Conferência sobre ética - LUDWIG WITTGENSTEIN
FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA – (FGF)
CUSO: DIREITO
TURMA: 2011.1
DISCIPLINA: FILOSOFIA GERAL E DO DIREITO
PROFESSORA: MSC. NÁDIA MARQUES GADELHA PRINHEIRO
RESENHADO POR CAIO RODRIGO JOSUÉ DIAS – (rodrigjosue@gmail.com)
Através desta conferência, Ludwig Wittgenstein apresenta uma nova visão sobre o que é ética e o estudo da mesma. Usando a definição sugerida pelo professor Moore, ele diz que “A Ética é a investigação geral sobre o que é bom”. Entretanto para ele a palavra ética tem um sentido muito mais abrangente do que o recomendado pelo educador. Para fazer a designação do que é ética, Wittgenstein utiliza-se da enumeração de frases curtas, que podem designar qual é o real campo de atuação da ética. Ludwig afirma que:
“Ética é a investigação sobre o valioso, sobre o que realmente importa, ou ainda poderia ter dito que ética é a investigação sobre o significado da vida, ou daquilo que faz com que a vida mereça ser vivida, ou sobre a maneira correta de viver.” (WITTGENSTEIN LUDWIG)
Contudo, o autor afirma que este conceito postulado por ele próprio, é apenas uma aproximação do objetivo da ética. Para ele estas expressões podem desempenhar dois sentidos diferentes, sejam eles: o sentido trivial ou relativo ou o sentido absoluto ou ético.
Caracteriza-se como sentido trivial ou relativo tudo aquilo existente no mundo físico e que pode ser descritível. O autor evidencia a existência do sentido relativo usando o exemplo da descrição da qualidade de uma poltrona. “Por exemplo, se digo que esta é uma boa poltrona, isto significa que esta poltrona serve para um propósito predeterminado.” (WITTGENSTEIN LUDWIG). Mas para Ludwig a ética não usa os termo em seu sentido relativo. Esta faz um uso mais aprofundado, usando-os assim em seu sentido absoluto.
Segundo as idéias defendidas pelo autor, “[...] todos os juízos de valor relativos são meros enunciados de fatos, nenhum enunciado de fato pode ser ou implicar um juízo de valor absoluto.”. Para assinalar esta definição Wittgenstein sugere o exemplo da criação de um livro por um homem onisciente (ou seja, que detém todo o conhecimento) que conheça todos os seres animados e inanimados existentes no planeta, onde ele deposita nesta obra todo o seu conhecimento, assim sendo, este volume conteria a descrição por completo do mundo, todavia, este não se caracterizaria como um discurso em seu sentido absoluto, uma vez que seria apenas um trabalho de cunho estritamente descritivo.
Wittgenstein tenta diferenciar o juízo relativo do juízo ético, usando o exemplo do nosso cotidiano:
“Por exemplo, em nosso livro do mundo, lemos a descrição de um assassinato com todos os detalhes físicos e psicológicos e a mera descrição nada conterá que possamos chamar a uma proposição ética. O assassinato estará exatamente no mesmo nível que qualquer outro acontecimento, como por exemplo, a queda de uma pedra.” (WITTGENSTEIN LUDWIG)
Ludwig afirma que a leitura deste fato, certamente permitiria a instalação de um sentimento de tristeza, raiva, angústia, etc., contudo ele afirma que tal evento, está no mesmo patamar que qualquer outro evento do mundo físico, tal como a queda de uma pedra. Veja que, se a queda de um corpo não pode ser considerada como um sentido ético porque pertence ao mundo físico e tem suas particularidades, o assassinato também obedece a mesma regra.
De acordo com as definições clássicas de ética, o questionamento sobre a brutalidade do homem em relação ao seu semelhante, chegando a tirar a sua vida, seria uma conduta ética, mas para Wittgentein estes argumentos não constituem proposições éticas, uma vez que “[...] seriam simplesmente fatos, fatos e fatos e não Ética.” (WITTGENSTEIN LUDWIG)
Para Ludwig, a ética é uma ciência sobrenatural as nossas palavras, é algo transcendente ao mundo físico, ao mundo concreto. Uma vez que a ética não pertence ao mundo dos fatos, e é de valor absoluto, esta não pode ser verbalizada, isso porque as nossas palavras só descrevem fatos, ou seja, valores relativos.
A ética para existir deveria ser considerada como verdade absoluta e universal, uma vez que atuaria com todos os campos do conhecimento e teria valor absoluto e não relativo. Conforme exemplifica Wittgenstein:
“A estrada correta é aquela que conduz a um fim predeterminado arbitrariamente e a todos nós parece totalmente claro que não há sentido de falar de estrada correta de independentemente de tal alvo predeterminado. Vejamos agora o que possivelmente queremos dizer com a expressão “estrada absolutamente correta”. Creio que seria aquela que, ao vê-la, todo mundo deveria tomar com necessidade lógica ou envergonhar-se de não fazê-lo. Quero dizer que tal estado de coisas é uma quimera.” (WITTGENSTEIN LUDWIG)
Observe que através deste exemplo o autor tem como meta convencer que a estrada considerada absolutamente correta, teria um valor absoluto e por sua vez seria percorrida por todos os homens, e os que não a percorressem se sentiriam culpados por não ter feito tal percurso. Assim podemos fazer a caracterização do que é o significado da palavra “bom” de acordo com a ética. O bom absoluto seria aquilo que independentemente de qualquer coisa, todos o seguiriam, sentindo-se envergonhados se não o fizessem. Portanto, com isso Ludwig nos diz que esse estado de coisas absolutas, adotadas como verdades universais é inexistente. “Nenhum estado de coisas, tem em si, o que gostaria de denominar o poder coercitivo de um juiz absoluto” (WITTGENSTEIN LUDWIG).
O autor passa a trabalhar com a idéia do mau uso da linguagem. Este evento se da a partir do momento em que nós temos um pensamento de valor absoluto, entretanto a verbalização deste pensamento carece de sentido, falta-lhe algum complemento. Se dissermos: “Assombro-me da existência do mundo”, todos compreenderiam que através desta frase estaríamos tentando enfatizar que é espantoso, impressionante, admirável, etc. que o mundo exista e seja como é. Todavia para Ludwig esta expressão é característica do mau uso da linguagem, porque para assombrar-se da existência do mundo tal como é, deveríamos conhecê-lo sendo de outra forma, não sendo como é. No decorrer do texto, o autor cita vários outros exemplos que caracterizam o mau uso da linguagem.
Wittgenstein trabalha com o conceito de que as expressões éticas e religiosas são símiles de outras expressões, uma vez que ética e religião não são passíveis de descrição própria, assim sendo, para que as teorias éticas e religiosas sejam difundidas, os seus difusores se apropriam de expressões similares.
“Quando dizemos: “É uma boa pessoa”, embora a palavra boa aqui não signifique o mesmo que na frase “Este é um bom jogador de futebol” parece haver alguma similaridade [...].
Quando falamos de Deus e de que ele tudo vê e quando nos ajoelhamos e oramos, todos os nossos termos e ações parecem ser partes de uma grande e completa alegoria que o representa como um ser humano de enorme poder cuja graça tentamos cativar.” (WITTGENSTEIN LUDWIG)
Através destas conclusões inferidas pelo autor a respeito da caracterização de Deus como um ser humano, podemos observar a existência da similaridade de expressões aplicada na tentativa de descrever o que é, ou quem é Deus. Ludwig afirma que um símile, deve ser símile de algo, e um fato que pode ser descrito a partir de um símile, também deve poder ser descrito sem ter por base este símile, para assim poder existir por si só e serem considerados algo do mundo concreto. Entretanto a ética e religião não podem ser definidas sem o apelo aos símiles, uma vez que se fizéssemos esta tentativa, depararíamos com algo totalmente sem sentido e inexplicável. Para Wittgenstein a ética é algo sem explicação, porque esta não pertence ao mundo físico, ou seja, não pode ser uma experiência, não pode acontecer, sendo assim “é um paradoxo que uma experiência, um fato, pareça ter valor sobrenatural.” (WITTGENSTEIN LUDWIG)
Wittgenstein finaliza considerando que:
“as expressões carentes de sentido não careciam de sentido por não ter ainda encontrado as expressões corretas, mas sua falta de sentido constituía a sua própria essência.” (WITTGENSTEIN LUDWIG)
A partir do exposto na “Conferência sobre ética”, do filósofo alemão Ludwig Wittgenstein podemos concluir que este considera a ética como sendo uma ciência inefável e esta inefabilidade é que a caracteriza enquanto campo de estudo.
Considerando as teorias defendidas pelo autor, podemos inferir que em sua concepção, as tradicionais definições de ética, muito se distanciam do seu real objetivo, uma vez que para ingressar na realidade ética devemos ultrapassar a realidade do mundo, ou seja, devemos nos encaminhar para o mundo interior, o da razão.
Para Wittgenstein a visão ética deve abranger o conhecimento como um todo, tornando assim impossível a existência de um juiz absoluto, como também fazendo com que o homem seja incapaz de defini-la. Considerando que não temos condições de definir o que é ética, de acordo com Ludwig é melhor calar-se sobre o assunto.
Mas será mesmo que devemos nos calar diante do estudo da ética? Será que a ética só pode ser entendida como defende Ludwig? Consideremos que todos os homens são capacitados de inteligência e que estes têm condições de desenvolver um pensamento crítico. É de fundamental importância que a ética seja estudada e analisada como forma de melhorar a qualidade de vida em sociedade. Não podemos entender a ciência ética como sendo dona de uma verdade absoluta, haja vista que o estudo da ética não é uma ciência exata e sim uma ciência humana, que tem várias vertentes e várias verdades, aplicadas a casos específicos distintos.