"A FARSA" I PARTE DO Longa-metragem de: Flávio Cavalcante

A FARSA

Longa-metragem de:

Flávio Cavalcante

SINÓPSE

Este trabalho retrata uma realidade muito nua e crua na vida de qualquer um de nós. Um mal disfarçado de bem e desconhecido pela maioria de nosso povo “A LEUCEMIA”.

Aqui fazemos uma campanha maciça tentando alertar ao telespectador de forma geral sobre este mal, que pode se infiltrar na nossa família sem ser convidado e em qualquer hora sem pedir licença, destruindo todo sonho de maneira inescrupulosa.

O palco de ilusões da vida real compõe toda a faceta no dia a dia do ser humano.

É indescritível o prazer que nós autores temos ao desenvolver o lado psicológico de um personagem. É um ponto crucial marcado em dissimulação no papel, mas entranhado crucialmente na vida de muita gente.

A mente do ser humano é de fato uma engenharia extraordinária, completamente fora do alcance de nossa concepção.

Existem pessoas que vivem dissimulando sua própria vida no dia a dia e acredita na farsa sendo ele o personagem que sua mente o fez acreditar que é um fato.

Cada cabeça é um universo misterioso. Na nossa trama retratamos bem este assunto na pele do Ruy. Vítima de seus próprios distúrbios, teve que armar uma grande farsa para escapar ileso da morte. Deixou a sua vida sob responsabilidade de seu maior amigo Alfredo, que por obra do destino, foi também marcado por uma grande farsa e teve que criar sua própria farsa para não deixar nada a desejar na confiança ao amigo, que carrega o mal da doença que abordamos.

Essa estória marca sentimentos vis correlacionados ao ódio, vingança, fúria, gerando discórdia, desunião, ocasionada por causa destas farsas pontuadas na obra, onde ninguém consegue deixar de ser vítima, inclusive o próprio autor da farsa; mas tudo no mesmo objetivo acentuar o amor como o sentimento mais nobre que o homem pode carregar para a sua evolução.

A farsa é uma trama que vai mexer com os nervos do telespectador.

Flávio Cavalcante

Roll dos personagens

RUY

BIA

BRUNINHA (Criança).

VICTOR (Criança).

MATHEUS (Criança).

CARLINHA (criança).

ALFREDO

MAMA BELA (Mãe da Bya).

D. ALICE (Mãe do Ruy).

BETO (Irmão de Criação do Ruy).

FIGURANTES

HOMEM

HOMEM1

HOMEM4

HOMEM5

HOMEM6

APOIO

TAXISTA

HOMEM2

HOMEM3

CIGANA

MATHEUS(Melhor amigo do Victor).

MÉDICO

EMPREGADA DA BIA

PROFESSOR DA VICTOR GIM

OFF

RUY

(Como se tivesse dando uma entrevista).

Tantas farsas, juntas, não é? Mas acho que foi preciso embarcar no mundo destas farsas e ter do meu lado todos estes farsantes do bem comigo, para chegar ao pódio que estou agora... Não importa a forma da farsa, o que importa é que temos que dar as mãos, no combate e este mal, que quase destruiu a minha vida e destrói a vida de tanta gente... Invade o lar sem nem pedir licença... (Transição). O que eu quero é esquecer tudo o que passei... (Suspira forte). Vida nova... Vamo que vamo! (Transição). Mas é sério... Nunca pensei que um dia fosse andar lado a lado com a morte e até dormir na mesma cama com um inimigo invisível. (Chora). A Leucemia quase destruiu a minha vida... Que me levasse até pro inferno se ela quisesse... Mas não a perdoaria se eu partisse sem ter o perdão da mulher que eu mais amo neste mundo que é a minha mulher BIA... (Beija a Bia). Eu te amo muito...

CENA.1

Externa. Dia. Câmera mostra numa geral uma rua movimentada. Câmera passeia por entre ruas como se alguém tivesse correndo( R1 ). ( H1 ) Flash back de um homem numa maca sendo empurra por médicos dentro de um hospital. Câmera num ângulo, mostrando a partir dos cílios do paciente deitado na maca olhando para teto que dá impressão que a maca está em movimentos. ( _ R1) Flash back de várias lugares da cidade, fazendo fusão do alto mostrando um homem correndo em várias ruas. Câmera estaciona em beco e mostra o homem se escondendo e procurando alguém. ( _ H1 ) Flash back do homem na maca, que faz uma fusão com a bia e o Ruy num luxuoso restaurante em Madri num ambiente á meia luz. Câmera numa geral mostra um casal dançando uma coreografia cigana para o casal. ( _ R1 ) Em flash back, Câmera passa imediatamente para o outro lado da rua. Um outro homem aparece e dá um toque para ele e mostra uma bolsa. O homem corre pega a bolsa e sai correndo. ( _ H1 ) Câmera mostra os olho do paciente correndo ainda na maca em movimento. Flash back de Ruy Lutando com o Alfredo na academia e logo uma fusão do nascimento do Victor (Chora de criança em eco) . ( _ H1 ) Câmera no mesmo plano da cena anterior, focaliza uma lágrima descendo do rosto de rui. Câmera em vários enfermeiros trabalhando os exames do Ruy. Flashs back de um enfermeiro segurando dois tubos de ensaios. Câmera dá close nos tubos de ensaios com um adesivo colado escrito “ESPERMA DO PACIENTE RUY” ( _ R1 ). (_ H1). Câmera em Ruy que arregala os olhos. Flash Back, mostrando Ruy em um ambiente da academia sentindo muita dor de cabeça e cansaço. O professor de patins pára e ver o Ruy num canto cansado.

TREINADOR DE PATINS

Algum problema, Ruy?

RUY

Não... Nada, não... Acho que estou meio fora de forma... Me bateu um cansaço de repente... Tou sentindo uma forte dor de cabeça, mas nada que um analgésico não resolva... Flashs back de Ruy sentindo muita dor de cabeça e mostra a voz em off com efeito). Nossa! Não tem noção como dói... Parece que existe uma bomba atônica dentro da minha cabeça...

D. ALICE

(Voz também com efeito). Ruy, meu filho... Tome um analgésico... Tome um analgésico... (Flashs back de Rui se olhando no espelho).

RUY

Minha barriga ta crescendo! Tem alguma coisa errada comigo... Esse cansaço... Essa dor de Cabeça... Meu Deus! Eu não estou me sentindo bem... (flash back assim que Ruy fica sabendo da Leucemia que o médico soletra LEU-CE-MI-A... RUY NÃOOOOOOOOOOOOOOO... (Pega um objeto e joga no espelho. Câmera funde o não do Ruy com os estilhaços do espelho).

((H1). Ruy chega á sala de cirurgia. Vários enfermeiros se aproximam. Câmera em Ruy com expressão de espantado. Flash back de Ruy á frente do médico e sua mãe D. Alice e do Alfredo).

MÉDICO

Você tem que se controlar, Ruy...

D. ALICE

Com certeza é só uma indisposição... Eu já falei pra ele que esforços demais acaba atingindo...

MÉDICO

Dona Alice... Escute... É muito grave o problema do Ruy...

RUY

(Espantado). O que? Como assim, grave?

MÉDICO

Você está com um tipo de leucemia...

RUY

(Em desespero). Mas não possível... Eu sempre me alimentei muito bem... Pratiquei e pratico vários esportes...

D. ALICE

Meu filho é dono de academias....

MEDICO

Isso não quer dizer nada... Ela chega em qualquer lugar... Você começa uma nova vida a partir de hoje... Em busca de uma solução pro seu problema...

D. ALICE

Dinheiro não é problema...

MÉDICO

Não questão de ter dinheiro ou não... É questão de compatibilidade e solidariedade. Você faz parte de um grupo de grãos de areia perdidos no deserto... E se encontrar essa compatibilidade a questão é saber se o doador vai ser solidário ou não, se ele quer ou não fazer a doação da medula...

RUY

(Querendo se revoltar). O que o senhor ta querendo dizer? Que eu vou morrer?

D. ALICE

(Tentando amenizar). Meu filho se acalme...

RUY

Pro inferno com a minha calma... Eu não vou morrer... Eu não vou morrer... (Dá um murro na mesa. Câmera em Ruy com expressão de alucinação).

(_ H1). Câmera mostra o monitor de batimentos cardíacos em pleno funcionamento. Câmera dá close nos olhos de Ruy, que demonstra todo um pavor. Câmera mostra flashs do Ruy comunicando ao seu sócio que precisa viajar em busca de tratamento. Câmera não mostra o rosto do sócio

SÓCIO

Que farsa é essa, Ruy... Você é um cara inteligente e sabe que eu não vou acreditar nessa história da carochinha...

RUY

(Com raiva). Que história da carochinha? Eu estou com Leucemia e preciso de um doador compatível... Por isso que eu tenho que correr contra o tempo... (O Sócio ri ironicamente).

SÓCIO

Não tente dar o golpe do baú... Isso é coisa antiga... Você que temos um contrato...

RUY

(Mais nervoso ainda). Vá pro inferno... Dane-se o contrato... Nada é mais importante que a minha saúde... (O sócio gargalha ironicamente. A voz do Ruy com Efeito). Vá pro inferno... Vá pro inferno...

(_R1). Câmera mostra o homem muito cansado de tanto correr. Olha para os lados para ver se alguém o seguiu, entra numa portinha e encontra o Ruy.

HOMEM2

Pronto... Todo dinheiro que você vai precisar está aqui... Se manda, antes que seja tarde demais...

RUY

(Tenso). Mas eu não posso sair sem antes avisar a minha mulher, entende? É a minha mulher, porra... Meu filho recém nascido...

HOMEM2

(Decidido). Não entendo o porquê ainda está aqui... O circo tá armado... Se fizer como combinamos, ninguém vai desconfiar de nada... (Ouve-se vários disparos de revólver).

RUY

O que foi isso?

HOMEM2

(Pega na beca do Ruy). Vá embora! Agora, antes que você nunca mais tenha a chance de vir sua família novamente. (Outros disparos. Transição aos berros). Vá embora, caramba... Seu passaporte está dentro da bolsa... Desaparece daqui, antes que você me comprometa... (Transição). Agora vai... (Câmera em Ruy, ainda meio que indeciso. Câmera no homem que percebe a indecisão do Ruy. Transição pega na beca do Ruy).

RUY

(Querendo desistir). Espere aí... Eu tou pensando outra coisa... Eu acho melhor...

HOMEM2

O que você ta pensando da vida, oh, cara... Ta todo mundo envolvido nessa farsa! Por sua causa...

RUY

Por minha causa, não... Eu não tenho culpa de estar doente...

HOMEM2

Ninguém tem nada a vir com essa tua doença, Ruy... Você precisa se ausentar... Tratar dessa praga longe dos olhos do todo poderoso...

RUY

Mas podemos reverter o quadro... Eu falei a verdade pra ele... Eu assinei aquele contrato, eu sei... A Victor Gim agora é uma potência...

HOMEM2

Por isso mesmo... No contrato você deixou bem claro... Existem cláusulas que comprometem toda estrutura da sociedade Se você abandonar o seu posto...

RUY

Mas eu não estou deixando o barco afundar, só estou precisando de um tratamento... Será que ele não percebe que se eu não me tratar, vou acabar morrendo? Eu preciso correr atrás de solução pro meu problema...

HOMEM2

Não é isso que o chefe ta achando... Cara, escuta... O homem investiu toda sua vida financeira nessa empresa... Ele ta sabendo do seu afastamento... E isso abalou totalmente a estrutura da sociedade... A sua morte comprovada se trata de lucro pra ele, você sabe que existe seguro, caso aconteça alguma coisa com você...

RUY

(Espantado). O que você ta querendo dizer com isso? Que ele ta querendo me matar?

HOMEM2

É a lei da selva, Ruy... A fera querendo abocanhar a presa... Eu e o Alfredo sabemos que você é apenas uma vítima... Tivemos que inventar essa farsa... Pelo amor de Deus... Não se acovarde diante da realidade agora... Vá embora, não perde tempo...

RUY

Eu não posso fazer isso... Eu tenho minha família... Eu tenho a minha vida...

HOMEM2

E tu acha que essa tua merda de vida vai ter valor algum se você permanecer aqui? Você precisa se cuidar pra desfrutar de tudo que ta aí dentro dessa bolsa... Então fica aí esperando ser cravado de bala... Tem coisa que a gente faz na vida, que não tem outra forma que não seja uma escolha... E agora você escolhe o que é melhor pra você... Ou a sua família... Ou a morte... O seguro cobre todo prejuízo se isto vier acontecer...

RUY

(Demonstrando profunda tristeza) É... Abracei a causa e agora tenho que ir... (Câmera no homem que faz gestos apontando pro relógio, indicando que as horas estão passando. Ruy sai correndo assustado. Câmera mostra o Ruy se escondendo. Vai passando um Taxi. Câmera em Ruy que acena para o taxi parar. Câmera mostra o Ruy entrando no Taxi. Câmera passa para o interior do Taxi). Vamos embora deste lugar... No caminho eu falo pra onde vamos... (Câmera dá close nos pneus do taxi que sai cantando. Câmera mostra em geral o taxi se distanciando. Corta).

CENA.2

Interna. Dia. Interior do Taxi. Câmera em Ruy que pega o celular e liga pro Alfredo.

RUY

(Falando com o motorista). Pode seguir em frente... (Câmera em Ruy que pega o celular e liga pra alguém). Tou indo pra aí agora... Não, pode me aguardar... (Transição com o motorista). Vamos para o arpoador, por favor... (Câmera em close na mão do taxista que passa a marcha e sai. Corta).

CENA.3

Interna.Dia. Sala da residência de Bia. Bia tenta acalentar o Victor ainda bebê, que chora sem parar. Câmera mostra bia impaciente e nervosa. Tenta ligar para o telefone do Ruy, mas dá sinal de fora da área.

BIA

(Câmera em Bia pensativa. EM OFF). Onde será que ta esse homem? (Transição). Chora não, filho... Mamãe ta tentando falar com o papai... (Câmera dá close num porta-retrato em cima de uma mesa. Na foto está o Rui e a Bia segurando o Victor na hora do seu nascimento. A cena de imediato se torna real.

RUY

Como ele é lindo o nosso filho, meu amor... (Beija a Bia).

BIA

É lindo demais... Eu pensei em pôr o nome dele de Victor... O que acha, amor?

RUY

Adorei... (Transição. pensativo). Victor, bem a carinha dele... (O taxista chama atenção Ruy, que estava pensando naquele dia).

TAXISTA

Senhor... Acabamos de chegar no seu Destino...

RUY

(Ruy desperta como o acordar de um sonho). Ah, desculpa... Eu estava pensando umas coisas aqui comigo mesmo... (Transição). Quanto lhe devo?

TAXISTA

Trinta reais... (Câmera em Ruy que paga o taxista e desce com a mala na mão).

RUY

O senhor me aguarda aqui... Eu já volto e ainda vou precisar dos seus serviços...

TAXISTA

Ok... Ficarei aqui plantado lhe esperando... (Câmera em Ruy que corre o olhar pelo lugar. Câmera passeia pelo lugar como se fosse os olhos do Ruy. Lugar meio deserto. Rui atravessa uma rua, com expressão de desconfiado demonstra um certo cansaço. Chega á frente de um prédio meio abandonado, olha para os lados e entra. Câmera passa imediatamente para o interior do prédio. Ruy pára em frente a um apartamento. Câmera da close no número do AP 411. Câmera dá close na mão do Ruy apertando a campanhinha. Corta).

CENA.4

Interna. Dia. Interior do apartamento do Alfredo. O cenário é de um AP bagunçado como em casa de solteiro. Câmera em close numa mão abrindo a porta. Câmera mostra o Ruy.

RUY

Posso entrar?

ALFREDO

Entra depressa... Vamos... Entra logo... (Ruy entra depressa fecha a porta rapidamente. Ruy encosta na porta. Câmera em Alfredo, que abraça fortemente o Ruy)... Ai... Graças á Deus está tudo certo com você... Não imagina como eu estava preocupado...

RUY

Até agora não me arrancaram nenhuma unha sequer...

ALFREDO

É, mas há de convir que é chegada a hora de se mandar do país, meu amigo... Infelizmente não vejo opção de lhe pedir pra ficar... (Câmera em close no Ruy com expressão de tristeza). Não é hora pra fazer essa carinha de tristeza... infelizmente o destino nos pôs em um jogo e não há outra forma que não seja... Jogar, Ruy...

RUY

É, eu sei... Desde a hora que descobri que estou com essa maldita doença... Não tive mais sossego na minha vida...

ALFREDO

Você tem que ir, amigo... Temos uma sociedade muito promissora e não quero ter um sócio morto de forma covardemente...

RUY

Eu sei...

ALFREDO

Já bolamos tudo... Já tudo no esquema por aqui... Nas nossas empresas lá, você sabe como fazer... Vá embora e deixe o resto comigo...

Ouve-se vários tiros. Câmera em Ruy com expressão de espanto. Câmera em Alfredo que olha pela janela).

RUY

E aí? O que está acontecendo?

ALFREDO

Por enquanto nada... Estamos próximo de uma favela... É comum ouvirmos estes disparos de vez em quando...

RUY

(Aliviado). Menos mal... (Ruy sente uma tonteira). Senti uma tonteira de repente...

ALFREDO

(Encarando o Ruy). Menos mal? Você está todo encrencado se ficar por aqui... A sua presença, Ruy... É risco de vida pra todos nós, inclusive a Bia e o Victor, que não tem nada a vir com tudo que está acontecendo... (Transição). Os caras tão te procurando... A cidade não é tão grande assim... Por sorte não te encontraram ainda, mas isso não vai demorar acontecer... (O telefone do Alfredo toca. Câmera em Alfredo que olha para o visor do seu celular). É a Bia...

RUY

(Tenso). Ai, meu Deus... Minha mulher...

ALFREDO

Não adianta se desesperar... Ela não pode saber que você está aqui... (Atende ao telefone). Oi, Bia... Tudo bem? (Pausa. Transição). Ah, ta... Você já tentou falar com ele pelo telefone? (Transição). Ta desligado? Se preocupe não, que eu vou tentar localizá-lo e te ligo... (Câmera passa para a Bia, falando ao telefone brincando com o Victor com aproximadamente dois anos, que chora sem parar).

BIA

Desculpa ta te ligando, Alfredo... Mas é que eu pensei que o Ruy tivesse aí por perto... (Câmera passa imediatamente para o Alfredo).

ALFREDO

Não... Ele não está... (Transição). Tudo bem... Qualquer coisa eu te falo... tcha, tchau... (Desliga o telefone).

RUY

(Se desespera). Eu preciso falar com a minha mulher... (Alfredo impede).

ALFREDO

Falar o que, Ruy? (Transição). Pelo bem que eu sempre tive a você... Acho que você não entendeu bem o grau de perigo que você está pondo a sua mulher e seu filho... Cara, não tem outra forma a não ser se mandar daqui agora... Não se atreve a ligar pra tua mulher... Os caras tão grampeando tudo em si tratando de você... Dá o fora sem nem olhar pra trás... Aliás, já deveria ta no meio do mundo... (Ouve-se um barulho de arrombamento de porta). Opa! Se esconde ali atrás... (Ruy se esconde). Foi no apartamento aqui de baixo... Vai ficar aqui ainda esperando uma recepção nada gentil?

RUY

(Sério. Encara o Alfredo e o abraça fortemente). Vou sentir saudades, cara... Cuida de nossos negócios! Me promete que vai cuidar da Bia e do meu filho...

ALFREDO

Claro, que sim... Você é que tem que se cuidar também da sua saúde... Quanto ao Victor e a Bia... Você acha que eu vou abandoná-los exatamente nesse momento? Vasa daqui, Ruy... (Câmera em Ruy, que limpa os olhos). Desce pela escada de serviço, Por ali só anda funcionários... (Ruy olha assustado de um lado para o outro e sai). É só seguir o corredor... (Ruy desce as escadas. Câmera mostra o Ruy correndo descendo ás pressas. Câmera passa imediatamente para o AP onde está o Alfredo. Campainha toca. Alfredo vem atender. Câmera em Alfredo, que olha pelo olho mágico da porta. Câmera em Alfredo com expressão de tensão). O que vocês querem? (Alguém fala do lado de fora).

HOMEM3

(EM OFF). Vai abrir essa merda de porta, ou vai querer que a gente derrube... (Alberto abre a porta sem demora. Câmera mostra quatro homens muito bem armados).

ALFREDO

(Levantando as mãos). Calma... Calma...

HOMEM3

(com autoridade). Calma é o cacete... Cadê o Ruy?

ALFREDO

Eu não sei onde ele está...

HOMEM3

Vasculhem... (Os outros três invadem o apartamento á procura do Ruy). Se tiver Encobrindo as cachorradas do Ruy, tenho ordens pra te mandar pro inferno daqui mesmo... (De revólver acionado).

ALFREDO

(Com medo). Eu não sei onde o Ruy está... Eu já falei que não sei...(Câmera numa geral mostra os três homens voltando dos cômodos do apartamento e dão sinal para o homem três que não encontraram nada).

HOMEM3

Procurem pela redondeza... Tenho certeza que ele está aqui... Vocês receberam muito bem pra encontrar aquele canalha... Quero ele morto e tragam o corpo pra levá-lo pra o chefe... (Transição). Vamos... Depressa antes que ele suma das nossas vistas... (Os três homens saem. Câmera no Homem3 que faz um olhar de mal apontando a arma para o Alfredo e sai. Câmera em Alfredo que de olhos arregalados, suspira aliviado. Corta).

CENA.5

Interna. Dia. Interior do Taxi já em movimento. Câmera em Ruy, sempre olhando para os lados á ponto de chamar a atenção do Taxista. Ruy pega o celular e liga pra Bia muito cansado. Ruy começa a sentir a vista ficar embaçada. Câmera passa imediatamente para a Bia atendendo ao telefone.

BIA

Alô... (Ruy só ouve a voz da Bia e quando escuta o choro da criança, ele cai em lágrimas e desliga o telefone logo em seguida).

TAXISTA

Há algum problema, senhor?

RUY

Não... Nenhum problema. Vamos para o aeroporto, por favor... (Câmera faz uma externa e mostra o taxi se distanciando. Corta).

CENA.6

Externa. Dia. Frente á residência de Bia. Câmera numa geral mostra o carro do Alfredo chegando. Câmera passa para o interior do Taxi onde está o Ruy. Toca o celular do Ruy. Ruy olha no visor do Celular e faz expressão de pavor. Ruy fica desnorteado e fala consigo mesmo.

RUY

(Quase em murmúrio). Eu vou atender... Não tem perigo nenhum... (Chama a atenção do Taxista. Câmera em Ruy que atende o telefone). Alô! (Do outro lado do telefone. Câmera mostra um ambiente como se fosse um escritório luxuoso, mas mostra só a sombra do homem poderoso).

CHEFÃO

Você ainda ta vivo, canalha? Não adiante querer correr... Você não quer que eu acredite nessa farsa de que você é um portador de Leucemia... Vou pegar você em qualquer lugar deste mundo, Ruy... Pode ficar esperando... (Transição). Mesmo que isso fosse verdade... Você não iria conseguir uma medula óssea assim com facilidade... Seus dias estão contados... E eu não vou ter o prejuízo que você está pensando... Não tente fugir, Ruy... É chegado o seu fim... (Telefone fica mudo).

RUY

(Ruy se apavora). Vá pro inferno...

TAXISTA

O que está acontecendo, senhor?

RUY

Desculpa, não é nada não... Preciso chegar urgente ao aeroporto... Se puder voar lhe agradeço...

TAXISTA

Farei o impossível pra isto... (Câmera em geral numa externa mostra o Taxi se afastando. Corta).

CENA.7

Interna. Dia. ACADEMIA VICTOR GIM. Câmera passei pela Academia mostrando em total funcionamento. Alfredo conversa fala com a secretária que ligue pra mãe do Ruy.

ALFREDO

Célia... Ligue urgente pra D. Alice. Preciso muito falar com ela... De preferência aqui na academia...

CÉLIA

Pois não, seu Alfredo. (Câmera passa para a sala do Alfredo na Academia).

D. ALICE

É, a Leucemia não pede licença pra entrar... Há qualquer momento tudo pode mudar na vida de uma família... (D. Alice chora). Preciso fala com o meu filho... Mas você queria falar comigo...

ALFREDO

Pra lhe comunicar que a essa hora, o Ruy deve ta a caminho de Madri...

D. ALICE

Como assim? Madri...

ALFREDO

É! Outro assunto... Coisa de negócios grandes... Credores e devedores...

D. ALICE

Sim... Mas... E a Bia?

ALFREDO

Ela não está sabendo ainda...

D. ALICE

(Revoltada). Não acredito que o Ruy fez uma coisa dessa, Alfredo... O Victor só tem um ano e meio... Meu Deus! Estou sem palavras pra expressar tanta crueldade vinda do filho que eu botei no mundo...

ALFREDO

D. Alice... Escute... Eu vou explicar tudo pra senhora! Senta aqui... (Câmera em Alfredo que leva a D. Alice pra sentar numa confortável cadeira).

OFF

Foi inevitável a reação de espanto da minha mãe. Ela já sabia que eu carregava essa enfermidade, só não tinha caído a ficha de que eu estava correndo um alto risco de vida, que a minha situação era de uma gravidade sem fim. Começava ali uma maratona em busca de uma medula compatível.

D. ALICE

Mas como vamos fazer isso sem que a Bia saiba... Isso é loucura...

ALFREDO

Não é não... A bia não vai aceitar essa fuga do Ruy... E eu não posso entrar em detalhes pelo menos agora, não...

D. ALICE

E se eu fosse ela, também não aceitaria...

ALFREDO

Então temos que agir sem que ela saiba por enquanto... O Ruy depende dessa medula pra sobreviver... E se ela pôr o pé atrás, e não aceitar o exame no garoto, vamos perder um tempo que deveria ta sendo utilizado para uma cura breve do nosso Ruy... Ele vai ter que escapar dessa, dona Alice...

D. ALICE

Coração de mãe fica molinho quando age em proll de um filho... Vamos armar a farsa direitinho... (Câmera em D. Alice que olha o Alfredo com ar de Preocupada. Flashs back da cidade. Corta).

CENA.8

INTERNA. DIA. NO SOAGUÃO DO AEROPORTO. A FUGA DO RUY.

Câmera mostra do alto toda a movimentação do soaguão do aeroporto e Ruy entre os passageiros com expressão de preocupado. Câmera mostra o visor do relógio de Ruy e expressão no rosto dele de preocupado. O sinal de aviso do número do vôo para Madri coincide com uma funcionária do aeroporto pondo a mão no ombro do Ruy que toma o mais susto.

FUNCIONÁRIA

Posso ajudar, senhor? Já viu o seu chequing?

RUY

Não... Muito obrigado... Eu já estou providenciando isto... (Câmera em Ruy que se afasta olha sempre para os lados com expressão de assustado).

OFF

(Câmera numa geral mostra o saguão do aeroporto e o alto falando chama). Vôo 974 com destino á Madri... Passageiros dirijam-se ao portão 4 para embarque... (Câmera em Ruy, que supira forte. Takes mostram Ruy segurando firmemente a mala e entra pela portaria para pegar o vôo. Câmera mostra Ruy se acomodando em sua poltrona dentro do avião. Câmera em Ruy que olha pela janela e se emociona. Acenando a mão alisando a janela. Câmera em close numa lágrima rolando do rosto de Ruy. Flash Back de Ruy lembrando da Bia. Câmera em Ruy demonstrando uma profunda tristeza. Flash de um beijo apaixonado na Bia. Câmera em Ruy que chora saudosamente e fala em pensamento). Não sei se vou resistir viver muito longe dessa mulher... Que destino cruel... Uma metade vai e a outra fica... (Chora mais ainda). Por que... Por que?... (Corta). Externa. Dia. Câmera numa geral mostra o Avião levantando vôo. Corta.

CENA.9

Externa. Dia. Frente ao restaurante Gagliasso. Bia está sentada á uma mesa com expressão de muita tristeza e D. Alice se aproxima e tenta convencê-la a sair.

MAMA BELA

Que que é agora, filha... Vai ficar chorando pelos cantos por causa daquele lá, que não ta nem aí pra você... Dio, sabe o que o que estás sofrendo... Levanta a cabeça... Toca a vida pra frente...

BIA

Eu sei Mama Bela... Mas o que eu posso fazer? É coisa de coração...

MAMA BELA

Coraçon... Ta... Coraçon non põe comida na mesa... Levanta essa cabeça... olha pro lado, quanto homem belo tem tua volta...

BIA

Ta, Mama... Tou olhando os homens belos... E daí... O único que eu amo não ta aqui...

MAMA BELA

Que não te deu nenhum alô... A essa hora já deve ta voando pra Espanha, no?... Dio... Como tem mulher burra ainda... (Se aproxima a D. Alice com Victor no braço). Pronto! Chegou o motivo de sua tristeza...

D. ALICE

(Como quem não gostou). Como assim votivo da tristeza da Bia?

BIA

(Acalmando). Ihhh... Você duas... Pelo amor de Deus...

MAMA BELA

Sabe muito bem a nossa origem... Não levamos desaforo pra casa... Italianos... Se gostar, gostou, se não gostou é problema seu...

BIA

Mamãe... Aqui não é lugar pra discussão de família...

D. ALICE

Deixa ela falar o que quiser... Eu conheço a índole do meu filho... Se ele foi embora, foi uma causa nobre...

BIA

E por acaso a senhora sabe o motivo?

D. ALICE

(Querendo se sair). Não...

BIA

Mas ele não deu notícia... não falou pra senhora o porquê foi embora sem nem dizer adeus?

D. ALICE

Até agora nenhum notícia... E ele não comentou nada... Estou preocupada...

MAMA BELA

Ta aí a prova do caráter do seu filho... Nem pra mama ele liga... Passe bem... (Câmera em Mama Bela que faz menção que vai sair e vê o Alfredo se aproximando). Filho meu, chegando... Pelo menos de consideraçon...

ALFREDO

Opa! Acabei de sair da academia. Tou morrendo de fome... Mama bela... (Câmera em Alfredo que beija a cabeça da Mama bela). Aquela pizza que eu adoro...

MAMA BELA

Maguerita... (Câmera mostra Mama Bela saindo).

ALFREDO

Como vai dona Alice... Sente um pouco... Vamos comer a pizza juntos...

D. ALICE

Não... Obrigada! Vim só pegar o Victor pra passar o fim de semana comigo... (Câmera em Mama Bela que fala de dentro da pizzaria).

MAMA BELA

Bia, se eu fosse você, não deixava... Ela pode ta armando um seqüestro da Criança com o Ruy...

D. ALICE

(Com raiva). É demais pra os meus ouvidos, Bia... Que língua, hein? Que língua... (Transição com a Mama Bela). ôHÔh... Vá olhar se eu estou ali na esquina... (Transição). Desculpa! Vou embora...

ALFREDO

Mama Bela... Olha a indelicadeza... A D. Alice é avó e não tem nada a vir com a fuga do Ruy...

BIA

Não liga não... Quando ela quer falar tem que falar... (Transição). Pode ficar á vontade, dona Alice... Pode levar o Victor sem problema... O neto não pode ficar longe avó, não é Alfredo?

ALFREDO

Claro! Concordo em gênero grau e número... (Câmera no Garçon que serve a pizza nos pratos de louça. Câmera no garçom que faz menção que vai servir a Bia. Ela apenas faz sinal que não quer. Corta).

CENA.10

Interna. Dia. Sala da residência de Bia. Câmera em perfil, mostra a Bia ainda tentando acalmar o Victor que não pára de chorar. A campainha toca. Bia atende. É o Alfredo e D. Alice.

D. ALICE

E aí, Bia... Tudo bem? (Transição com o Garoto). Ah, coisa linda da vovó...

BIA

E aí, Alfredo... Alguma notícia do Ruy? (Câmera em perfil no Alfredo e na Bia. Alfredo com expressão introvertida. Bia esperando uma bomba. Transição). O que foi que houve, com o Ruy, Alfredo...

ALFREDO

Nada demais... Não precisa se preocupar...

D. ALICE

Ta tudo bem, Bia... Não há motivo pra preocupação...

BIA

(Nervosa). Como assim, não preciso me preocupar? Como não há motivos de preocupação, dona Alice? Pressinto que algo de ruim aconteceu... E você sabe o que houve... Alfredo... Aliás, vocês sabem o que foi que houve... (Alfredo impede de a Bia falar).

ALFREDO

Bia... Preciso que me escute...

D. ALICE

Alfredo... Conversa com ela... Eu vou brincar um pouco com meu neto... (Câmera em D. Alice, que sai com o neto).

BIA

(Câmera em close na Bia, mostra seus olhos quase em lágrimas). Pode falar, Alfredo... O Ruy morreu, não é isso que vocês querem me dizer?

ALFREDO

Não, não é isso...

BIA

(Nervosa). Então, caramba... O que diabo ta acontecendo aqui? Que tanto mistério pra me falar... (Transição mais nervosa ainda). Vai falar ou não vai, Alfredo?

ALFREDO

(Procurando uma forma de falar pra Bia). Sim... O Ruy... Foi embora para Madri... (Câmera em Bia de olhos arregalados, querendo entender o que está acontecendo).

BIA

(Espantada). O que? Embora pra Madri? Mas por que o Ruy foi embora? (Alterada). Dá pra me explicar o que está acontecendo, Alfredo? Como é que um homem vai embora sem nem se despedir da mulher e de seu próprio filho? (Chora). Sem ter motivo algum? E o tempo que amei este homem... Me dediquei a vida inteira... Tudo foi tudo por ralo á baixo, porque simplesmente ele decidiu ir embora? É isso que você me dizer? (Chora. Transição). É mulher, não é? Ele foi embora com outra... (Trincando os dentes de ódio). Cachorro...

ALFREDO

Ele não foi embora com outra mulher, Bia... Você foi e sempre será a mulher da vida dele... Você sabe disso...

BIA

Que história doida... Mas qual o motivo dele ter ido embora? Pra onde ele foi?

ALFREDO

Se acalme... Senta aqui... Tive que armar uma farsa... (Câmera em Alfredo que puxa a Bia para o sofá). Agora escute vou te contar tudo nos mínimos de detalhes... (Alfredo começa a contar o que foi que aconteceu. Música sobe cobrindo as vozes dos personagens. Câmera em Bia, que soluça de tanto chorar. Câmera em Alfredo, que abraça a Bia. A cena escurece gradativamente. Música aumenta.

OFF

Carreguei uma ferida dentro do meu peito e deixei um coração em chagas na minha outra metade que estava aqui. De hipótese alguma a Bia poderia saber que eu era um leucêmico. Preferi ir embora morrer bem longe do meu amor, do que vê-la sofrendo e ameaçada por homens sem coração.

Takes fazem fusão do choro de bia com Takes da Bia deitada na cama pensativa sem conseguir dormir, dando idéia que já se passaram alguns dias. Take da Bia acendendo um cigarro e pensativa olhando pela janela do apartamento a imagem da lua. Música romântica envolve a cena. Take da Bia na rua. Câmera numa geral mostra a Bia no centro de uma cidade grande. Câmera mostra no calçadão uma Cigana, que a encara sem parar e faz sinal a chamando. Bia fica entender, mas vai ao encontro da mulher).

CIGANA

Venha! Pode se aproximar, minha querida... Deixe-me vir a sua mão... (Bia mostra a mão para a cigana). Vejo aqui... Na linha de sua vida que há uma grande farsa, que anda coladinha com você, minha jovem. Seu destino será marcado por muitos mistérios que serão revelados! Não haverá erros se o coração falar mais alto! Seu destino será banhado de uma transformação que irá marcar profundamente o resto de sua vida... Prepare-se... Vai precisar de muita sabedoria para enfrentar esta barreira... Estou vendo morte em seu caminho. Alguém que você ama está prestes a morrer...

BIA

(Pensativa e espantada). Ruy...

CIGANA

Mas graças a uma farsa, tudo se sairá nos conformes...

BIA

(Câmera em Bia sem entender). Mas de que farsa a senhora está falando?

CIGANA

Nem toda profecia pode ser revelada antes da hora, minha jovem. Todo caminho é carimbado pelo destino e não como correr dele!

BIA

Minha vida já está de cabeça para baixo...

CIGANA

O fardo ainda não está tão pesado como pensa... Ainda... Agora vá...

BIA

(Embaraçada). Quando lhe devo?

CIGANA

Nada! A mim não deve absolutamente nada! Agora guarde o dia de hoje... Um dia vai lembrar bem das minhas palavras...

BIA

Então... Obrigada... (Bia sai. Transição, falando em OFF). Só pode ser maluca... (Câmera numa geral mostra a Cigana atendendo outras clientes. A luz vai diminuindo gradativamente. Na tela mostra “UM ANO MAIS TARDE”. Corta).

OFF

A minha vida iniciou a partir daquele momento que o avião pousou em Madri. (Takes do Ruy descendo do Avião). Um ano de muita batalha em busca de soluções pra minha realidade. Reuni pessoas com mesmo problema, fiz campanha em busca de um doador compatível. Comecei a conviver com uma realidade de muitos. Pessoas que eu passei a ter uma convivência e até tornou família. De repente vinha a notícia de aquela pessoa aparentemente saudável havia falecido. A carência de doadores é como encontrar um grão de areia no deserto. Apesar de bem sucedido, eu estava também numa fila homérica e nesta hora a gente percebe que status não é nada quando se carrega um problema como este. A já estava esperando que a qualquer momento eu poderia ser mais um entre tantos que deram seu adeus a este mundo.

Takes mostram Ruy em meio á doentes. Visitando hospitais do câncer. Vendo pessoas morrerem assim de uma hora para outra.

RUY

(Com uma criança, portadora da doença). Eu tenho um filho da sua idade... Ele é lindo assim como você...

PACIENTE

Qual o nome dele?

RUY

(Saudoso e pensativo). É Victor... (Ruy percebe que a criança não está bem). Você vai resistir... Vamos vencer essa batalha, amiguinho... (Ruy se emociona). Estamos unidos no mesmo barco... (A criança morre nos braços de Ruy. Ruy se desespera e chora gritando alucinado). Era que você queria? O que esse inocente fez pra merecer isso? Por que não me leva que já vivi demais nessa merda de mundo?... Ele é apenas um inocente da idade de meu filho... (Chora soluçando. Música suave aumenta gradativamente).

OFF

Foi uma cena emocionante. Não gosto nem de lembrar. Ver aquela criança indefesa sendo arrastada nos braços da morte como um condenado pelo destino. Aquilo feriu mais ainda o meu coração.

Takes do Ruy assistindo palestras. E participando de passeadas com camisa, promovendo uma campanha de doação de medula óssea. Takes de Victor sendo submetido a exames para saber se é compatível com o pai. Câmera passa uma sala do médico entregando o resultado pra o Alfredo e a D. Alice

MÉDICO

Não, o Victor não é compatível... (D. Alice Chora e Alfredo faz afago em D. Alice. Na tela indica que já passaram alguns dias. Flashs back de belas paisagens da cidade Maravilhosa. Corta).

CENA.11

Interna. Dia. Esta cena é tomada por flash do aniversário do victor. Uma seqüência de fotos é espalhada na tela, mostrando vários momentos da festinha do garoto. Estaciona na foto em que o Alfredo está beijando o rostinho do enteado e trajado á caráter com um chapéu de papelão em formato de cone. A cena sai da foto para uma realidade.

ALFREDO

(Câmera em perfil no Alfredo, que demonstra estar muito feliz com a alegria do Victor). Não há dinheiro que pague a alegria de uma criança... Olha que coisa linda a felicidade estampada no rostinho dele...

BIA

Dá pra notar a sua felicidade... Nem o próprio pai tinha tanto amor assim... (Câmera numa geral mostra as duas avós do lado do neto para tirar fotos. Câmera em perfil no Alfredo, que encara a Bia de forma diferente. Nota-se que a partir daquele momento um sentimento mais forte estava começando a brotar. Câmera mostra os olhares se entrelaçando. Câmera numa geral mostra vários amiguinhos do Victor em volta á uma mesa redonda, cantando os parabéns. Takes de várias fotos acontece na tela e dentre estas fotos eles brincando no parque. Câmera em Alfredo que olha apaixonadamente para a Bia, pega na sua mão. Música romântica sobe gradativamente e o casal se beija. A cena escurece gradativamente. Taks. Quarto da Bia, meia luz, música romântica. Bia recebe flores de Alfredo e os dois vivem um momento de amor). Eu te amo... Quero planejar uma nova vida... O Victor está precisando de uma companhia... (Flashs Back do tudo de ensaio do esperma de Ruy).

ALFREDO

Eu não posso ter filhos... Fiz vasectomia... Mas podemos numa inseminação artificial.

BIA

Que idéia genial... Vamos providenciar isto o mais breve possível...

OFF DO ALFREDO

(Com o Alfredo). Foi a forma que arrumei de tentar salvar a vida do Ruy criando essa outra farsa. Eu já sabia que o Victor não compatível. A partir daí lembrei que ele colheu esperma para exames. Vi uma luz no fim do túnel. A vinda de outra criança poderia ser a total recuperação do Ruy. (Takes de Bia fazendo a inseminação).

BIA

(Câmera em Bia, recebendo flores de Alfredo). São lindas. (O casal se beija. Takes do casal transando. Câmera mostra várias passagens. Takes da Bia grávida. E Victor beijando a barriga da mãe. Alfredo com o ouvido na barriga de Bia, tentando ouvir o bebê se mexer). Fiz a ultra-som (Câmera no Alfredo surpreso). É mulher... (Alfredo pula de alegria. Câmera no casal demonstrando bastante felicidade. Bruninha ri aplaudindo.

ALFREDO

Que tal o nome de Bruninha... O que acha, meu amor?

BIA

Lindo. (Takes de fotos do nascimento de Bruninha. E fecha com o choro da criança.

OFF DO ALFREDO

Tava tudo pronto para o nascimento da Bruninha. Toda equipe médica sabia da importância daquele momento e da finalidade daquela farsa. Eu e a D. Alice, assinamos os papeis para a retirada de células tronco do cordão umbilical de Bruninha. A Bia não sabia de absolutamente nada. Tínhamos medo que ela rejeitasse a idéia de submeter a filha a este fim.

Takes mostram a coleta do sangue do cordão umbilical da bruninha. Alfredo, D. Alice e D. Mama, mãe de Bia, esperam ansiosos pelo resultado do parto.

MÉDICO

É uma menina linda... (Todos se abraçam felizes. Takes de Bruninha sendo amamentada. Takes mostram várias passagens da academia Victor Gim, o Restaurante gagliasso, dando idéia de passagem de tempo).

OFF DO ALFREDO

Dois dias depois do nascimento de Bruninha, o Médico me ligou pedindo que eu comparecesse ao escritório; pois queria falar a respeito do exame feito na Bruninha. (Takes de Alfredo falando com a D. Alice pelo Celular). Liguei imediatamente pra dona Alice e fomos até o escritório do médico.

MÉDICO

(Sorridente). A menina é compatível... (Câmera em Alfredo que abraça D. Alice sorridentes). Takes de várias paisagens turísticas, mostrando a beleza do país. Câmera estaciona no Ruy, recebendo a notícia de que conseguiu um doador compatível. Ruy chora descontroladamente. Uma voz em off).

OFF

Você ta chorando, Ruy...

RUY

Tou sim... De volta a vida... Tou chorando de felicidade... (Desliga o telefone e chora. Música de fundo aumenta. Takes de Ruy raspando a cabeça, sendo colocado na maca. Seqüência da cena inicial (H1). Cena escurece gradativamente. No vídeo mostra que já se passaram cinco anos).

OFF

No vídeo mostra o Ruy dando o depoimento

Recebi a medula enviada do meu país. O período que fiquei em observação pra ver se havia uma rejeição, acho que foram os dias mais longos da minha vida. Eu tenho motivos de sobra pra comemorar... Hoje estou curado da maldição. Não é o caso que muitos, que carregam essa enfermidade com uma sanguessuga que não se contenta em sugar as energias até a morte... Eu precisava voltar e reconquistar o amor da minha vida. A mulher que eu mais amo neste mundo. Mas sabia também já se passariam cinco anos e para conquistar o céu eu teria que mergulhar nas profundezas do inferno.

Takes de Ruy descendo do avião em Câmera lenta. Flashs back de momentos de amor com a Bia.

OFF

Este é o meu mundo. O cheiro do ar da minha terra, a brisa em meu rosto me recepcionou com alegria em saber que eu estava de volta. Uma satisfação de como é importante sabe que voltei pra casa. Não quero que ninguém soubesse que eu resolvi voltar.

CENA.12

Interna. Dia. Sala da residência de Bia. Câmera mostra numa geral um ambiente que se trata de um apartamento de família de classe média. E dá foco em alguns móveis. alguns indicando que já precisam ser trocados. Campainha toca. Bia atende.

BIA

(Abre a porta e fica espantada). Você?

RUY

(Com expressão de arrependido e sem graça). Sou eu, meu amor...

BIA

(Com raiva). Vai pro inferno, Ruy ... (Bia faz menção que vai fechar a porta. Ruy impede).

RUY

Espera... Precisamos conversar... (Bia se afasta).

BIA

Conversar o que?! Você deve ta brincando com a minha cara... (Transição irônica e com raiva). Conversar! Parece um gentleman falando... Ruy, você por acaso sabe quanto tempo já passou da última vez que nos vimos?

RUY

(Arrependido). Eu sei que eu errei, Bia... Você não imagina o quanto minha alma me tortura por causa desta falha todos estes anos... Tanto que estou aqui para reparar o meu erro... Eu não devia ter feito aquilo, que eu fiz... Eu sei que eu não devia... (Câmera em Bia que chora e limpa as lágrimas com as mãos).

BIA

Agora é tarde... (Abre a porta). Cai fora da minha casa...

RUY

É difícil explicar uma situação como esta... Mas a minha intenção não foi de forma alguma magoá-la... É difícil de explicar, mas eu precisava fazer aquilo...

BIA

(Demonstrando está com muito ódio). Você é um canalha... Aliás, você sempre foi um canalha, Ruy... Um canalha em pele de bonzinho...(Gritando e com ódio). Canalha... (Faz menção que vai bater na cara do Ruy. Entra o Victor, o filho do casal com dez anos de idade).

VICTOR

(Assustada sem entender o que está acontecendo). Mamãe!!! O Que ta acontecendo?(Câmera em perfil nos três que reagem com a expressão de acordo com a cena).

BIA

Estou aqui meu amor... (Abraça o garoto carinhosamente. Transição com o Ruy. Câmera em Ruy que olha para o garoto. Transição).

VICTOR

(Abraça a mãe). Quem é esse homem?

RUY

(Boquiaberto. Reconhece o filho. Expressão de emocionado. ri contido). Nossa... Eu nunca... (Quase sem conseguir falar). Eu nunca vi tanta beleza em toda a minha vida... (Transição brincando com o garoto). E aí, Victor? Ta fazendo que ano na escola?

BIA

(Em tom de revolta). O que importa isso agora?! Quero ver o que você vai explicar agora... Fala... Conta tudo pra ele, Ruy... Conta...

VICTOR

(Espantada e com medo). Ruy? Mamãe... Ruy não é o nome do papai?

BIA

(Séria). É, filho... Está aí o mau caráter que você não conheceu há cinco anos...

RUY

(Repreende). Não fale assim perto dele, Bia! Não se sabe o que passa pela cabeça de uma criança... Ainda mais você falando estas coisas assim... (Transição com o Victor). Não é verdade, meu filho?

VICTOR

(Revoltada). Eu não sou seu filho...

BIA

(Dá uma risada irônica). Ta vendo só? Você plantou este desafeto! Agora tem que colher... E você fala Como se tivesse importância com ele... Ora, dá um tempo, Ruy... Por favor, tá! O garoto ta bem e muito bem... Eu sei o que passei pra manter a casa esses anos todos... Mas venci se isto lhe conforta... Pode ir embora... Desaparece da minha vida pra sempre...

RUY

Eu preciso explicar tudo que aconteceu pra meu filho...

BIA

(Com desdém). Meu filho!? Você some de nossas vidas cinco anos... Sem dar a mínima explicação pra ninguém... E agora vem querer explicar o que aconteceu...?! E ainda quer chamar o Victor de meu filho? Era só o que estava faltando!(Revoltada). Você não tem noção do que eu passei... Victor... Não precisa nem falar, não é senhor Ruy? Você lembra... Claro, que você lembra... Ela era muito criança ainda, mas você sabe do problema de saúde que ele carregava... Ele é seu filho, sim... Nem um animal trata sua cria do jeito que você tratou este garoto... Ele não pediu pra vir ao mundo não seu Ruy... Se tem culpados nessa história, somos nós os culpados... Você com uma parcela bem maior do que eu...

RUY

Bia, Eu... (Bia atrapalha).

BIA

Não precisa você falar nada... O Alfredo me contou tudo o que aconteceu... Ainda por cima é mau-caráter.

RUY

Será que ele contou tudo mesmo?

BIA

Que coisa feia...Aplicando farsa pra querer se dar bem... E fugiu com o dinheiro que não é seu... Isto é sujo, desonesto...

RUY

O dinheiro é meu sim... A história não foi bem assim como você ta sabendo, Bia... Eu sou honesto sim... Não é nada do que você ta pensando ao meu respeito... Tive que entrar numa farsa se não, não estaria agora te contando tudo o que aconteceu... Tudo foi pensando em dar um conforto melhor para você e nosso filho... Eu tive muito doente...

BIA

(Dá uma risada de zombaria). Doente? Conta outra farsa, Ruy...

RUY

Acredita em mim, caramba... Eu tive leucemia... Todos estes anos foi lutando em busca de um doador compatível. O destino quis que eu sobrevivesse... Por isso estou aqui pra conquistar o teu perdão...

BIA

(Dando um basta). Nunca... (Aplaude ironicamente). Que bom, que conseguiu sua façanha... Agora vem com essa farsa de doença pra aplicar mais outra farsa em cima de mim... Com certeza foi por algum golpe por causa de dinheiro, como se eu ligasse pra porcaria de dinheiro... Agora você vai ter que escutar o que eu tentei engolir há cinco anos e até hoje ta preso aqui, oh, na garganta... Esperei todos estes anos a sua volta da Espanha pra vomitar tudo que eu passei... (Pensativa). Você sabe que você sempre foi o homem da minha vida... Eu nunca amei tanto um homem como amei você, Ruy...

RUY

A recíproca sempre foi e é verdadeira e você sabe disso... Mas compreenda... Eu tive que ir... Estava entre a vida e a morte... Não tive nem condições de ligar pra você com medo do telefone ser grampeado. Eu poderia ta pondo em riscos a sua vida e de nosso filho, será que dá pra entender, caramba? Se eu voltasse em casa pra pegar minhas coisas, poderia não ter vida pra ta contando essa história aqui agora... Tive que dar o pulo do gato...

BIA

(Sempre revoltada). Entendo muito mais do que você imagina... Apesar de abandonada durante cinco anos praticamente... Esqueceu que eu sou uma mulher guerreira? Estudei, perguntei e toquei a empresa pra frente... Aos trancos e barrancos; mas toquei... Quanto a isto não senti a sua falta, Ruy... Aliás, em nada... Tudo com a ajuda do Alfredo... Minha família desde que saiu da Itália, sempre trabalhou pra vencer e foi muito trabalho mesmo... Hoje a forneria Gagliasso ta de vento e polpa e por causa da minha garra... (A campainha toca). Victor, meu filho... Atenda lá na porta! Mamãe ta conversando um assunto... (Câmera em Victor que sai saltitando pra atender a porta. Câmera em Victor abrindo a porta. A empregada trás a Bruninha). Oi, Bruninha! Coisa linda... Essa você não conhecia... Bruninha, minha filha esse é o pai do Victor...

EMPREGADA

Oi... Acho que eu não cheguei numa boa hora...

BIA

(Com desdém). Pronto! Chegou a peça principal deste quebra cabeça... Tudo que aconteceu de bom na vida de nossa família, foi tudo que construímos até hoje sem a sua presença... Eu devo tudo ao Alfredo, Ruy... Ele hoje... Posso dizer pra você... É o homem da minha vida...

RUY

Quem é a Bruninha, posso saber?

BIA

A Bruninha... É a irmã do Victor, filha do Alfredo comigo... Tem algum problema?

RUY

(Câmera em Ruy, que encara a Bia com ódio). Como teve coragem de fazer uma coisa dessa comigo, Bia... Não considerou nem o nosso filho...

VICTOR

(Revoltado. Câmera mostra Victor abraçando a mãe em pranto). Não me chama de filho... Eu não tenho pai...

BIA

(O encarando também). O que você queria, senhor Ruy? Foram cinco anos arrumando a minha vida que você destruiu... Não são cinco dias não, meu amigo... Ordem natural das coisas... Eu me apaixonei pelo Alfredo e ele por mim... E aí rolou... Muito simples de entender isso... (Câmera em Ruy, que tomado por um ódio inominável acaba dando um soco na mesa).

RUY

Nãooo... Você é minha filho sim, Victor... (Transição). Esse moleca é que é bastarda... (Câmera em Bruninha que também se abraça com a Bia).

BIA

(Decidida). Fora da minha casa, Ruy, antes que eu chame a polícia... Se tem algum bastardo aqui, esse alguém é você...

RUY

Eu vou... Mas isso não ficar assim... Eu sei aonde encontrar este traste, que se diz amigo... Passe bem, bia...

BIA

E passo mesmo... Aposto que nestes cinco anos, o senhor devia tá fazendo suas farras por Madri... Aliás, prostitutas na sua vida sempre foi muito comum... E pelo que me consta Madri em cada esquina tem um antro de luxúria e perdição... A porta está aberta... (Irônica). Madri lhe espera meu amor... Deixe-nos em paz, é só isso que queremos... (Sai e bate a porta com força. Câmera em Bia tensa. Corta.

OFF

Saí descontrolado naquele dia. O meu amor pela se transformou de uma hora para uma outra num ódio inominável. Minha mente não conseguia controlar o meu corpo. Era como se o demônio dominasse o meu ser. O que eu mais queria era acabar com a vida do Alfredo.

CENA.13

Externa. Dia. Frente ao apartamento de Bia. Câmera numa geral mostra o Ruy saindo apressadamente com expressão nada amigável.

D. ALICE

(Câmera em Alice chamando o Ruy, quase transtornado). Ruy... Ruy... Ruy... (Câmera em Ruy, que pára e acena para a D. Alice. Câmera em Alice se aproximando. Ruy entra num taxi e sai. Câmera numa geral, mostra Dona Alice preocupada entrando no prédio. Corta).

CENA.14

Interna. Dia. Sala do apartamento de Bia. Bia fica revoltada com a volta do Ruy e conta pra dona Alice que ele foi atrás do Alfredo.

BIA

Oi, dona Alice...

D. ALICE

Eu vi o Ruy saindo daqui... Tomei um susto quando o vi...

BIA

Pois é... Por mim ele não deveria ter saído do lugar aonde estava... Veio infernizar a minha vida...

D. ALICE

Mas o que foi eu aconteceu? Pra onde ele foi?

BIA

Ele simplesmente não aceitou a existência da bruninha... Ele acha que eu traí ele com o Alfredo... E é problema dele se achar que foi traição ou não... Me desculpa que é seu filho, mas o cara some do mundo durante cinco anos e agora ter direito a alguma coisa? Ele não tem o direito depois de tanto querer vir atrapalhar a minha vida, Dona Alice... Eu e o Alfredo nos amamos... A senhora acompanhou de perto toda nossa história...

D. ALICE

Claro... Mas agora pra onde ele foi...

BIA

Não faço a mínima idéia...

D. ALICE

Eu sei pra onde ele foi... E eu preciso ir pra lá correndo...

BIA

Pra onde, dona Alice?

D. ALICE

Bia, fique com as crianças depois a gente conversa... (Sai apressadamente. Câmera em preocupada. Corta).

CENA.15

Interna. Dia. Academia Victor Gim. Alfredo luta Box com o professor da academia. Ruy chega querendo agredir o companheiro. Câmera numa geral mostra a academia em pleno funcionamento. E Alfredo é nocauteado pelo professor.

ALFREDO

Tenho que praticar mais... E é o esporte que adoro fazer... Você é o cara mesmo...

PROFESSOR

Prática... Dedicação completa ao esporte... Eu respiro Box... Nada mais... (Entra o Ruy).

ALFREDO

Ruy... (Feliz). Que supresa! Nossa...

RUY

(Câmera em Ruy com expressão de ódio). Traidor! Como teve coragem de roubar a minha mulher...

ALFREDO

Ruy, espera... A gente precisa conversar...

RUY

(Pula as cordas). Canalha... Você... Que eu dei toda a minha confiança a você...

ALFREDO

Mas do que você ta falando, Ruy...

RUY

Eu vou te arrebentar... Canalha... (Dá um murro no Alfredo. Entra a D. Alice).

D. ALICE

(Apavorada). Ruy... Você ta ficando maluco? (Transição). Vamos... Separem os dois... Eles vão acabar se matando um ao outro... (Algumas pessoas separam a briga).

ALFREDO

Eu não te traí, caramba...

RUY

(Revoltado). Você acabou comigo, Alfredo... Acabou com um sonho que eu tinha com a mulher que eu mais amo neste mundo...

ALFREDO

A Bia sempre teve você como o homem da vida dela...

RUY

Não me pareceu isso quando cheguei lá e dei de cara uma menina no meu caminho...

ALFREDO

A Bruninha? É uma criança linda, dócil...

RUY

(Aos berros). Bastarda! Filha de uma vaca que foi minha mulher... E me traiu com você...

ALFREDO

(Aos berros). Filha de uma vaca e bastarda que pode foi solução da sua vida... A Bruninha é tua filha, porra... (Ruy pára e tenso). Tive que armar toda uma farsa para ver se conseguia salvar tua vida, cachorro... (Chorando). Eu não podia deixar você morrer dessa maldita doença... A incompatibilidade do victor me deixou em estado de loucura... Será que você não percebe que foi a única solução que encontrei?

D. ALICE

Pois é, Ruy... Quem doou a medula pra você foi a Bruninha... Sua filha!

ALFREDO

Eu e dona Alice tivesse que carregar a responsabilidade nas costas... Agi pra que ninguém soubesse da farsa... inclusive a própria Bia não sabe que a Bruninha é a sua filha... Você tem toda a liberdade de fazer o DNA. Pode me xingar á vontade, mas fiz tudo isso por amor você mesmo.

RUY

(De olhos arregalados e com ironia). Mas como? Um anjo do senhor desceu do céu anunciando o milagre? Você armando outra farsa pra cima de mim...

D. ALICE

O seu espermograma nos exames, meu filho...

RUY

(Espantado). Minha filha? Meu Deus! Que loucura... E eu a chamei de bastarda... (Querendo se emocionar). Como tive coragem? Precisamos esclarecer tudo pra Bia...

D. ALICE

É chegado o momento... (Ruy chora pedindo perdão ao Alfredo).

RUY

Obrigado por tudo... Me perdoa também... (Se abraça chorando com o Ruy. D. Alice também se emociona). Se não fosse vocês a esta hora... Não sei se estaria vivo pra contar a história... É muita gente morrendo em busca de uma alma solidária para doar uma medula... E é uma coisa tão simples... O doador não corre perigo algum em fazer uma doação! Isso é um ato nobre... Senti na pele, vi gente que aprendi a amar, morrer nos meus braços... Mamãe a senhora não tem noção como é difícil... Eu posso me considerar um homem de sorte...

D. ALICE

Mas você é um homem de sorte.

ALFREDO

Graças a Bruninha...

RUY

E a você que a quem devo a minha vida... (Transição). Te amo muito, cara... (Os dois se abraçam emocionando e ambos abraçam a D. Alice, que também se emociona. Corta).

OFF DO ALFREDO

Realmente era motivo de muita emoção, mas o pior ainda estava porvir. Tínhamos que dar a notícia pra Bia e isto é era o que tava me incomodando. Naquele momento a cobra engolia o próprio rabo. Estávamos andando em círculos tentando achar uma forma de amenizar a dor daquela mulher que participava de outra farsa na maior inocência de sua vida, mas, tudo em proll de uma solidariedade na tentativa de salvar a vida do Ruy, que se tratava da metade que faltava pra completar a sua felicidade.

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 31/10/2010
Código do texto: T2588514
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