RESENHA CRÍTICA DE MÍDIA, MÁQUINAS DE IMAGENS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, DE ROSA MARIA BUENO FISCHER
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Mídia, máquinas de imagens e práticas pedagógicas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro: ANPEd, v. 12, n. 35, p. 290-299, 2007.
Por: Luing Argôlo Santos[1]
Rosa Maria Bueno Fischer é doutora[2] em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996), mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação Fundação Getúlio Vargas (1982) e é graduada em Letras pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1971). É Professora associada nível 02, da UFRGS, e foi membro do Comitê Assessor área Educação da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (2005-2008). De fevereiro a agosto de 2009 foi Visiting Scholar da New York University (USA) - onde realizou seu estágio de pós-doutorado. Foi editora da revista Educação & Realidade, da UFRGS, até junho de 2008. Coordenou o GT Educação e Comunicação da ANPED nos anos de 2005 e 2006 e foi membro do Comitê Científico da ANPED em dois períodos; atua no momento como consultora ad hoc do mesmo GT. É editora associada da revista Education Policy Analysis Archives/Arquivos Analíticos de Políticas Educativas. É membro do Comitê Consultivo do Scielo Educa, gerenciado pela Fundação Carlos Chagas. Tem experiência na área de Educação e da Comunicação, com ênfase em Sociologia e Filosofia da Cultura, estudos foucaultianos e pesquisas sobre mídia, juventude e processos de subjetivação. Coordena o NEMES - Núcleo de Estudos sobre Mídia, Educação e Subjetividade, da UFRGS.
O sistema escolar que se encontra vigente na contemporaneidade vive num contexto de constantes discussões acerca das práticas escolares historicamente instituídas. O uso das novas tecnologias, que têm causado alterações nas vivências atuais e, automaticamente, nos processos educacionais, tem se tornado também motivo de preocupação para muitos teóricos e profissionais dos mais variados setores da educação.
Pode-se observar na maioria das profissões atuais a constante introdução de novas tecnologias para auxiliar e inovar o desenvolvimento das mesmas. Não há motivos para a profissão de educador ser diferente das demais. Assim, o professor deve buscar apropriar-se dos recursos tecnológicos, fazendo com que a prática educacional caminhe lado a lado com o progresso da sociedade.Nos dias atuais, muitos recursos midiáticos já se fazem presentes nas escolas, mas é fácil constatar que estes ainda têm sido pouco utilizados para fins educativos.
Contudo, para se promover essa inclusão, necessita-se de profissionais aptos para fazer o bom uso desses materiais. No parecer de Guimarães[3] (2005), o uso das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) deve ser planejado por pessoas capacitadas, da mesma maneira que se planejam atividades com quadro negro e giz ou lousa e piloto. Segundo ele, a utilização desses recursos implica em algumas dificuldades que só podem ser superadas se instituições de ensino, capazes de mudar, auxiliarem nesse processo. FiSCHER (2005) propõe rearranjos nas práticas curriculares e didáticas no ensino básico, mas não cita que elas precisam ser modificadas também, e com tamanha urgência, no âmbito do ensino superior.
Nesse ínterim, a organização da sociedade atual exige que seja dada maior ênfase nos cursos de licenciatura para a necessidade de se utilizarem materiais midiáticos como fonte de conhecimento nas aulas. Entretanto, a escola e seu corpo docente não devem buscar apenas introduzir tais tecnologias nas salas de aula, mas inquirir sobre elas com estratégias e maneiras pedagogicamente significativas. Para isso, devem estar conscientes dos meios e dos fins a se atingir com a utilização desses instrumentos.
Diante desse complexo contexto, em que a sociedade tem demandado que o uso de novas tecnologias se faça presente nas práticas docentes, que em grande parte não tiveram uma boa formação para isso, torna-se demasiado interessante buscar compreender as discussões contidas no texto “Mídia, máquinas de imagens e práticas pedagógicas”, deFischer (2007),onde se abordam as
[4] “relações entre mídia e trabalho pedagógico escolar, tratando de modos de existência contemporâneos em que práticas cotidianas se transformam, particularmente no que se refere às nossas experiências com os saberes, às formas de inscrever-nos no social, de escrever, de falar, de pensar o mundo e a nós mesmos”.
Para dar início às discussões das temáticas propostas no texto, a autora baseia-se em três cenas para ilustrar comportamentos que se repetem com bastante freqüência no contexto social do século XXI. Enquanto a primeira cena ocorre no meio urbano, a segunda acontece em um meio rural, e a terceira, por sua vez, numa escola municipal na periferia de Porto Alegre. A heterogeneidade das situações abordadas para descrever as três cenas presentes no artigo foi utilizada propositadamente pela autora para mostrar que, nos mais diferenciados contextos da sociedade atual, é demasiado comum encontrar pessoas rotineiras e excessivamente vinculadas às novas tecnologias, sejam elas o celular, a televisão ou o computador com seus inúmeros sites e softwares de relacionamento. As três cenas foram bem elaboradas e retratam a realidade de muitos brasileiros. Segundo a autora, poderiam ser multiplicadas ao infinito. As situações abordadas também nos sugerem que essas tecnologias, ao longo dos tempos, têm modificado relações de convívio, estilos de vida, comportamentos domésticos e, até mesmo, a velocidade e o acúmulo das informações.
Após as cenas citadas anteriormente, baseando-se no pressuposto de que as tecnologias causam alterações na nossa maneira de viver, a autora propõe alguns subtítulos provocadores, formando assim o corpo principal do artigo. O referencial teórico de todo o texto gira em torno da necessidade de os agentes escolares discutirem com seriedade a questão do uso de materiais midiáticos no âmbito das práticas pedagógicas.
O primeiro tópico destacado pela autora ressalta estudos que a mesma realizou nos últimos anos, todos eles relacionados com materiais midiáticos. Algumas dessas investigações foram adicionadas ao texto, intencionando “reforçar a urgência de incluir os materiais midiáticos, e suas relações com o social e o cultural, nos debates sobre didática e práticas de ensino” (p. 292). Defendendo a necessidade de se produzir um constante esforço no estudo das complicadas relações que podem surgir entre mídia e educação, o texto nos sugere repensar até mesmo o sentido do termo “novas tecnologias”. Conforme assinala a autora, “Em primeiro lugar, não podemos perder de vista que, ao escolher a expressão “novas tecnologias”, estamos assumindo uma verdade hegemônica de nosso tempo, pela qual se privilegia o novo pelo novo, promovendo apagamentos” (p. 292).
Também recrimina a ilusória separação que a sociedade faz entre seres humanos e máquinas, arte e tecnologia. De fato, a sociedade atual não se encontra dissociada de tais elementos. Eles estão presentes na nossa cultura, linguagem, escrita, entre outros. Por isso, a autora prega que as mídias, tecnologias e educação sejam debatidas, considerando os mais diversificados contextos dos grupos sociais a que se está fazendo referência. Ela é contra as verdades generalizadas nesse sentido, pressupondo que é necessário estudar tais embates no nosso país, e não somente importar pesquisas estrangeiras para elaborar diagnósticos peculiares da nossa sociedade. Em seus relatos deixa claro que qualquer conclusão generalizada é prematura para se explicar, por exemplo, a paixão comum entre brasileiros e norte-americanos pelo Orkut, pelas séries televisivas, reality shows, etc. Para ela essas questões perpassam estatísticas de pesquisas, mas envolvem também lutas de poder, estratégias de controle globalizadas, dentre outras questões. O importante, entretanto, é analisar essas características com o olhar de educadores, incorporando o que for possível ao cotidiano de práticas escolares.
Pesquisas de Rosa Maria Bueno Fischer revelam que os jovens, nas narrativas midiáticas, são geralmente destacados como referenciais para a sociedade, porém, com seus passados marcados por “produtos midiáticos diversos, jamais desvinculados de práticas consumistas” (p. 294). Assim, as memórias que os jovens têm de si mesmos podem estar sendo modificadas, bem como alteradas as relações de poder dentro dessas vivências. Por exemplo, em questão de segundos podemos se notificar dos “principais” acontecimentos do ano impostos pela TV. Ela constrói passados públicos para o público. De fato,
A televisão, já se disse tantas vezes, é uma grande contadora de histórias; ela nos faz retrospectivas, a cada final de ano, a cada final de década e até de século, como vivemos na entrada do ano de 2000. Ela vai indicando que fatos, que imagens, que sentimentos precisam ser adicionados aos nossos arquivos individuais e coletivos. (p. 295)
Vale ressaltar, em concordância com a autora, que as histórias narradas pelo espaço midiático podem confundir o real com a ficção. Nelas encontramos biografias que contam um pouco da nossa própria história, dos nossos afetos e sonhos, além de fazer uma mediação na produção de nossas memórias, abrindo assim um leque para se tratar a historicidade das diversas áreas do conhecimento escolar.
Nessa perspectiva, cabe ao professor se perguntar como essas manifestações podem aparecer no cotidiano do seu trabalho. A autora também nos conduz a discutir quais são os aspectos que a TV trata como heroísmo. Essa mídia costuma adjetivar algumas histórias como: excelentes, super, mega, extra. Ela justifica que seus exemplos citados objetivam problematizar imagens e narrativas midiáticas, para serem estudadas no ambiente escolar.
Prosseguindo, a autora volta a discutir o assunto das “novas tecnologias” denominando a questão do novo como uma forma de ideologia. De fato, somos influenciados pelas mídias a pensar que o novo é sempre melhor. Por exemplo, poucos sabem que a qualidade sonora do disco de vinil era melhor do que a do CD, mas praticamente todas as pessoas passaram a preferir ao segundo desde seu surgimento. Atualmente, o MP3 que possui qualidade ainda inferior ao último tem ganhado bastante espaço. Muitos também trocaram suas máquinas fotográficas de ótima qualidade, por máquinas digitais novas, mas de qualidade inferior. Entretanto, a autora não se prolonga nessa discussão enfatizando que é indispensável ao professor que atua nesses tempos se apropriar de materiais audiovisuais nas práticas pedagógicas, pois:
[...] há todo um trabalho de simbolização, no lugar daquele que imagina, planeja, produz e veicula filmes, novelas, telejornais, vídeos, assim como há um trabalho permanente de simbolização, no lugar daquele que se apropria do que vê e ouve a partir das diferentes mídias (p. 296).
Logo, a escola e o corpo docente não podem anular os efeitos que tais mídias produzem em nós. Assim, até mesmo o currículo dessas instituições deve passar por uma análise mais detalhada. Segundo [5]Moreira e Silva (2005, p. 32-33):
[...] o currículo escolar tem ficado indiferente às formas pelas quais a “cultura popular” (televisão, música, videogames, revistas) têm constituído uma parte central e importante da vida das crianças e jovens. [...] é necessário que os analistas críticos se tornem menos “escolares” e mais “culturais”.” (MOREIRA & SILVA, 2005, p. 32-33)
A autora aposta na idéia que as mídias são elementos fundamentais da cultura contemporânea. Entretanto, há professores que reduzem os meios de comunicação a duras críticas, que é um caminho mais fácil de seguir. Tais docentes se esquecem que as mídias podem ser utilizadas para incrementar algo mais na sua prática pedagógica e oferecer mais significado às aulas para os estudantes.
A leitura do presente artigo é recomendada para docentes que não pretendem se render à forma pronta e acabada de ensinar que o tradicionalismo determina. Serve de legado para todos aqueles que almejam refletir sobre o uso das novas tecnologias no ambiente escolar, não apenas criticando ou endeusando essas novas tendências do mundo moderno, mas retendo o bem[6] que há nelas, elaborando estratégias e “ferramentas diferenciadas para pensar de outro modo o presente em que vivemos” (p. 298).
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Mídia, máquinas de imagens e práticas pedagógicas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro: ANPEd, v. 12, n. 35, p. 290-299, 2007.
Por: Luing Argôlo Santos[1]
Rosa Maria Bueno Fischer é doutora[2] em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996), mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação Fundação Getúlio Vargas (1982) e é graduada em Letras pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1971). É Professora associada nível 02, da UFRGS, e foi membro do Comitê Assessor área Educação da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (2005-2008). De fevereiro a agosto de 2009 foi Visiting Scholar da New York University (USA) - onde realizou seu estágio de pós-doutorado. Foi editora da revista Educação & Realidade, da UFRGS, até junho de 2008. Coordenou o GT Educação e Comunicação da ANPED nos anos de 2005 e 2006 e foi membro do Comitê Científico da ANPED em dois períodos; atua no momento como consultora ad hoc do mesmo GT. É editora associada da revista Education Policy Analysis Archives/Arquivos Analíticos de Políticas Educativas. É membro do Comitê Consultivo do Scielo Educa, gerenciado pela Fundação Carlos Chagas. Tem experiência na área de Educação e da Comunicação, com ênfase em Sociologia e Filosofia da Cultura, estudos foucaultianos e pesquisas sobre mídia, juventude e processos de subjetivação. Coordena o NEMES - Núcleo de Estudos sobre Mídia, Educação e Subjetividade, da UFRGS.
O sistema escolar que se encontra vigente na contemporaneidade vive num contexto de constantes discussões acerca das práticas escolares historicamente instituídas. O uso das novas tecnologias, que têm causado alterações nas vivências atuais e, automaticamente, nos processos educacionais, tem se tornado também motivo de preocupação para muitos teóricos e profissionais dos mais variados setores da educação.
Pode-se observar na maioria das profissões atuais a constante introdução de novas tecnologias para auxiliar e inovar o desenvolvimento das mesmas. Não há motivos para a profissão de educador ser diferente das demais. Assim, o professor deve buscar apropriar-se dos recursos tecnológicos, fazendo com que a prática educacional caminhe lado a lado com o progresso da sociedade.Nos dias atuais, muitos recursos midiáticos já se fazem presentes nas escolas, mas é fácil constatar que estes ainda têm sido pouco utilizados para fins educativos.
Contudo, para se promover essa inclusão, necessita-se de profissionais aptos para fazer o bom uso desses materiais. No parecer de Guimarães[3] (2005), o uso das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) deve ser planejado por pessoas capacitadas, da mesma maneira que se planejam atividades com quadro negro e giz ou lousa e piloto. Segundo ele, a utilização desses recursos implica em algumas dificuldades que só podem ser superadas se instituições de ensino, capazes de mudar, auxiliarem nesse processo. FiSCHER (2005) propõe rearranjos nas práticas curriculares e didáticas no ensino básico, mas não cita que elas precisam ser modificadas também, e com tamanha urgência, no âmbito do ensino superior.
Nesse ínterim, a organização da sociedade atual exige que seja dada maior ênfase nos cursos de licenciatura para a necessidade de se utilizarem materiais midiáticos como fonte de conhecimento nas aulas. Entretanto, a escola e seu corpo docente não devem buscar apenas introduzir tais tecnologias nas salas de aula, mas inquirir sobre elas com estratégias e maneiras pedagogicamente significativas. Para isso, devem estar conscientes dos meios e dos fins a se atingir com a utilização desses instrumentos.
Diante desse complexo contexto, em que a sociedade tem demandado que o uso de novas tecnologias se faça presente nas práticas docentes, que em grande parte não tiveram uma boa formação para isso, torna-se demasiado interessante buscar compreender as discussões contidas no texto “Mídia, máquinas de imagens e práticas pedagógicas”, deFischer (2007),onde se abordam as
[4] “relações entre mídia e trabalho pedagógico escolar, tratando de modos de existência contemporâneos em que práticas cotidianas se transformam, particularmente no que se refere às nossas experiências com os saberes, às formas de inscrever-nos no social, de escrever, de falar, de pensar o mundo e a nós mesmos”.
Para dar início às discussões das temáticas propostas no texto, a autora baseia-se em três cenas para ilustrar comportamentos que se repetem com bastante freqüência no contexto social do século XXI. Enquanto a primeira cena ocorre no meio urbano, a segunda acontece em um meio rural, e a terceira, por sua vez, numa escola municipal na periferia de Porto Alegre. A heterogeneidade das situações abordadas para descrever as três cenas presentes no artigo foi utilizada propositadamente pela autora para mostrar que, nos mais diferenciados contextos da sociedade atual, é demasiado comum encontrar pessoas rotineiras e excessivamente vinculadas às novas tecnologias, sejam elas o celular, a televisão ou o computador com seus inúmeros sites e softwares de relacionamento. As três cenas foram bem elaboradas e retratam a realidade de muitos brasileiros. Segundo a autora, poderiam ser multiplicadas ao infinito. As situações abordadas também nos sugerem que essas tecnologias, ao longo dos tempos, têm modificado relações de convívio, estilos de vida, comportamentos domésticos e, até mesmo, a velocidade e o acúmulo das informações.
Após as cenas citadas anteriormente, baseando-se no pressuposto de que as tecnologias causam alterações na nossa maneira de viver, a autora propõe alguns subtítulos provocadores, formando assim o corpo principal do artigo. O referencial teórico de todo o texto gira em torno da necessidade de os agentes escolares discutirem com seriedade a questão do uso de materiais midiáticos no âmbito das práticas pedagógicas.
O primeiro tópico destacado pela autora ressalta estudos que a mesma realizou nos últimos anos, todos eles relacionados com materiais midiáticos. Algumas dessas investigações foram adicionadas ao texto, intencionando “reforçar a urgência de incluir os materiais midiáticos, e suas relações com o social e o cultural, nos debates sobre didática e práticas de ensino” (p. 292). Defendendo a necessidade de se produzir um constante esforço no estudo das complicadas relações que podem surgir entre mídia e educação, o texto nos sugere repensar até mesmo o sentido do termo “novas tecnologias”. Conforme assinala a autora, “Em primeiro lugar, não podemos perder de vista que, ao escolher a expressão “novas tecnologias”, estamos assumindo uma verdade hegemônica de nosso tempo, pela qual se privilegia o novo pelo novo, promovendo apagamentos” (p. 292).
Também recrimina a ilusória separação que a sociedade faz entre seres humanos e máquinas, arte e tecnologia. De fato, a sociedade atual não se encontra dissociada de tais elementos. Eles estão presentes na nossa cultura, linguagem, escrita, entre outros. Por isso, a autora prega que as mídias, tecnologias e educação sejam debatidas, considerando os mais diversificados contextos dos grupos sociais a que se está fazendo referência. Ela é contra as verdades generalizadas nesse sentido, pressupondo que é necessário estudar tais embates no nosso país, e não somente importar pesquisas estrangeiras para elaborar diagnósticos peculiares da nossa sociedade. Em seus relatos deixa claro que qualquer conclusão generalizada é prematura para se explicar, por exemplo, a paixão comum entre brasileiros e norte-americanos pelo Orkut, pelas séries televisivas, reality shows, etc. Para ela essas questões perpassam estatísticas de pesquisas, mas envolvem também lutas de poder, estratégias de controle globalizadas, dentre outras questões. O importante, entretanto, é analisar essas características com o olhar de educadores, incorporando o que for possível ao cotidiano de práticas escolares.
Pesquisas de Rosa Maria Bueno Fischer revelam que os jovens, nas narrativas midiáticas, são geralmente destacados como referenciais para a sociedade, porém, com seus passados marcados por “produtos midiáticos diversos, jamais desvinculados de práticas consumistas” (p. 294). Assim, as memórias que os jovens têm de si mesmos podem estar sendo modificadas, bem como alteradas as relações de poder dentro dessas vivências. Por exemplo, em questão de segundos podemos se notificar dos “principais” acontecimentos do ano impostos pela TV. Ela constrói passados públicos para o público. De fato,
A televisão, já se disse tantas vezes, é uma grande contadora de histórias; ela nos faz retrospectivas, a cada final de ano, a cada final de década e até de século, como vivemos na entrada do ano de 2000. Ela vai indicando que fatos, que imagens, que sentimentos precisam ser adicionados aos nossos arquivos individuais e coletivos. (p. 295)
Vale ressaltar, em concordância com a autora, que as histórias narradas pelo espaço midiático podem confundir o real com a ficção. Nelas encontramos biografias que contam um pouco da nossa própria história, dos nossos afetos e sonhos, além de fazer uma mediação na produção de nossas memórias, abrindo assim um leque para se tratar a historicidade das diversas áreas do conhecimento escolar.
Nessa perspectiva, cabe ao professor se perguntar como essas manifestações podem aparecer no cotidiano do seu trabalho. A autora também nos conduz a discutir quais são os aspectos que a TV trata como heroísmo. Essa mídia costuma adjetivar algumas histórias como: excelentes, super, mega, extra. Ela justifica que seus exemplos citados objetivam problematizar imagens e narrativas midiáticas, para serem estudadas no ambiente escolar.
Prosseguindo, a autora volta a discutir o assunto das “novas tecnologias” denominando a questão do novo como uma forma de ideologia. De fato, somos influenciados pelas mídias a pensar que o novo é sempre melhor. Por exemplo, poucos sabem que a qualidade sonora do disco de vinil era melhor do que a do CD, mas praticamente todas as pessoas passaram a preferir ao segundo desde seu surgimento. Atualmente, o MP3 que possui qualidade ainda inferior ao último tem ganhado bastante espaço. Muitos também trocaram suas máquinas fotográficas de ótima qualidade, por máquinas digitais novas, mas de qualidade inferior. Entretanto, a autora não se prolonga nessa discussão enfatizando que é indispensável ao professor que atua nesses tempos se apropriar de materiais audiovisuais nas práticas pedagógicas, pois:
[...] há todo um trabalho de simbolização, no lugar daquele que imagina, planeja, produz e veicula filmes, novelas, telejornais, vídeos, assim como há um trabalho permanente de simbolização, no lugar daquele que se apropria do que vê e ouve a partir das diferentes mídias (p. 296).
Logo, a escola e o corpo docente não podem anular os efeitos que tais mídias produzem em nós. Assim, até mesmo o currículo dessas instituições deve passar por uma análise mais detalhada. Segundo [5]Moreira e Silva (2005, p. 32-33):
[...] o currículo escolar tem ficado indiferente às formas pelas quais a “cultura popular” (televisão, música, videogames, revistas) têm constituído uma parte central e importante da vida das crianças e jovens. [...] é necessário que os analistas críticos se tornem menos “escolares” e mais “culturais”.” (MOREIRA & SILVA, 2005, p. 32-33)
A autora aposta na idéia que as mídias são elementos fundamentais da cultura contemporânea. Entretanto, há professores que reduzem os meios de comunicação a duras críticas, que é um caminho mais fácil de seguir. Tais docentes se esquecem que as mídias podem ser utilizadas para incrementar algo mais na sua prática pedagógica e oferecer mais significado às aulas para os estudantes.
A leitura do presente artigo é recomendada para docentes que não pretendem se render à forma pronta e acabada de ensinar que o tradicionalismo determina. Serve de legado para todos aqueles que almejam refletir sobre o uso das novas tecnologias no ambiente escolar, não apenas criticando ou endeusando essas novas tendências do mundo moderno, mas retendo o bem[6] que há nelas, elaborando estratégias e “ferramentas diferenciadas para pensar de outro modo o presente em que vivemos” (p. 298).
[2] Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4797674P8> Acesso em: 16 abril 2011.
[3]GUIMARÃES, Luciano Sathler Rosa. Novas tecnologias e mudanças no contexto de uma instituição educacional. In: DE OLIVEIRA, Vera Barros (org.); VIGNERON, Jacques. Sala de aula e tecnologias. São Bernardo do Campo: UMESP, 2005. p. 15-28.
4 Disponível em: <http://tecnologiaepraticasinovadoras.blogspot.com/2010/09/midia-maquinas-de-imagens-e-praticas.html>. Acesso em: 10 abril 2011.
[5] MOREIRA, A. F. B.; SILVA, T. T. (Org.). Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In: ______. Currículo, cultura e sociedade. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p. 7-34.
[6] "Examinai tudo. Retende o bem." (I Tessalonicenses 5: 21)