ESTABILIZADORES DE HUMOR (Sais de Lítio)
Os distúrbios do humor são bastante comuns, tanto na prática médica quanto psiquiátrica. No entanto, nem todas as tristezas, misérias e desapontamentos são indícios para tratamentos medicamentosos. Geralmente, uma boa parcela dos distúrbios afetivos sofrem de ‘remissão espontânea', ou seja, cura-se com o passar do tempo.
Portanto, para Goodman e Gilman, (1983, p. 383) o tratamento medicamentoso com agentes antidepressivos ou sais de lítio são prescritos para distúrbios mais severos do humor, apresentando um alto grau de eficácia nos casos mais graves. Contudo, todos os medicamentos utilizados para o tratamento de distúrbios afetivos tem apresentado imperfeições e problemas, sendo potencialmente letais na ocorrência de uma superdose, ou mesmo, no uso clínico cuidadoso.
O lítio é o mais leve dos metais alcalinos e partilha algumas de suas características somente com o sódio e o potássio. É muito abundante em fontes de águas minerais alcalinas, sendo o carbonato de lítio o sal em uso terapêutico nos Estados Unidos.
No entanto, no final da década de quarenta, o cloreto de lítio foi empregado de maneira imprudente como sal substitudo para cardíacos e pacientes cronicamente doentes, originando muitas intoxicação graves e até casos de morte, sendo aceitos somente na década de setenta.
O tratamento com lítio, por exemplo, segundo Goodman e Gilman (1983, p. 382)
(...) é conduzido de maneira ideal apenas em pacientes com captação de sódio normal e com funções cardíacas e renais normais. Muito ocasionalmente, pacientes com doenças sistêmicas graves podem ser tratados com lítio, contanto que haja indicações suficientemente prementes.
O lítio não é um sedativo, depressivo ou euforiante, diferenciando-se de todos os outros psicotrópicos. Seu mecanismo de ação como agente estabilizador do humor permanece desconhecido, embora haja suspeita de efeitos sobre membranas biológicas.
O tratamento com lítio é de apoio, visto que não há antídoto para sua intoxicação. Sua excreção pode, no entanto, ser acelerada com diurese osmótica e solução de bicarbonato de sódio intravenosa, se a função renal for adequada, em caso de envenenamento. A diálise é provavelmente o meio mais eficaz de remover o íon do organismo.
O lítio é frequentemente usado conjuntamente com medicamentos antipsicóticos (pode bloquear a náusea, que é um sinal de toxidade do lítio) e antidepressivos (causa retenção urinária devido aos efeitos anticolinérgicos, podendo ser desconfortável na presença de uma diurese induzida pelo lítio).
Devido ao íon de lítio ser secretado no leite humano, não se deve amamentar as crianças, podendo ocorrer sérias intoxicações na mesma.
Em tecido cerebral animal, o íon do lítio, em baixas concentrações, inibe a liberação provocada pela despolarização dependente de cálcio da norepinefrina e dopamina. Pode também alterar a recaptação de estoques pré-sinapticos de catecolaminas em direções consistentes com a inativação aumentada das aminas.
Pode ainda corrigir o distúrbio do sono em pacientes maníacos, mas não exerce efeito primário sobre o sono, exceto em algumas fases de sono REM.
A absorção é quase completa pelo trato gastrointestinal, completando-se com cerca de oito horas, ocorrendo o pico no plasma entre duas e quatro horas após a ingestão oral.
A passagem através da barreira hemato-encefálica é lenta, não havendo evidências que seus íons se ligue à proteínas plasmáticas. A excreção do lítio aumenta com sua administração repetida, durante os primeiros cinco ou seis dias, equilibrando-se em seguida. Quando a terapia é suspensa, há uma rápida fase de excreção renal, seguida de uma excreção lenta de dez a quatorze dias.
Uma sobrecarga de sódio acentua a excreção de lítio, mas a depressão de sódio promove um grau clinicamente importante de retenção. Devido ao seu baixo índice terapêutico, as concentrações de lítio no plasma ou soro devem ser determinadas diariamente no tratamento de pacientes agudamente maníacos. Contudo, deve-se adiar o tratamento no caso de suspeita de intoxicação.
Devido à baixa margem de segurança do íon lítio e de sua curta ‘meia-vida’ durante a distribuição inicial, deve-se dividir as doses diárias no homem, não sendo prescrito somente por dose, para que se possa manter rigorosa determinação da concentração de medicamento no sangue, tendendo ser a dose maior em pacientes mais jovens e mais pesados.
Contudo, não há uma contra-indicação absoluta ao uso concomitante de lítio e outros antipsicóticos.
BIBLIOGRAFIA
GOODMAN, L.S; GILMAN, A. R.; et al. As bases farmacológicas da terapêutica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983.