Política pra quê?
Competência. É a palavra que define a vida do jornalista Giampaolo Braga. Apesar de ser formado há apenas cinco anos, Giampaolo já foi editor da Folha Dirigida, estagiário do Globo e hoje é chefe de reportagem do jornal Extra. Atuou em diversas editorias, como esportes, informática, geral e economia e em todas se destacou. Em palestra ministrada na Universidade Estácio de Sá, Giampaolo discursou sobre uma das áreas onde trabalhou por mais tempo, a política. Mas afinal, o que é política?
A palavra política origina-se do grego politikós (polis), que significa tudo o que diz respeito à cidade e, por conseguinte, aos seus habitantes. Por ser de tamanha importância, deveria interessar a todos, mas não é o que ocorre. Cada vez menos as pessoas se interessam pelo assunto. Talvez seja por desgosto. Os escândalos de corrupção, desvio de verbas e máfia das ambulâncias (só para citar alguns) com os quais nos deparamos todos os dias são dignos de pena e fazem o cidadão ter vergonha até de comentar sobre o assunto. Ou talvez seja por comodidade. A incidência de escândalos é tão freqüente que a população já se acostumou. É “notícia velha”.
Giampaolo Braga acredita na existência de três vertentes da política: nacional, internacional e institucional. O dever do jornalista político é abordar todas com os mesmos afinco e proporção. A primeira divide-se em pública e partidária. Na opinião do jornalista, a cobertura de política pública é considerada deficiente, já que não se sabe qual a proposta do governo para saneamento ou segurança. Ao contrário da partidária, uma vez que diariamente publicam-se notícias de que o partido “x” está coligado ao “y” ou que o deputado “z” filiou-se ao partido “w”.
A deficiência deve-se à falta de informação do jornalista que não está pronto para “apertar”o político e também por ser mais complicado fazer isso. Na opinião do jornalista, os profissionais da atualidade estão acostumados a produzirem matérias “feijão com arroz”. Pesquisam um pouco na Internet, entrevistam duas ou três fontes por telefone e acham que basta. Ser jornalista e saber o que o público quer saber antes que ele pergunte. Para isso, o profissional deve manter-se sempre bem informado, ler sobre diversos assuntos (não somente o que lhe interessa) e estar inteirado sobre o que acontece ao seu redor e ao redor do mundo. O problema de muitos jornalistas hoje é a questão da “setorialidade”.
Giampaolo fez a cobertura das eleições de 2004. Trabalhava 24h por dia por causa do escândalo do dinheiro encontrado nos escritórios do PMDB que seria utilizado para a compra de votos dos eleitores. Mesmo assim, não reclama: - “Eleição é uma escola para jornalismo político. Aprende-se muito, mas tem que trabalhar muito também. Eleição é uma guerra, batalha com desrespeito às regras. O jornalista está no meio e sofre pressões de candidatos. Alguns te apresentam dossiês, outros contam boatos... Mas, no fim, todos querem alguma coisa em troca, um favorecimento”.
Na verdade, tudo o que fazemos na vida é em troca de algo. Trabalhamos em troca de dinheiro, amamos em troca de receber amor, compramos xampú em troca de manter os cabelos limpos. Políticos que oferecem informações a jornalistas querem das duas uma: ou se favorecerem, ou “ferrarem” alguém. Na maioria das vezes, querem as duas opções ao mesmo tempo. Você deve estar se perguntando nesse momento: então, política para quê? Apesar de todos os percalços, desvios de conduta ética e corrupção, é a política que movimenta o país. É o presidente que faz acordos comerciais, que faz o país crescer (ou não); são os deputados que votam as leis... enfim, todos dependem da política. Não há país se não há política, mesmo que nem todos concordem. Afinal, quem nunca pensou: “se os políticos não existissem, o mundo seria bem melhor”?