, cuyas sutilezas y ardides estuvieron a punto de burlar a los mismos agentes inquisitoriales". (p.3)

No que diz respeito à cidade natal de Teresa de Jesus, Ávila, consta que existia uma justificada prevenção contra personagens e instituições cuja vida particular ou cuja atuação ultrapassavam os limites do normal e do corriqueiro, como foi o caso de uma religiosa do convento de Santa María de Gracia, que, apesar de não ter estudos, demonstrava o dom das línguas e, também, o de Dª Guiomar de Ulloa, a quem Teresa de Jesus conheceu pessoalmente.

Esses e outros eventos foram detidamente observados pela Inquisição, especialmente fatos incomuns envolvendo pessoas que discorriam sobre experiências/vivências relativas a fenômenos a exemplo de visões e revelações sobrenaturais. Era, pois, normal que a Inquisição estivesse atenta às publicações impressas e, para tanto, havia a necessidade de uma autorização para a publicação. Tal documento era de caráter estatal, previamente exarado através do Conselho Real e as obras eram examinadas pelo Santo Ofício. Esse zelo sobre o que consideravam o perigo luterano deu origem às listas de livros proibidos.

Para pesquisadora, Teresa não ignorou os diversos acontecimentos de seu tempo, quer políticos, religiosos, sociais e outros que caracterizavam o seu país no século XVI.

"Teresa de Jesús vivió una época de transición en la que se produjeron muchos cambios. Su preocupación por los hechos y momentos coyunturales fue constante y no dudó acercarse a personajes que tenían la facultad de intervenir en diversos asuntos, como lo demuestran algunas cartas dirigidas, nada menos que al rey Felipe II". (p. 4)

Importante referência nos estudos de Agustina diz respeito a dois fatos, um ocorrido em 1570, quando Teresa conheceu a princesa de Éboli, esposa de Ruy Gómez, valido de Felipe II. E o outro fato, relativo à questão controversa entre historiadores, a ascendência (paterna) judia de Teresa, cujo primeiro sobrenome a denunciaria. A teima entre os cientistas vai, depois, confirmar, que o avô paterno de Teresa, D. Juan Sánchez de Toledo, era casado com Dª Inés de Cepeda, cristã oriunda de Tordesillas.

D. Juan, que había judaizado, fue penitenciado por la Inquisición de Toledo el 22 de junio de 1485 por "herejía y apostasía contra nuestra santa Fe católica" y tuvo que ir en procesión con los reconciliados, durante siete viernes, por las iglesias de Toledo, tocado de "un sambenito con sus cruces".(p. 5)

Teresa lutou e venceu o preconceito contra esse parentesco sobre o qual, segundo cientistas ocupados em investigar a vida da santa, atualmente não há mais dúvidas. Entretanto, quanto ao processo contra Teresa no Tribunal da Inquisição, Agustini não afirma que teve relação com o parentesco, apesar de considerar que isto fosse provável.

Tudo tentou o tribunal inquisitorial sobre a monja reformadora do convento do Carmelo, mulher que desfrutava de prestígio e reconhecimento por onde passava. Seu legado foi definitivo e ficou anotado nos livros que escreveu e nos ensinamentos sobre a doutrina e a oração mental que ministrou às suas filhas de fé.

Teresa sofreu muito quando o Livro de sua Vida foi examinado, censurado e retido pelo Santo Ofício. Entretanto, ela findou seus dias sentindo-se feliz porque não usou suas palavras contra a Igreja, não foi excomungada pela Inquisição e, no leito de morte, exclamou que morria na condição de filha da Igreja.

As acusações que pesaram contra Teresa foram as de ter um espírito visionário, algo endemoniado, de exercer uma influência negativa na consciência e na vida interior de suas monjas; que lhes cerceava a liberdade e difundia falsas doutrinas sobre a oração mental, doutrinas estas que teriam sido aprendidas em livros de espíritos iluminados/esclarecidos. Era aquela uma época em que o imaginário popular europeu alimentava crenças sobre a figura do demônio e, então, usava-se a aspersão por água benta que também foi recomendada para o caso de Teresa. “En la mente del pueblo, Teresa de Cepeda era víctima de los engaños del demonio, transformado en ángel de luz, em lo que ella llamaba alta contemplación”. (p. 7)

Tanto se insistiu e em que estivesse tomada pelo demônio que Teresa chegou a desconfiar de que mesmo estivesse, pois as visões eram frequentes. Foi até comparada a Magdalena de la Cruz (condenada em 1546 pela Inquisição de Córdoba) e posta sempre sob suspeita.

A via crucis de Teresa seguiu por vários tribunais. As informações alcançaram o ponto conflitual quando, ante o Tribunal de Córdoba, (1574/1575), distrito de Andaluzia, vivendo momentos do iluminismo andaluz, e onde não faltavam beatas e visionários. Entra então em cena Carleval, reitor da Universidade de Baeza, e que havia lido o livro da Vida de Teresa de Jesus. Este livro servia para as práticas de Carleval e foi assim que apareceram os dois nomes, o dele e o da monja carmelita, no processo inquisitorial. Esse tribunal providenciou mais pesquisas. A esta altura, Agustina diz não dispor das anotações possivelmente feitas nessas investigações e, portanto, não se sabe de que mais Teresa teria sido acusada.

"Por lo anteriormente expuesto podemos deducir que la clave de todo este proceso inquisitorial contra Teresa de Jesús reside en su relación con el Dr. Carleval, por lo que se refiere a su vida y conducta espiritual. El proceso se desvió hacia el libro de la Vida influido por la intervención de la princesa de Éboli, como veremos más adelante". (p. 9)

O processo inquisitorial contra Teresa, ao que estima Agustina, termina em março do ano de 1575 quando a monja se encontrava nos caminhos de Castela. Dois meses depois segue para Córdoba a caminho de Sevilha onde contrariedades a esperavam. Era acusada de visionária e falsa profetisa.

Em Valladolid, 1575, apesar de ainda o tema ser o livro da Vida de Teresa, o objetivo era o de examinar a conduta espiritual da monja. Depois de emaranharem o nome de Teresa ao do Dr. Carleval, era o momento de misturá-lo com o de Ignacio de Loyola, outro acusado de ser tal qual Teresa, um “alumbrado”.

Seguem-se as acusações. Agora em Sevilha (1575-1579), onde Teresa esteve com seis monjas e outros acompanhantes com o objetivo de fundar um convento. Apesar dos pesares e das desfeitas, “El monasterio de carmelitas sevillano quedó fundado definitivamente el 29 de mayo de ese mismo año” (1575). (p. 10)

Nesse período, segundo os estudos de Agustina, ocorreram contendas, acusações, delações e problemas internos, como foi o promovido pela noviça Maria del Corro que tratou de acusar as carmelitas descalças até de atos de violência.

"En este nuevo asunto, los inquisidores se implicaron algo más que en lo referente a ló de los tribunales de Córdoba y Valladolid. Preguntaron detenidamente a las religiosas por el estilo de vida, por las costumbres y por el modo de proceder, tanto jurídico como espiritual, de las superioras y otras menudencias que podían haberle pasado desapercibidas a María del Corro. Como guía y responsable de la comunidad, las acusaciones recayeron personalmente contra Teresa de Jesús, aunque también fue acusada Isabel de San Jerónimo, otra religiosa de la comunidad, por ser una de las más destacadas en este camino de vida de oración propuesto por Teresa".(p. 12)

Conforme esclarece o estudo apreciado, nada demoveu Teresa e nem turbou o seu espírito, sequer a ameaça da prisão nos cárceres da Inquisição. Foi, enfim absolvida pelo Santo Ofício.

Quanto aos livros de Teresa, o que o estudo de Agustina adianta é que são escritos da alma e da personalidade da autora, em linguagem simples, carente de direcionamento linguístico e gramatical, pois segundo a própria Teresa afirmara, ela não era uma literata. Entretanto, foram as circunstâncias de sua vida que a fizeram a primeira doutora da Igreja.

Apesar da trama providenciada contra Teresa pela princesa de Éboli, então viúva e de amizades influentes, o livro da Vida de Teresa foi reconhecido, em muitas de suas passagens, como edificador e proveitoso espiritualmente.

"(...) La liberación del libro de Ia Vida coincide con la caída y el desprestigio de la Princesa de Éboli, a quien Antonio Pérez había apoyado y que para estas fechas también había caído en desgracia del rey y del Cardenal Inquisidor. Hasta 1579, la Princesa había movido las riendas de muchos sucesos, gracias al influjo que mantenía en la Corte por su amistad con el Secretario del Rey. Ambos trabajaban sinuosamente en la sombra del disimulo y bajo la máscara de sus altas dignidades, desprestigiadas por el engaño. El mismo Cardenal Quiroga les había dispensado su protección. Había escuchado sus voces de acusación contra Teresa".

"En 1579 la estrella de Antonio Pérez comenzaba a eclipsarse. Fue arrestado en la noche del 28 de julio de ese año y puesto en prisión. En la misma hora fue arrestada la Princesa, cómplice en unos mismos asuntos 26 El día 4 de octubre de 1582, moría Teresa en Alba de Tormes. Hasta 1586 el autógrafo del libro de la Vida continuó encerrado en el archivo de la Inquisición. En este año, Ana de Jesús, priora del convento de Madrid, se interesó personalmente ante el Inquisidor General, pidiéndole que fuera restituido a la Orden lo que ya era una reliquia. Éste se lo entregó sin reparos ni dificultades".

O criterioso estudo de Agustina González Álvarez ainda se refere aos livros escritos por Teresa de Jesús e que y Felipe II se interessou em ter uma edição na sua biblioteca de El Escorial.

Este trabalho de leitura e paráfrase do texto referenciado contribui para vislumbrar o quanto se pode estudar e apreender da vida de Teresa de Ávila, declarada com a devida solenidade, a primeira doutora da Igreja, pelo Papa Paulo VI, no dia 27 de setembro de 1970.

REFERÊNCIAS

http://www.stjteresianas.pcn.net/Reflexiones/Teresa%20Inquisicion.pdf

taniameneses
Enviado por taniameneses em 10/04/2012
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T3605415
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