Meu M(achado) preferido
Quem é leitor de Machado com certeza conhece a maestria com que escrevia suas histórias.
Alguns dizem que Machado tem uma narrativa arrastada, que faz o leitor se sentir um pouco entediado. E o leitor que conhece Machado através de leituras escolares obrigatórias é um candidato a carrasco dos textos de Machado. (Aliás, francamente, não se identifica o carrasco neste caso).
Machado nos remete a outras leituras, outras culturas, e se o leitor não ficar atento, de fato se perde. E nem tem tempo de perceber que o autor gosta de dialogar com ele - seu leitor.
Entretanto, se este leitor tiver a ousadia da leitura e a paciência necessária vai perceber o quão magistral é Machado.
Machado mergulha na alma humana, fala de coisas do dia-a-dia de uma forma tão profunda, de um jeito tão simples, que faz parecer o escrever tarefa como algo corriqueiro, fácil. E sabemos que não é nada fácil captar as sutilezas da vida, menos ainda colocá-las no papel - texto pronto para a apreciação do leitor.
O fato é que se alguém quer mostrar o prazer de ler Machado, com certeza, deve começar com textos mais leves. Embora não menos cheios de ironia, crítica social, relações de poder e de trabalho -, para citar um exemplo - "Um apólogo: a agulha e a linha". Parece um texto ingênuo, sem malícias... Mas, aprecie com um olhar mais crítico, mais voltado para o dia-a-dia, a sociedade. Acabou a ingenuidade do texto e temos Machado fazendo uma crítica à hipocriasia social, à relação de trabalho, aos que "se acham" e nem percebem que fazem parte do jogo de poder, são partes dos mesmos atributos.Texto fantástico.
Aprecie Machado de Assis. E nem precisa de moderação.