Resumo do texto “Uma construção simbólica da nacionalidade num mundo transnacional: Os Sertões de Euclides da Cunha, Cem anos depois” de Berthold Zilly.
Em Uma construção simbólica da nacionalidade num mundo transnacional: Os Sertões de Euclides da Cunha, Cem anos depois, Zilly discorre acerca da dimensão internacional da Guerra de Canudos, que, segundo ele, não foi só no Brasil que houve repercussão desta guerra, mas em toda Europa e América. O autor discorre também, a respeito do importante papel dos jornais, que serviram de grandes divulgadores da Campanha de Canudos no mundo.De acordo com o autor, a guerra era assunto em todo o ano de 1897, antes mesmo da publicação de Os sertões.Em relação a isso, o autor afirma que,
[...] o mundo [...] se aliou ao exercito atacante, concedendo ao governo brasileiro os créditos necessários, mandando-lhe a sua mais avançada tecnologia militar, além de alguns poucos frades e filantropos – como se agisse segundo o princípio do morde- e - sopra e apoiando, através dos grandes jornais do mundo, a sua campanha propagandística anticonselheirista. (ZILLY, 2009, p. 32)
Tudo isso,foi justificado em nome das ideias evolucionista do pensamento europeu, que defendiam a punição rigorosa dos bárbaros, criminosos, atrasados e desviantes à modernização, eram assim chamados e prejulgados o povo que vivia no Arraial de Canudos.Esse pensamento era compartilhado por muitos intelectuais da época, inclusive por Euclides da Cunha.
Em função disso, Zilly afirma que os canudenses foram perseguidos“porque não se adequaram a ordem coronelística estabelecida, aceitas pelas elites por mais esclarecidas e civilizadas que se considerassem” (Idem, p. 33), pois, o poder paralelo estabelecido no arraial,contrariava também o domínio sobre a mão de obra barata e o monopólio da violência no estado, que ironia essa, já que os mesmos coronéis que combatiam esse poder paralelo, faziam a mesma coisa pelo Brasil afora.
Zilly menciona também, a postura inicial de Euclides da Cunhaque por ser grande pesquisador de fenômenos naturais e sociais, não buscou ajustificativa da guerra, nem tampouco se interessou em pesquisar as condições socioeconômicas daquela sociedade paralela.Contudo, somente mais tarde Euclides da cunha, publica Os sertões, e dá uma nova dinâmica a historia da campanha de Canudos, que “graças a seu talento e fabulação e ao interesse emocional do autor pelo assunto, a narração da guerra ganha uma dinâmica própria, sendo bem mais do que episódio da história universal marcada pela luta de raças” (Idem, p. 34).
Além disso, Zilly leva-nos a enxergara concepção conservadora de pensamentos darwinista de Euclides, no entanto, Cunha rompeprovisoriamente com esse ideário em nível cientifico e intelectual, através da observação subjetiva e da configuração estética, que culminou em Os sertões.Ainda de acordo com o autor,Euclides insere a Campanha de Canudos “na ordem imperialista e na relação colonialista entre litoral e sertão com uma avaliação que oscila entre aprovação e protesto” (Idem, p.36).Contudo, é a divulgação da dimensão internacional desse conflito, queo autor de Os sertões atribui,
“um caráter pragmático na historia universal como choque de cultura, provocado pela expansão da civilização, que, tão sedutora quanto violenta, esmaga no mundo inteiro, aquelas sociedades e culturas que não deixam facilmente integrar ou que nem sequer se tem a chance de o fazê-lo” (Idem, p.39).
Ainda segundo o autor, Euclides pela perspectiva poético-narrativa, enfatiza a valorização da mestiçagem, considerando os sertanejos como não-pertencentes “à categoria das raças fracas”, uma vez que, por conta do isolamento, o sertanejo configura uma raça uniforme, aproximando-se do indígena, enquanto nega o elemento negro e mestiço.
Por essa razão, levando em conta a “suposta uniformidade e pureza da qual são excluídos os mestiços neurastênicos do litoral” (Idem, p. 40), a sociedade sertaneja revela-se como o “tipo” ideal para formar a Nação Brasileira. No entanto, conforme Zilly, a figura do sertanejo acaba sucumbida pelas elites litorâneas, rezumindo-se apenas à valorização mítica.
REFERÊNCIA:
ZILLY, Berthold. Uma construção simbólica da nacionalidade de um mundo transnacional: Os sertões de Euclides da Cunha, cem anos depois. Revista Outros Sertões, Ano 3, dezembro de 2009, p. 31-45.