PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL – o “embrião” da literatura brasileira
Não sabemos definir o que queremos mas abemos discernir o que não queremos.
Anibal Machado
No início do século XX, a literatura brasileira, de modo geral, não apresentava sinais de renovação. Os movimentos artísticos que agitavam a Europa não repercutiam no ambiente artístico brasileiro, ainda bastante provinciano e acanhado. Alguns escritores, porém, contrariavam esse estado das coisas. Eram os pré-modernistas. O Pré-Modernismo, termo cunhado por Alceu de Amoroso Lima, em 1950, em nossa literatura compreende o período cultural que vai dos primeiros anos do século XX até 1922, quando ocorre a Semana de Arte Moderna, marco que assinala o inicio do Modernismo no país.
O Pré-Modernismo não constitui uma escola literária, mas um momento de transição entre a tradição literária do século XX e a sua ruptura radical, proporcionada pelo advento do Modernismo. Antes, tinha-se uma literatura superficial, servilmente submissa a modelos europeus já superados, alienada das questões nacionais. Em oposição a esse cenário dominante, convencional e conservador, os escritores denominados pré-modernistas anunciam a modernidade.
Na poesia, o principal representante do Pré-Modernismo no Brasil é Augusto dos Anjos, com poemas que desafiam classificações rígidas e inserem em nosso contexto cultural características universalmente modernas. Na prosa, destacam-se três escritores, que se debruçam sobre a realidade do país, produzindo obras criticas e questionadoras.
Principais escritores e obras do Pré-Modernismo brasileiro
* Poesia:
Augusto dos Anjos – Eu (1912).
* Prosa:
Euclides da Cunha – Os sertões (1902).
Lima Barreto – Triste fim de Policarpo Quaresma (1915).
Monteiro Lobato – Urupês (1918).
Graça Aranha – Canaã (1902).
Os autores pré-modernistas procuraram transparecer em suas obras os eflúvios da modernidade, traduzidos sobretudo numa preocupação critica com a “realidade brasileira”, o que, por sua vez, implica o surgimento de um novo regionalismo: a focalização de tipos brasileiros marginalizados. Somente o poeta Augusto dos Anjos não tinha a atenção para o social. Suas questões eram estéticas e ele foi uma exceção nesse contexto. Dois passos além do Parnasianismo e do Simbolismo, ele é considerado um precursor da poesia moderna.
As Vanguardas artísticas européias – novos caminhos para a cultura e a arte
Do início do século XX até a Primeira Guerra Mundial, a Europa vive a chamada Belle Époque: época de grande euforia pelo progresso, pela velocidade, pelas comodidades trazidas pela Era da Máquina. A euforia burguesa, entretanto, seria interrompida pela eclosão das duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945), cujas consequências fariam germinar sentimentos completamente opostos ao encantamento pela vida característica do Belle Époque.
Nesse mundo dividido entre a euforia das conquistas cientificas e tecnológicas, das novidades filosóficas e sociológicas, que pareciam, a princípio, apontar para uma ordem pacifica, e a ressaca dessas mesmas conquistas mescladas ao sentimento de decadentismo, a arte já acusava rupturas estéticas no século XIX. A inquietação intelectual e espiritual, gestada nesse clima de oscilação entre o entusiasmo e a descrença, gerou novas propostas de concepção da arte, conhecidas como vanguardas europeias.
A palavra “vanguarda” vem do francês Avant Garde, que é a parte do exército que está na frente do combate, ou seja, os “avançados”. Realmente, as vanguardas eram tudo aquilo que era pioneiro, que estava à frente, o fator revolucionário, inovador, que propõe uma nova ótica, um novo modo de expressão. As artes plásticas no início do século XX foram assoladas pelas diversas vanguardas que eclodiram em toda a Europa. Entre a multiplicidade de ismos que traduzem a inquietação caótica europeia, num claro tom de ruptura total com o academicismo vigente até então, figuram as principais manifestações vanguardistas:
* Futurismo – Fundado em 1909, na Itália, pelo poeta Fillipo Tommaso Marinetti, a vanguarda futurista defende uma arte sintonizada com a beleza da velocidade, as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta. A publicação do Manifesto Futurista, escrito pelo próprio Marinetti, em 1909 e publicado num jornal parisiense, inaugura o movimento vanguardista.
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Manifesto Futurista
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito à energia e da temeridade.
2. Os elementos essências de nossa poesia são a coragem, a audácia e a revolta.
3. Tendo a literatura até aqui enaltecido a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono, nós queremos exaltar o movimento agressivo, (...) a bofetada e o soco.
4. Nós declaramos que a esplendor do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com o seu cofre adornado por grossos tubos como serpentes de fôlego explosivo… um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
5. Nós queremos catar o homem que está na direção, cuja haste ideal atravessa a Terra, arremessada sobre o circuito da sua órbita. (...)
7. Não há mais beleza senão na luta. Nada de obra-prima sem um caráter agressivo. A poesia deve ser um assalto violento contra as forças desconhecidas, para intimá-las a deitar-se diante do homem. (...)
10. Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, as academias de toda a natureza, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias.
F. T. Marinerri TEELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1983.
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* Cubismo – Surgiu na França quando o artista espanhol Pablo Picasso pintou o famoso quadro Lês Demosielles d’Avignon, 1907. No Cubismo, o artista buscava fragmentar a realidade e a remontava de uma nova maneira, expressando a simultaneidade a partir de vários ângulos (quebra da perspectiva). Além disso, havia a tendência de estilizar os objetos por meio de formas geométricas, muitas vezes superpostas. Na literatura, o cubismo se desenvolveu fortemente na poesia. Suas características principais foram o uso de desdobramentos (associações conscientes e inconscientes), a simultaneidade e o humor (para escapar da monotonia). Os escritores buscavam a expressão da essência do real, e vez de contentarem com a aparência.
* Dadaísmo – Considerado o mais radical e demolidor dos movimentos vanguardistas, O Dadaísmo surgiu em Zurique, na Suíça, em 1916, tendo o poeta romeno Tristan Tzara como seu líder e mais importante defensor. Tzara afirma que escolheu a palavra dadá abrindo o dicionário ao acaso. Para os negros Krou, dada significa vaca santa; em certas regiões da Itália, significa mãe; em russo, queria dizer cavalo de madeira; e em romeno, ama de leite. O termo dadá não significa nada e, por isso mesmo, pode significar qualquer coisa. Os artistas dadaístas, refugiados da Primeira Guerra na Suíça, se encontravam no Cabaret Voltaire para discutir arte, beber e fazer performances. Para os dadaístas, a guerra desvendou a barbárie que se esconde por detrás da civilização burguesa ocidental, o que os incitou a desmascara todos os valores ditos civilizados. Um dos métodos da arte dadaísta era a “colagem”.
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Manifesto Dadaísta
“Eu destruo as gavetas do cérebro e as da organização social: desmoralizar por todo lado e lançar a mão do céu ao inferno, os olhos do inferno ao céu, restabelecer a roda fecunda de um circo universal nos poderes reais e na fantasia de cada individuo.
(...)
Eu redijo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e sou por princípios contra manifestos (...). Eu redijo esse manifesto para mostrar que é possível fazer as ações opostas simultaneamente, numa única fresca respiração; sou contra a ação pela contínua contradição, pela afirmação também, eu não sou nem para nem contra e não explico por que odeio o bom-senso."
Tristan Tzara
TEELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1983.
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Para fazer um poema dadaísta
Pegue um jornal.
Pegue uma tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam o artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido pelo público.
Tristan Tzara
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* Surrealismo – O Surrealismo foi criado em 1924 por um grupo de artistas que fazia parte da revista Littérature. Superando a destrutividade radical da arte dada, o Surrealismo nasce de uma cisão nesse movimento, desencadeada por André Breton, um dos criadores da nova vanguarda, no campo da literatura. O surreal, isto é, o que subjaz à noção de “real” até então conhecida, acrescenta à razão a imaginação, o sonho e a fantasia criadora do inconsciente, desvendada em seus mistérios mais profundos pela Psicanálise de Freud, que influenciou fortemente o movimento. Pregavam o “racional desregulamento de todos os sentidos”. Dessa maneira, creditavam dar vazão ao inconsciente e escapar da lógica racional. Os grandes expoentes da arte surrealista são: os pintores Salvador Dali e Max Ernst,o cineasta Luis Buñuel e o ator Antonin Artaud.
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Manifesto Surrealista
“SURREALISMO, n.m. Automatismo psíquico puro pelo qual se propõe exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral.
Mande vir com que escrever, depois de se ter instalado num lugar tão favorável quanto possível à concentração do seu espírito sobre si mesmo. Coloque-se no estado mais passivo, ou receptivo, que puder. Abstraia do seu gênio, dos seus talentos,e dos de todos os outros. Repita a si mesmo que a literatura é um dos mais tristes caminhos que levam a tudo. Escreva depressa, sem assunto prévio, suficientemente depressa para não parar e não ter a tentação de ler.”
André Breton.
L. Helena. Modernismo Brasileiro e Vanguarda. São Paulo, Ática, 2003.
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* Expressionismo – o Expressionismo foi uma tendência artística que surgiu em vários países, ao mesmo tempo. Os artistas acreditavam que a arte deveria nascer da reação do sujeito à realidade e que ela não deveria se limitar à observação dessa realidade.por isso, a realidade era deformada pela interpretação do artista. Eles retratavam o grotesco, o feio, a crueldade, a dor e a tragédia, combatendo, assim, a hipocrisia burguesa e a violência da guerra. A falência do mundo burguês, a crise da guerra e o olhar voltado para o subjetivo e a interioridade levaram a visões apocalípticas e negativas do mundo.
A Semana de Arte Moderna – “a bomba relógio” da arte moderna no Brasil
As repercussões dos movimentos de vanguarda foram decisivas para desencadear a revolução cultural e artística que marcou o inicio do Modernismo no Brasil, e que teve como evento mais importante a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922. Muito antes de 22, as transformações culturais já se agitavam, com a exposição de quadros da pintora Anita Malfatti. O escritor Monteiro Lobato, que viu a exposição, publicou o polêmico texto Paranoia ou Mistificação?, em que criticava severamente o estilo vanguardista da pintora. Questionava se a “arte” tida pelos jovens artistas era, na verdade, o resultado de brincadeiras infantis ou de mentes paranoias.
Em razão do ataque sofrido, o grupo modernista na tentativa de tornar mais visíveis para a opinião publica as novas tendências artísticas europeias. Por causa das comemorações do centenário da Independência, em 1922, os modernistas decidiram planejar um evento que representasse o nosso grito de independência cultural.foi assim que os dias 13, 15 e 17 de fevereiro, datas do evento modernista, transformaram definitivamente o panorama artístico brasileiro. Nesses dias, o Teatro Municipal de São Paulo, fora realizada a Semana de Arte Moderna.
Participaram desse grandíssimo evento os seguintes modernistas: escritores Graça Aranha, Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sergio Milliet; os artistas plásticos Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Lasar Segall, Tarsila do Amaral; os músicos Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novaes, Paulina d’Ambrósio, dentre os mais conhecidos.
Foi “uma semana de escândalos literários e artísticos”. A apoteose ocorreu na leitura do poema Os sapos, de Manuel Bandeira, quando a plateia, alucinada, começou a gritar e coaxar. A repercussão na grande imprensa foi muito pequena, basicamente a cargo de Mario e de Oswald, mas, após a Semana de Arte Moderna, restou a grande vontade de perseguir a criação de uma arte original,verdadeiramente brasileira.
Meses seguintes à realização da Semana de Arte Moderna, os artistas investiram em formas de divulgação dos novos padrões estéticos, com o objetivo declarado de fazer perdurar a ideia de renovação cultural. A estratégia utilizada foi lançar revistas e manifestos. Nas revistas, criou-se o espaço para divulgar as produções literárias inspiradas pela nova visão artística. Os manifestos definiam e dispersavam os próprios princípios modernistas.
Oswald de Andrade foi o responsável pelo Manifesto Pau-Brasil, o primeiro manifesto modernista, lançado em 1924 no Correio da Manhã. O Manifesto Pau-Brasil define os princípios importantes para o primeiro momento da literatura brasileira. Ver com os olhos livres, fazer uso da língua sem preconceitos, tal qual se manifesta na fala popular, alem da recuperação de um passado histórico feita, agora, de uma perspectiva crítica. Em 1928,Oswald lança o Manifesto Antropofágico, como resposta ao nacionalismo ufanista do grupo da Anta, que defendia a idealização de um estado forte, e propõe o caminho contrário ao dessas correntes nacionalistas, num tom contestador e anarquista.
A primeira fase do modernismo, marcada pelo signo da transformação, ficou conhecida como a fase heroica, ou de destruição, pela postura de rompimento com o passado, vista por muitos como anárquica e destruidora. Dentre as principais características literárias observadas, destacam-se:
1. Negação do passado, caráter destrutivo;
2. Valorização do moderno como um valor em si mesmo;
3. Nacionalismo;
4. Redescoberta da realidade brasileira;
5. Desejo de liberdade no uso das estruturas da língua
6. Predominância da poesia sobre a prosa
Augusto dos Anjos: um apocalipse verbal
O poeta Augusto dos Anjos, cronologicamente situado no período pré-modernista, expõe a poética do estranhamento, desconstruindo o imaginário estético que sem tem da expressão lírica. Por isso, sua produção literária, a única existente – livro de poesias Eu – , mostra-se de difícil classificação, num misto de ecos realistas, parnasianos, simbolistas e modernistas.
A linguagem de Augusto dos Anjos explora temas até então invisíveis. Além da angústia, do pessimismo e da morte, presentes na poesia de todos os tempos, surgem temas como a podridão e o horror. Excessivamente, explodem em seu lirismo termos científicos dos mais inesperados: carbono, amoníaco, epigênese, diatomáceas, criptógama, etc.
Augusto dos Anjos tem obsessão pela temática da morte, e o que mais parece impressioná-lo nesse fenômeno são os aspectos materiais: o verme e a decomposição do corpo causam-lhe uma perplexidade vazada em versos escatológicos. Parece que a certeza da morte e do verme anual e sentido da vida. Outra característica forte em sua obra é um dualismo dilacerante: o poeta parece constantemente vitimado por forças opostas. Como recursos de construção textual, Augusto dos Anjos explora:
1. Musicalidade – É a sua maior herança simbolista. As aliterações e assonâncias revezam-se em versos melodiosos e, às vezes, onomatopaicos: A diáfana água alvíssima e a hórrida áscua/ Que da ígnea flama bruta, estriada, espirra...
2. Obsessão cromática: Há o uso de muitas cores, principalmente o preto, que aparece em múltiplas variações, como luto, escuridão, etc. A segunda cor mais usada é o vermelho, geralmente lidada à ideia de sangue.
3. Uso de superlativos absolutos sintéticos: Especialmente aqueles formados pelo sufixo íssimo(a).
4. Palavras polissílabas: O poeta chegou a escrever um verso decassílabo com apenas duas palavras: Profundissimanente hipocondríaco. Para conseguir palavras longas e intensas, valia-se de prefixos e sufixos.
5. Adjetivação constante: Os substantivos são frequentemente acompanhados por adjetivos que expressam repugnância. Seus favoritos são: horrível/hórrido/horrendo, hediondo/medonho, lúgubre, podre, necrófago, magro e sôfrego.
6. Estilo interjetivo: Pasmo de tudo,o poeta usa sobretudo a exclamação como pontuação, em segundo lugar vem as reticências.
Sem dúvida, Augusto dos Anjos foi um poeta único, A sensação de pequenez e impotência diante do caos universal é um sentimento típico da sua obra. Sua ótica é dilatada, histérica, mosaica. Não é à toa que sua poesia, para muitos, ainda permanece enigmática e soturna.
Tome, Dr., esta tesoura e... corte
Minha singularíssima pessoa. (...)
Augusto dos Anjos. Budismo Moderno.
Mário de Andrade e Oswald de Andrade – a “irmandade” moderna
Os poetas pioneiros o movimento modernistas no Brasil foram Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Juntos, eles elevaram a arte literária brasileira a um patamar de prestígio, na busca pela identidade nacional.
A poesia de Mário de Andrade é definida pela avaliação crítica da elite e pela afirmação da possibilidade de uma existência multifacetada (pessoal e cultural). A liberdade estética e formal defendida por Mário vai se transformar na marca registrada em sua poesia.
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Mário de Andrade. Eu sou trezentos...
Na prosa, Mário promove um questionamento das estruturas típicas do romance do século XX. Macunaíma (1928), livro responsável pela redefinição do “herói” brasileiro, é sua obra mais conhecida. Nessa rapsódia, o escritor mostra uma personagem que se transforma a cada instante, assumindo as feições das diferentes raças que originam o povo brasileiro (índio, negro e europeu).
"No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma."
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Belo Horizonte: Editora Italiana, 1987.
A obra de Oswald de Andrade reuni todas as características que marcaram a produção literária do período modernista. Ele escreveu poesia, romance, teatro, critica e, em todos os gêneros, deixou patente sua vocação para transgredir, quebrar expectativas, polemicar. Um dos aspectos revolucionários de sua obra foi a transformação de textos do período colonial em poemas que assumem uma conotação critica da historia “oficial” do Brasil.
Pero Vaz de Caminha
a descoberta
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados
ANDRADE, Oswald de. Pau-Brasil. Porto Alegre: Globo, 1990.