Paulo Freire e Emília Ferreiro: Inspirações para a alfabetização de jovens e adultos
Apresenta-se a seguir uma comparação das ideias de Paulo Freire e de Emília Ferreiro contidas no artigo referenciado acima. Tais ideias podem ser descritas como um apelo contra o ensino tradicional que procura alfabetizar mecanicamente os alunos. Normalmente, esse método consiste em fazer com que os alunos decorem o alfabeto, associando figuras. Em seguida, o mesmo é repetido na aprendizagem das sílabas e das palavras. Da mesma forma, para o aprendizado dos conceitos matemáticos usa-se obrigar o aluno a decorar a tabuada.
Foi com a discordância desses métodos que Emília Ferreiro elaborou seus estudos sobre a “Psicogênese”, e Paulo Freire a Educação libertária, em que no artigo escrito pelas autoras elas abordam de Freire o assunto “temas geradores”.
Na visão de Emília Ferreira, as pessoas não alfabetizadas já possuem conhecimento sobre a língua. Esse ponto de vista está em conformidade com o pensamento de Paulo Freire quando o autor diz que o educando não é uma taboa rasa, como o professor tradicional o considera, mas trás conhecimentos adquiridos da comunidade em que vive. Nesse sentido, considerando esse saber cultural dos educandos, a autora diz que é importante o educador avaliar em que fase eles estão no processo de alfabetização, a fim de que se possa produzir métodos mais bem elaborados. As fases proposta por ela são quatro, a saber: pré-silábica; silábica; silábica-alfabética; alfabética.
Para Emília Ferreira, a forma como os métodos tradicionais são propostos delimitam o sistema alfabético e o fragmentam devido às regras impostas ao sistema linguístico. Isso, ao contrário do que a autora propõe, que é a integração entre língua e realidade, descontextualiza o indivíduo, prejudicando a alfabetização. Dessa forma, a compreensão da escrita faz sentido para o indivíduo na medida em que entra em contato com a realidade. Se isso não acontece, se o professor apresenta um programa que descontextualiza o aluno, este estará produzindo mecanicamente frases sem sentido e sem verdadeira intenção comunicativa. É, portanto, por meio da psicogênese, de Emilia Ferreiro, que o alfabetizando constrói significado ao aprender a ler e a escrever, ampliando seus conhecimentos sobre a língua. Comungando do mesmo posicionamento, Paulo Freire, ao introduzir métodos de alfabetização utilizando “temas geradores”, procura fazer também essa integração entre língua e realidade, pois os temas escolhidos para as aulas emergem do meio social dos alunos e de suas necessidades de aprender. Esses temas como vem dos próprios alunos, são conhecidos deles, e certamente ao estudá-los farão sentido para eles, dessa forma, se o professor tem essa sensibilidade de ouvir seus educandos, isso pode auxiliá-lo na organização das aulas, facilitando seu trabalho e o aprendizado dos alunos. As autoras do artigo dão um exemplo de Paulo Freire na integração entre língua e realidade: no livro do autor “O Ivo viu a uva”, Ivo não fará nenhum sentido para os alunos se não conhecerem quem é “Ivo”, da mesma forma, se não consumirem “uva” frequentemente, essa palavra não fará sentido para eles também. Nota-se que o pensamento de Emília Ferreiro e de Paulo Freire se complementa, na medida em que a autora busca uma integração entre a língua e a realidade e o autor, para isso, elabora um método que torna isso possível.
Esse método de Freire, que consiste em utilizar o cotidiano como fonte de conhecimento no processo de alfabetização, visa levar ao educando vencer as dificuldades da escrita naturalmente a partir das reflexões que fará sobre a língua e esse cotidiano. Porém, essa escrita virá acompanhada de diversos erros que fogem aos padrões convencionais da língua. Sobre isso, o parecer de Emília Ferreiro que esta em conformidade com os métodos de Freire, explica que tais erros acontecem devido ao efeito sonoro das palavras, ou seja, o indivíduo escreve da mesma forma como pronúncia as palavras e isso só é vencido com o tempo. Assim, mas uma vez nota-se a complementação entre o pensamento de Ferreiro e Freire.
A prática de Emília Ferreiro e de Paulo Freire é interativa, pois faz com que os educandos busquem na vida social subsídios para aprender a ler e a escrever, fazendo com que evoluam dos conhecimentos de onde partiram. Essa busca sugere a comunicação entre os alunos e a troca de experiências. Pois quando a autora afirma que o aluno precisa produzir um texto que faça sentido e que tenha uma intenção comunicativa, isso implica a presença do outro. Assim, também Paulo Freire mostra que a prática dialógica é condição essencial para a construção de sentido, ou seja, o “eu” depende inteiramente de um “tu” para se reconhecer como pessoa no ato comunicativo.
MENEZES, L. F.