Resenha- De Partidas e Saudades - por Maria João OLiveira
"De partidas e saudades" é mais um texto de Belvedere Bruno, que dirá respeito a todos. Um texto bem construído, que me tocou, e nos convoca para o diálogo, porque é de nós que ele trata.
Morremos tantas vezes, quantas vezes se sente o peso deste "nunca mais". Tinha razão Romain Rolland, quando escreveu: "Cada um de nós traz, no fundo de si, um pequeno cemitério daqueles que amou". Lidar com esta perda não é fácil ("...São tantas as coisas que me levam até eles!"). Perante o rosto morto de um ser único e irrepetível que amámos muito, ergue-se uma pergunta dramática e irrespondível: E agora?!...
Sabemos que somos seres finitos ("Não há como deter a sensação de finitude a cada partida anunciada."), mas procuramos sugar o tutano da vida, obviamente. Porém, quando perdemos aqueles que amámos muito, "só a saudade tem força em meio ao vazio que deixaram".
O presente do indicativo que predomina, neste texto, traduz a permanência da transitoriedade que é preciso aceitar ("Porém, situo-me. Preciso manter a sanidade. Fixo o pensamento no aqui, no hoje, e deixo, por um tempo impreciso, o ontem imerso em calmarias").
O amor deu sentido a tudo o que se viveu, mas será que dissémos tudo o que deveríamos ter dito, será que fizémos tudo o que poderíamos ter feito ( "...Quantos "te amo" omiti, quanto feri, deixei de agradecer, desestimulei sonhos alheios.")?
Enquanto não se leva "o óbolo ao barqueiro sombrio", as possibilidades ainda não estão esgotadas e a consciência da morte poderá, eventualmente, levar-nos a colocar a questão de Deus e da urgência de dar sentido à vida (a morte remete-nos para a vida, não é verdade?). Contudo, seria bom "não mais dizer adeus (...)", embora a morte não seja, certamente, o naufrágio total ("...Procuro inserir, não sei como, nem onde, a palavra renascimento.").
Gostei deste conto, Bel. Obrigada.
Um abraço
Maria João Oliveira