Um Sonho de Liberdade/ Vigiar e Punir

Tudo começa quando Andy Dufresne vai parar na prisão de Shawshank por ter sido condenado ao homicídio da sua mulher, por tê-la descoberto com um amante. Porém nem tudo é o que parece, posto que Andy é completamente inocente. Andy, que era um grande banqueiro antes de ser preso, é pacífico e calmo na prisão. Lá ele se torna mais um dos que tentam aprender viver lado a lado com as regras estabelecidas pelo sistema de adestramento de corpos; conhece o isolamento e as características disciplinares da prisão. Andy consegue, enfim, através de um plano de fuga espetacular, antes de completar vinte anos de detenção alcançar a liberdade e fugir com o nome falso que usava para fazer lavagem de dinheiro para o diretor da instituição-prisão.

Um sonho de liberdade bate na tecla do sistema prisional citado por Foucault em Vigiar e Punir. A prisão como forma de restringir o direito tido como máximo no séc. XVIII; a liberdade. Em um sonho de liberdade o personagem Andy nunca desiste da idéia de um dia ter, de novo, esse direito. O filme mostra as características da instituição prisão entre os quais o adestramento dos corpos, a modificação da mentalidade do sujeito, a sua essência privada, sua funcionalidade de isolamento do indivíduo, sua utilidade à sociedade.

A disciplina prisional se vê claramente em seu caráter militar pela existência das celas que isolam os indivíduos; já em seu caráter de hospital se mostra em uma ameaça feita pelo diretor ou por um guarda onde ele diz enviar o detento para a ala dos sodomitas; também constata-se isso pelo fato de só se ver os agressores do personagem Andy Dufresne em alguns momentos nos quais os presos estão ou trabalhando ou no banho de sol. Pode-se ver também o caráter disciplinar da oficina, pois quando são enviados para o trabalho pesado na construção de alguma obra o silêncio é a garantia de saírem ilesos do serviço, de não serem reprimidos pela violência dos guardas.

O caráter do adestramento dos corpos é o geral, é o estar na instituição e estar à sua disposição a qualquer momento. É o preço de estar preso, é perder sua autonomia, perder o comando do seu próprio corpo em favor do sistema prisional. A funcionalidade do isolamento dos indivíduos no filme não é pura, posto que, como se faz evidente em muitas cenas, os presos demonstram organização; o isolamento só se concretiza em sua totalidade quando os presos são recolhidos às celas. Portanto como sendo o primeiro princípio da prisão o isolamento, que tem como sua comparsa a solidão, deveria ser integral, pois nas horas de banho de sol e até na hora do trabalho os presos realizam conversas e trocam informações a respeito do que precisam obter, e do quanto custa. O isolamento não é puro, não é o isolamento em si tratado em Foucault, por causa da corrupção. Como disse Foucault: “a solidão realiza uma espécie de auto-regulação da pena, e permite uma como que individualização espontânea do castigo: quanto mais o condenado é capaz de refletir, mais ele foi culpado de cometer seu crime; mas mais também o remorso será vivo, e a solidão dolorosa; em compensação quando estiver profundamente arrependido e corrigido sem a menor dissimulação, a solidão não lhe será mais pesada.”. Assim os presos acabam sendo solidários uns com os outros e acabam se organizando, corrompendo até os guardas, destruindo esse caráter positivo instrumental da solidão.

Referências:

DARABONT, Frank. Produção cinematográfica; Um sonho de liberdade; EUA/1994.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir, quarta parte: PRISÃO.

Carlos E S Dantas
Enviado por Carlos E S Dantas em 30/11/2011
Reeditado em 23/06/2016
Código do texto: T3365050
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