Crítica Literaria: atividade estruturalista
Discutiremos, a partir de considerações espelhadas nos textos de Roland Barthes e Afrânio Coutinho: A atividade estruturalista e Crítica Literária, a visão diferenciada, contida nestes textos, do termo estruturalismo, e sua contribuição para a crítica literária, o que necessariamente remeter-nos-á a uma discussão sobre o sentido do vocábulo estruturalismo, seus respectivos métodos, bem como a função que lhes caberia frente a outras linhas de pensamento, para se ler e analisar o literário.
Embora, inúmeras questões podudessem ser suscitadas a partir da vasta obra desses polêmicos críticos, mesmo nesses dois textos em questão, nos ateremos apenas ao aspecto mencionado acima.
Ressaltamos ainda, que o presente texto terá, por vezes, um caráter de mera resenha, porque, antes de mais nada, se objetiva apenas a descrever o pensamento desses críticos, entrecortando suas observações por algumas considerações nossas; considerações estas, de quem ocupa um outro espaço e outro tempo e, talvez por isso mesmo, carreguem, como o leitor poderá notar, tantas ressalvas e dúvidas.
Começaremos pelo texto, Crítica Literária, publicado em 1974, respeitando assim tanto uma ordem cronológica quanto uma possível “evolução” de seu pensamento. Neste estudo, Afrânio se propõe a analisar o papel da crítica, destacando os pontos de intersecção e dispersão dentro das linhas consideradas viés, para orientação, no sentido de classificar uma obra enquanto literária ou não.
Coutinho inicia esclarecendo que, nem tudo que usa a palavra pode ser considerada como obra literária, “e, como toda arte, origina-se na imaginação criadora, cujo o objetivo é despertar um estado emocional, o prazer artístico; não visa portanto, o conhecimento, a informação, o ensinamento” (P. 91).
O que talvez demonstre por parte do crítico uma certa severidade exagerada, para não dizer um verdadeiro equívoco a respeito dessa corrente estética; logo o leitor tende a concluir que, ao invés de intuição e fantasia, no estruturalismo, os adeptos desse conceito, visualizará o texto apenas por “estrutura” e “informação”.
A dúvida que fica é: seria possível, encaixar o texto literário apenas em estrutura e forma? De ante mão, podemos responder a tal pergunta, como palavras do próprio Afrânio que diz: “... as obras literárias se tornam eternas na admiração e no prazer dos leitores, pelos elementos estéticos-literários que constitui o intrínseco de sua composição...” (P. 91).
O autor reconhece que o estruturalismo tem seu lugar, no que diz respeito, ao julgamento de valor de uma obra; porém, esse lugar é de analisar a estrutura, a composição, a forma, sobretudo, é importante ressaltar que o texto literário é mais do que isso; ele não pode ser analisado somente por esse ponto de vista. René Wellek diz que: para se analisar uma obra, se requer do crítico uma sensibilidade artística, muitas formas de crítica exigem habilidade artística de composição e estilo, porém não podemos perde de vista que, a imaginação tem seu lugar em todo conhecimento e ciência.
Perceberemos, a confirmação dos pontos elencados por Afrânio Coutinho, de maneira, mais aprofundada no texto de Roland Barthes.
Roland Barthes, quase sempre sugerem temas ou assuntos que, para nós pareciam muito complexos ou sem muita importância. O autor diz que o estruturalismo não é uma escola nem mesmo um movimento, (pelo menos por enquanto), porque a maioria dos autores que se associam a esse termo não se sentem ligados entre se.
O texto, Atividade estruturalista, publicado em 2007, propõe destacar qual seria a atividade de quem associa-se a esse método para analisar uma obra literária.
Segundo Barthes a palavra em se, trata apenas do léxico; e que estrutura é um vocábulo antigo de gêneses anatomista e gramatical, para ele , hoje muito desgastado.
As ciências buscam o uso da palavra não para designar algo, esclarecendo que funções, formas, signos e significações, não mais são pertinentes, demonstrando que são vocábulos de emprego comum.
O autor diz que: o objetivo de toda atividade estruturalista, seja ela reflexiva ou poética, é de reconstituir um “objeto” de forma a manifestar nesta reconstituição, as regras de funcionamento do mesmo. Para ele, na atividade estruturalista, a criação ou reflexão não é impressão do mundo original, sobretudo fabricação verdadeira de um mundo que se assemelha ao primeiro, “mundo das idéias”, tão defendido por Platão.
Diferindo de Platão, Barthes, com essa afirmação não quer diz que estamos copiando o objeto, já existente, capturando-o do intelecto, apenas para fazê-lo visível e sim para torná-lo inteligível (P. 51).
Barthes chama tal objeto de simulacro (cópia ou representação imperfeita; aurélio; P. 637), e revela que é para isso que o estruturalismo é importante, pois o simulacro assim edificado não restitui o mundo tal qual foi tomado.
Observamos que o autor manifesta uma categoria nova para o objeto que não é nem o real nem o racional, mas o funcional. E junta-se a um complexo científico que se está desenvolvendo em torno das pesquisas sobre a informação. Ora, percebemos, aqui neste texto que Roland Barthes, apresenta-se desarmado em relação ao conceito estruturalista. Bem diferente, do seu texto “o que é crítica” onde ele deixa transparecer um certo aborrecimento ao trata sobre o assunto.
Concluímos que, segundo Roland Barthes, a atividade estruturalista, é apenas uma atividade de imitação, e não de interpretação, que analisa a constituição de cada texto, de forma a demonstrar a estrutura e a maneira como está disposta tal composição. Estrutura de versos, estrofes, linha de notícia, signos linguísticos, informação.
Todo texto seja literário, argumentativo, informativo, etc... necessita recorrer a uma determinada estrutura, passando por um esboço de coesão e coerência, significante e significado, de modo, a transparecer ao leitor, o mínimo possível de interpretação da visão de quem o escreveu. Concordamos com Barthes, quando diz que atividade estrutural é importante e necessária, mas, também quando ele, demonstra que ficar preso, apenas neste ponto de vista, para análise de uma obra é um engano terrível; pois como já falado anteriormente, o próprio texto, é quem, delimitará o método mais adequado para analisá-lo.