A tradição anglo-saxônica nos estudos organizacionais brasileiros
Herick Limoni*
1 - REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
RODRIGUES, Suzana Braga; CARRIERI, Alexandre de Pádua. A tradição anglo-saxônica nos estudos organizacionais brasileiros. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 05, 2001.
2 - SÍNTESE DA OBRA
Os estudos organizacionais brasileiros, apesar de iniciados há quase 30 anos, tem-se mostrado insuficientes quando o assunto é a busca de uma identidade nacional nesse campo, e ainda muito influenciados pelos estudos organizacionais estrangeiros que, por razões óbvias, não levam em consideração as particularidades que afetam e influenciam os rumos de nossas organizações, o que faz com que muitos deles, apesar da exaltação internacional sobre suas aplicabilidades, tenham eficácia parcial quando são aplicados em terras tupiniquins. De acordo com os autores, essa influência internacional nos estudos organizacionais brasileiros é resultado da instalação de multinacionais norte-americanas e européias no Brasil, na década de 50, e o fato de que os primeiros programas de pós-graduação aqui criados, na década de 70, tiveram o apoio de professores das escolas americanas de administração.
Nesse contexto, argumentam os autores que necessário se faz incorporar maior diversidade nessas abordagens, com a inclusão de novas perspectivas que possam trazer mudanças positivas para essa discussão. Argumentam, ainda, que teorias organizacionais não são “receitas de bolo” que podem ser aplicadas de maneira universal, sem considerar os fatores regionais e culturais intervenientes no contexto em que a organização está inserida. Destacam, também, a necessidade do surgimento de estudiosos organizacionais fora do eixo dos países de primeiro mundo, que conheçam a realidade das organizações dos países emergentes e, portanto, sejam mais sensíveis aos problemas endêmicos dessas regiões.
Segundo os autores, um dos maiores entraves para a criação de uma identidade nacional no campo dos estudos organizacionais é o fato de que, devido à abertura dos mercados e a competitividade internacional, as pressões inerentes a esse contexto trouxeram a necessidade de maior qualificação em outras áreas gerenciais, tais como marketing e planejamento, o que fragmentou a discussão, em detrimento da concentração no campo organizacional.
3 - REFLEXÃO CRÍTICA
Essa influência internacional nos estudos organizacionais brasileiros, embora não citada pelos autores, muito tem a ver com o fato de sermos um país colônia. Desde o nosso descobrimento, acostumamo-nos a aceitar, de certa forma passivamente, a imposição de culturas estrangeiras em nosso meio. Tal dependência fez com que, por séculos, acreditássemos que tudo o que vinha de fora era bom, o que acarretou, de certa forma, em uma acomodação e estagnação cultural. Ainda hoje, muitos têm essa concepção.
Felizmente, esse quadro está mudando. Atualmente, o Brasil é referência em diversas áreas, tal como medicina e tecnologia, e nossos cientistas e pesquisadores têm conseguido se fazer ouvir nos meios internacionais. Mas ainda há muito que se fazer. No campo dos estudos organizacionais, esse artigo nos mostra que essa acomodação já começa a incomodar nossos pesquisadores, e esse é o primeiro passo para o surgimento de produtos com a nossa “cara”. Essa não aceitação, e de certa forma irritação com a influência internacional em nossos estudos organizacionais, servem de mola propulsora para a busca de alternativas que sejam capazes de trazer à discussão fatores muito particulares dos países emergentes, em especial o Brasil. Ainda que essa discussão esteja no início, o cenário se anuncia bastante promissor, pois capacidade intelectual não nos falta.
* Bacharel e Mestrando em Administração de Empresas, com ênfase em Segurança Pública e Defesa Social.