O ROUXINOL E A ROSA - OSCAR WILDE

“Ela disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse rosas vermelhas..., porém em todo o meu jardim não existe uma única rosa vermelha.”

Este lamento do jovem estudante inicia o conto. Um rouxinol escuta o desabafo do rapaz por entre as folhagens do carvalho e admira-se com o encontro do verdadeiro amante: “Tenho cantado esse ser noite após noite, mesmo sem conhecê-lo: noite após noite contei sua história às estrelas, e só agora o encontrei...”

O estudante continua chorando e lamentando sua triste sorte: não dançará com a mulher amada, pois não poderá satisfazer seu capricho. O rouxinol, encantado com a declaração de amor e o sofrimento do rapaz, fica em silêncio debaixo do carvalho pensando sobre os mistérios do amor. O lagartinho verde, a borboleta e a margarida riem da angústia do rapaz.

O rouxinol alça vôo para encontrar uma rosa vermelha que possa realizar os desejos decantados do jovem. Encontra roseiras de rosas brancas e amarelas e sob a janela do estudante, uma roseira de rosas vermelhas mas que castigada pelo inverno não consegue dar vida a suas flores.

Só há um jeito de consegui-la, mas é muito terrível...

“Se quiser uma rosa vermelha, você terá de construí-la de música ao luar, tingindo-a com o sangue do seu próprio coração. Terá de cantar para mim a noite inteira, e o espinho terá de furar o seu coração, e o sangue que o mantém vivo terá de correr para as minhas veias, transformando-se em meu sangue.”

O rouxinol pensa que a vida é um preço alto por uma rosa, porém está convencido de que o amor é melhor do que a vida... Voa novamente como uma sombra pelo jardim e, ao encontrar o jovem ainda deitado na relva, afirma que ele terá sua rosa e só lhe pede em troca que “seja um amante fiel e verdadeiro, pois o Amor é mais sábio do que a Filosofia, embora ela seja sábia, e mais poderoso do que o Poder, embora este seja poderoso.”

O estudante não entende a profundidade das palavras do rouxinol, porque só conhecia as coisas que vêm escritas nos livros, mas o carvalho que abriga o ninho da família do rouxinol entende e pede uma última canção. O jovem diante do forte canto se questiona se o rouxinol teria sentimentos e conclui que como a maioria dos artistas ele é todo estilo, sem qualquer sinceridade. “Ele jamais se sacrificaria pelos outros.”

Quando a lua surgiu, o rouxinol voou para a roseira e cravou se peito no espinho. Durante toda a noite, ele cantou o amor: o nascimento, a paixão entre a alma de um homem e uma mulher e o amor que fica perfeito com a morte...

A rosa ficou rubra, a lua se esqueceu da madrugada, mas o rouxinol não pode ver as pétalas florescendo ao frio do ar da manhã pois estava caído na relva, morto com um espinho atravessado no peito.

O estudante acorda e vê a linda rosa, preocupa-se com o nome que teria em latim. Corre para a casa da filha do professor. Encontra a jovem sentada na porta e entrega a rosa vermelha:

“Aqui está a rosa mais vermelha do mundo inteiro. Use-a junto ao seu coração hoje à noite, e enquanto estivermos dançando eu lhe direi o quanto a amo.”

A moça, aborrecida, disse que a rosa não combinaria com seu vestido, além do mais ganhou uma jóia de verdade do sobrinho de um homem ilustre. O estudante com raiva atira a rosa na rua, onde ela cai na sarjeta e uma carroça acaba passando por cima.

O estudante volta para seu quarto e começa a ler um livro empoeirado.

“Que coisa tola é o amor! Não tem a metade da utilidade da Lógica, pois não prova nada, e fica sempre dizendo a todo mundo coisas que não são verdades. Enfim, não é nada prático e, como hoje em dia ser prático é o importante, vou voltar à Filosofia e estudar Metafísica.”

“O Rouxinol e a rosa” é um dos contos do livro “Histórias de fadas”, publicado pela primeira vez em 1888. O autor, Oscar Wilde, escreveu estas histórias para os próprios filhos e sua intenção era mostrar, além dos príncipes, gigantes e rouxinóis, a vida como ela é e como deve ser vivida. A beleza poética das histórias resgata a tristeza do tema: cada personagem assume a beleza e a feiura, a riqueza e a miséria humana.

Conheci este conto quando era estudante de direito e lembro como me impressionou a beleza e a ingratidão retratadas. Uma referência que sempre esteve presente na compreensão do mundo e na forma como protegi meus ideais dos outros. A poesia do rouxinol e a busca de realização dos desejos do jovem convivem em meus pensamentos e tento não despedaçar o que consigo florescer no mundo.

Surpreendi-me quando conheci o livro “Histórias de fadas” e descobri que o conto que tanto me emocionou foi elaborado para o público infantil. Se todas as crianças pudessem ler as histórias de fadas de Oscar Wilde, certamente, amadureceriam adultos mais fortes e conscientes dos próprios papéis.

Com a publicação dos contos infantis em 1888, a crítica da época comparou Oscar Wilde ao grande escritor Dinamarquês - Hans Christian Andersen - autor de “A pequena vendedora de fósforos”, talvez o motivo para uma nova viagem literária.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 24/01/2005
Código do texto: T2280