Gestação do Conhecimento
 
Houve um tempo em que a força física tinha valor, a força estava no braço. Com a revolução industrial as apostas começaram a sorrir à habilidade técnica. A força estava na ferramenta. Veio a comunicação fácil – Viva a era da comunicação! – a informação abundante – Viva a era da informação! – e todos ficaram capitalizados intelectualmente – Viva a era do conhecimento! Onde estamos agora? Depois do banquete. Parece que chegamos à era do arroto.
É como se estivessemos bem servidos, cheios, inchados de informação. Isso significa dizer que logo começaremos a sentir os efeitos colaterais. Por um tempo a sensação de enfastiados. Durme-se acordado para pensar em tudo o que se pensa. Acorda-se dormindo para fazer tudo o quer fazer e no fim do dia uma lista de coisas cresce. Temos gigabytes de informação no micro, no notebook, no Palm, na Internet, até na  revista do banheiro. Aonde quer que se vá, ela está. Seja para um papo só, emoção passageira, nada sério, só verão, etc...
Quando se dá conta, não ficou nada, não houve gestação!

Falamos de gestão do conhecimento sem saber como gerí-la. Muito menos parir sua gestação. Encantados com o meio, nem pensamos formulamos o fim. Conhecimento não é informação acumulada. Pode-se dizer que é barriga d'água ou que se parece bebê mas, não é nem gases. Quem tem se gaba, até conseguir colocar p'ra fora. Conhecimento tampouco é tecnologia. Uma ajuda que está a fazer a gestão, não a gestação.
No parto do conhecimento ela vira fórceps para quem o dano humano que se dane.

Não são os dados que dão valor ao conhecimento mas, os resultados. O conhecimento é inerente ao humano. O que pensa o autor de tudo isso? Cortemos o cordão umbilical e o conhecimento já era. O que resta é a placenta, a informação dissociada da criação, intuição e razão. Alguns a acalentam como filha, mas não é! É no rebento que está o conhecimento, O fluido, como são os humores vitais. Quem corta o casulo da borboleta para economizar ao inseto, o esforço hercúleo do parto – "esforço hercúleo" em borboleta?! – não faz favor algum. A pobrezinha acaba aleijada das asas, faça o favor, deixa a natureza seguir sua trajetória. Fique claro para todos que a borboleta ao ser espremida na saída ativa os humores que regam as asas e fazem funcionar.
O conhecimento é assim. Está condicionado ao ambiente, às forças que se opõem, a uma conjunção de fatos e fatores que o tornam útil. Não basta abrir a torneira. É preciso sorver, digerir e fazer fluir. Só quando flui é que é bom. Caso contrário não passa de informação.

Daí a importância do ser humano no processo.
E, do processo ser humano. Conhecimento brota de fontes humanas, alimentadas de nutrientes de fora, de dentro e de dentre seu ambiente.
Neste sentido a corporação é um organismo vivo, fértil e fertilizador. Há quem pense que comunicar seja desperdiçar segredos.
Um exemplo são os eremitas; seguem a escola "Mar Morto" de gestão do conhecimento. O Mar Morto é morto porque suas águas estão saturadas de sais. A sonora melodia das águas mananciais perderam ali o compasso. Só saem evaporadas, dispersas e silenciosas, por força de um sol maior, já que não pode dar ré pelo sustenido Jordão. Nenhum desfecho retumbante, nenhum efeito cascata, nenhuma energia gerada ou terras fertilizadas. Águas cativas num banco dos dados cristais de sal.
O mar é morto porque só recebe.
Nunca o contrário, ou seja - dá, jamais!

Outro exemplo citado pelo autor: Gestão do conhecimento não é gestão de estoque de peças de reposição. É gestão da produção – de fábricas construídas entre orelhas que falam e ouvem, riem e choram, sonham e se apaixonam, criam e deduzem, inferem e intuem. Um tesouro impossível de se armazenar sob o risco de estagnar. E, a bendita tecnologia?Ora, de acordo com Persona, serve-nos para bombear esse ouro líquido, ou vira uma sina para quem não a domina. O conhecimento não vale o quanto pesa, mas o quanto flui.
E, só flui se os vasos forem comunicantes e as cabeças pensantes. Saber onde colocar essas cabeças é vital na gestão do conhecimento.

Para finalizar Persona conta uma história passada num consultório dentário.
Fala sobre uma jovem humilde, atendida pela primeira vez por um dentista, não sabia fazer ao entrar no consultório, recebeu a ordem simples de se reclinar na poltrona e colocar a cabeça sobre o apoio. Quando dentista percebeu, ela já estava com o corpo absurdamente transversal e a cabeça sobre a pequena pia de cuspir. Talvez achando que os cabelos seriam lavados antes que os dentes fossem tratados.


Gestação do Conhecimento
Por Mario Persona, consultor e palestrante