Continuidade dos parques_ Júlio Cortázar
CORTÁZAR, Julio. Continuidade dos parques. In. _Final do jogo. Tradução: Remy Gorga, filho Rio de Janeiro: Expressão e Cultura,1971.
O texto narrativo de Cortazar, não foge à regra de possuir elementos básicos como: narrador, personagens, tempo, enredo e cenário. E este último apresentando-se em duas fases, na primeira é a casa, sendo um ambiente onde vive o leitor personagem e o segundo cenário é a cabana onde acontece o encontro entre os amantes.
As duas narrativas, a primeira do leitor de posses, aparentemente fazendeiro, e a segunda dos amantes, entrelaçam-se, ou seja, no final uma reflete a outra. Percebemos o alcance crítico e estético do conto, que é uma narrativa fantástica, lenta misturando realidade e ficção e atingindo vários níveis mostrando o caráter do autor, que explora os limites da ficcionalidade através da sobreposição ou mesmo decomposição dos elementos tradicionais da narrativa e da linguagem, em que um personagem lê um livro, ficção dentro da ficção.
Ao iniciar a leitura logo temos o final trágico. Isso é marca do autor, que faz muitas quebras, encaixando uma história em outra. O uso de objetos e até mesmo o ambiente, envolvem-nos no texto. Cada detalhe é marcado como um recurso muito especial, conduzindo-nos á ficção pela realidade.
Cortázar trabalha palavras fortes com sentido metalingüísticos. As frases são curtas, porém os pontos nos conduzem não à síntese da idéia e sim à expectativa de continuação, ficamos assim, presos à leitura.
O conto é construído pelo trabalho com os dois planos em que a história se desenvolve, nós leitores lendo um romance e o próprio leitor-personagem lendo outro romance.
Percebemos que o fantástico abre as portas à imaginação, à liberação dos impulsos, à experimentação de novos recursos de criação ficcional. Daí a importância de conhecer e estudar um conto como este de Julio Cortázar.