Navegantes do arrisco: uma leitura
A vida é apresentada através de ricas metáforas as quais engendram beleza, densidade filosófica e existencial. Assim revela a magnífica autora e poetisa goiana Ana Luiza de Lima Guimarães, a cada estrofe de seu poema “Navegantes do arrisco”, o qual intitula sua mais recente obra. Com imensurável maestria, o poema promove uma exímia reflexão que perpassa cada instante da existência seja no âmbito social, individual e afetivo.
Os mistérios que envolvem a vida norteiam o primeiro verso "A vida é um fio fundo", bem como a retórica de que se está sempre no limite, ao passo de não existir. Os seres estão sempre no limiar dos acontecimentos.
A vida suporta e dá suporte aos despreparos e arranjos, ela "...é sapato de bailarina". O eu poético retrata que a própria vida já tem consciência do peso que carrega nas agruras dos dias dos seres, bem como a mobilidade dos indivíduos diante de situações diversas e adversas.
Se “A vida é um jogo de malabares/pirotecnia do arrisco” denota que precisamos de ensaios e buscar a perfeição. Ora se conquista – vem o gozo; ora se perde – vem o cansaço, desânimo e a agonia insana se manifesta ardilosa e perspicaz. Todavia, se “A vida é um picadeiro” somos todos personagens, reais ou fictícios. Somos o centro com força e fragilidade, pois precisamos do outro. Somos o inesperado. Viver é lidar com o imprevisível “acorde na pausa da falta”.
A vida é espetáculo, garante o eu poético. Arriscar-se é fazer espetáculo; fazer espetáculo é se expor ao indizível; fazer é um risco. Viver é estar pronto para o arrisco, pronto para navegar a cada manhã. Mas afinal, quem são os navegantes? Eu, você?
A vida é um fio, é sapato, é jogo, é picadeiro, é espetáculo.
Somos os navegantes do espetáculo incessante do cronos humano.