Desabafo
Moro neste apartamento há 13 anos. Ele é a única testemunha do que se passou aqui. Morávamos aqui, eu, meu marido, minha filha e minha mãe, até que um dia tudo mudou. Sempre lutamos com dificuldade, tínhamos divergências como qualquer um, mas nos amávamos e éramos unidos e felizes.
Por circunstãncias da vida, uma tia do meu marido de 87 anos ficou sozinha e a acolhemos em nossa casa. Minha mãe, que na ocasião tinha 89 anos gostou de ter uma companhia.
Vivíamos tranquilos até que minha filha resolver sair de casa. Ela tinha 34 anos. Como estava de licença por acidente de trabalho, escolheu ficar num lugar mas perto dos médico que a assistiam e até aí tudo bem. Não pensei que a decisão dela fosse me afetar tanto, tempos depois.
Minha filha entrou em depressão rapidamente, se esquivou de todos, não recebia ninguém e se isolou. Todos nós tentamos nos aproximar, a família e os amigos, mas ela não permitia.. Tentei de todas as maneiras ajudá-la e ela me retornava com agressividade, dizendo que eu a rejeitara pois meu tempo era só pra cuidar das "velhinhas", denominação que dava a sua avó e a tia. Nada do que eu fizesse ou falasse mudava a situação. Aos poucos ela se isolou totalmente e eu me sentia culpada.
Em 2006 a tia do meu marido faleceu e em 2007 perdi também a minha mãe. No mesmo dia da morte da minha mãe, que eu adorava, estava com meu marido no hospital onde havia feito uma nefrectomia devido a um câncer renal. Deixei-o sozinho, nas mãos das enfermeiras e fui fazer o enterro da minha mãe.Tirei forças não sei da onde para tudo isso.
Em 2008, apareceu uma metástase no meu marido e aí foi uma luta contra o tempo. Neste mesmo ano ele foi operado duas vezes, mas teve complicação e veio a falecer em 2009. Fiquei só, muito só.
O trabalho e os amigos foram meus aliados messe momento, pois não tive meus filhos ao meu lado. Minha filha com os problemas dela e meu filho fugindo de problemas.
Fiquei literalmente só.
Continuo trabalhando, às vezes me desanimava e vivia muito triste. Mas nunca deixei de trabalhar e procurar pela minha filha.
Em 2010 morre nossa gatinha de 15 anos, minha única companheira e mais um baque. Eu pensava "Deus só nos dá para carregar aquilo que podemos aguentar". E ia em frente.
Em 2011, minha irmã estava precisando de ajuda e a acolhi na minha casa, temporariamente, até que melhorasse e pudesse viver a sua vida.
Mas as coisas se complicaram, ela escutava vozes, falava sozinha,brigava, bebia e eu não sabia o que fazer. Tentei falar com os filhos mas tudo em vão. Ela não gosta que se fale nada, diz que sabe o que faz e não admite que está doente, bebe e toma remédios par dormir.
Eu trabalho o dia todo, não lhe falta nada, tenho uma pessoa que trabalha em minha casa desde o tempo da minha mãe, mas dos filhos não tenho ajuda. Está muito difícil, ela é agressiva, não me escuta e está sempre contra mim. Eu tenho pena, porque sei que está se matando, mas não aceita tratamento. Filhos e noras não a querem em suas casas e eu não encontro uma solução.
Estou fragilizada, cansada, mas tenho fé que tudo vai mudar, que o problema da minha irmã será resolvido e, ainda,tenho esperança de poder ajudar a minha filha a ter sua vida de volta.
Peço ajuda! Estou precisando...Só Deus sabe!