SERGIO FINGERMANN, partes do todo

Eliane Accioly

Ao entrar na exposição vivi em mim o impacto provocado pelas grandes telas. Poderia chamá-las de painéis? Falo desde o lugar de aprendiz de feiticeiro, de quem recém chega ao universo da pintura. Envolvida no impacto comecei a perceber desde aí, de uma maneira vivida, o que significa o conceito de corpo do trabalho de um artista. O trabalho de SF possui corpo, consistência, materialidade viva e pulsante. Um corpo generoso que ocupa lugar e se presentifica, sem deixar de ser virtual e sutil.

Imaginei Sergio em escadas com seus pincéis e tintas, e senti a luta em pintar aquelas telas. Pensei:

Precisa de estrutura e peso da arte, essas telas não surgiram do nada. Elas se atualizaram neste momento da vida de SF, muito trabalho, pesquisa, luta corporal as antecedem.

E como em arte o passado é prospectivo, todo o trabalho de vida do SF estava naquela sala, que certamente era uma outra sala, única, ao sustentar com suas paredes aquelas telas.

Em seguida caminhei pela sala, mas cheia de pessoas, não pude contemplá-las de longe. Passeei pelos outros espaços da galeria, onde estão os trabalhos em papel e óleo. Neles pude perceber alguns dos conceitos que SF procura passar para nós, seus alunos:

1. Abandonar o traço heróico e duro, ter pulsos e mãos de pianista, no seu molejo.

2. Respirar, ter corpo, intelecto, intenção. Para ele pintura é muito menos expressão que intenção. O que começo a viver em mim. A capturar. Aprendemos por roubo e captura.

3. A imperfeição nas telas _ os traços ou a tinta que “escapam”.

4. As camadas de tempo.

5. O que não é evidente e escapa.

6. No espaço menor onde se encontram três trabalhos, um deles com a palavra ESPELHO _ vivi uma necessidade de me demorar. Estacionei no acostamento e saí da estrada. SF nos conta que a alça da estrada é o lugar do artista, fora da pista de alta velocidade. Olhei o quadro em frente à ESPELHO bem detidamente. O amarelo parecia de mentira, e era acolhedor.

Ouvi uma moça falando que as telas lhe lembravam cenários.

Uma colega de oficina falou que as telas tinham nelas o arquiteto que S também é.

Uma das telas com fundo escuro _ a cor negra construída com muitas cores abriu meu imaginário para as aulas que vivi, e para as que ainda vou viver.

E principalmente, a vivência do inacabado.

É um privilégio estar vivendo este momento que SF compartilha conosco seus alunos, e, certamente, com muitos outros. Gratidão é um sentimento delicioso, estou grata.

Sábado 14 de agosto, das 10 ;00 às 14:00horas. Período da exposição _ de 16 de agosto à 4 de setembro. Galeria DAN Rua Estados Unidos, 1638, São Paulo, SP. www.dangaleria.com.br