O Fantasma do Ramalhão
Ontem terminei de ler "O Fantasma do Ramalhão", de Antônio Medeiros. Não, não é coincidência. Antônio é meu irmão. O Tonho de muitas de minhas crônicas.
Mas nem é pelo parentesco que afirmo: o livro é genial. Tomando por base seu conto homônimo, finalista do prêmio SESC de literatura de 2004, o mano enriqueceu a história, produzindo um romance espremido em cem deliciosas páginas. A linguagem é coloquial. Às vezes, pesada, com direito a palavrões e expressões chulas. Nada que empobreça a literatura ou ofenda o leitor, mas é bom que se diga - ele não prisma pela elegância.
Por outro lado, prende a atenção o intrincado mistério que envolve a morte do Ramalhão, o homem mau, um sujeito apelidado de três-oitão, em referência às mortes que carrega nas costas. Ramalhão enriqueceu fazendo agiotagem na pequena cidade de Buriticó e é encontrado morto, uma ferida na testa.
"O homem mau amanheceu com a boca cheia de formiga". É assim que Antônio começa o capítulo em que narra a morte daquele que, de tão ruim, deixa ao delegado uma certeza: "só pode ter sido morte matada".
Durante o livro, vai-se percebendo que, sem maniqueísmo, dentro desse anti-herói feioso, truculento e grosseirão, mora um homem de visão, esclarecido e até nobre.
Outras personagens ganham maior ou menor importância no enredo: Paxá, bebum caricato daqueles que toda cidade e todo boteco copo sujo tem, é o melhor amigo do homem mau, Miguel, o mendigo de voz engrolada que em suas pragas líricas e delirantes, deseja o bem a quem lhe faz o mal, dona Pitoresca, "a cabaçuda" que por ter amado e não ter sido amada pelo homem mau tornou-se amarga e vingativa, Duda, o craque do time de futebol da cidade que desaparece misteriosamente, a professora Ana que tinha em Ramalhão um aliado na educação das crianças, a mulher diaba ou a diabona, figura feminina que se veste de forma sensual e aparece e desaparece misteriosamente nas madrugadas de Buriticó, atacando os incautos "remanescentes da boemia", o Capeta, mico pelado que faz as vezes de papagaio de pirata, andando sempre em companhia do homem mau, devidamente acomodado em seu ombro...
Todas essas personagens e mais algumas outras têm sua participação na trama, nos fazendo desconfiar de tudo e de todos e concluir que nada é mesmo o que parece ser e tudo será surpreendente para olhares desatentos.
O livro consegue ser engraçadíssimo em alguns momentos, melancólico em outros, politicamente correto em sua essência embora mostre exatamente o oposto na maior parte do tempo.
Enfim, afirmo, sem medo de ser acusada de nepotismo, porque sei que quem for conferir, vai me dar razão: "O Fantasma do Ramalhão" é bom. Vale a pena ser lido.
Ontem terminei de ler "O Fantasma do Ramalhão", de Antônio Medeiros. Não, não é coincidência. Antônio é meu irmão. O Tonho de muitas de minhas crônicas.
Mas nem é pelo parentesco que afirmo: o livro é genial. Tomando por base seu conto homônimo, finalista do prêmio SESC de literatura de 2004, o mano enriqueceu a história, produzindo um romance espremido em cem deliciosas páginas. A linguagem é coloquial. Às vezes, pesada, com direito a palavrões e expressões chulas. Nada que empobreça a literatura ou ofenda o leitor, mas é bom que se diga - ele não prisma pela elegância.
Por outro lado, prende a atenção o intrincado mistério que envolve a morte do Ramalhão, o homem mau, um sujeito apelidado de três-oitão, em referência às mortes que carrega nas costas. Ramalhão enriqueceu fazendo agiotagem na pequena cidade de Buriticó e é encontrado morto, uma ferida na testa.
"O homem mau amanheceu com a boca cheia de formiga". É assim que Antônio começa o capítulo em que narra a morte daquele que, de tão ruim, deixa ao delegado uma certeza: "só pode ter sido morte matada".
Durante o livro, vai-se percebendo que, sem maniqueísmo, dentro desse anti-herói feioso, truculento e grosseirão, mora um homem de visão, esclarecido e até nobre.
Outras personagens ganham maior ou menor importância no enredo: Paxá, bebum caricato daqueles que toda cidade e todo boteco copo sujo tem, é o melhor amigo do homem mau, Miguel, o mendigo de voz engrolada que em suas pragas líricas e delirantes, deseja o bem a quem lhe faz o mal, dona Pitoresca, "a cabaçuda" que por ter amado e não ter sido amada pelo homem mau tornou-se amarga e vingativa, Duda, o craque do time de futebol da cidade que desaparece misteriosamente, a professora Ana que tinha em Ramalhão um aliado na educação das crianças, a mulher diaba ou a diabona, figura feminina que se veste de forma sensual e aparece e desaparece misteriosamente nas madrugadas de Buriticó, atacando os incautos "remanescentes da boemia", o Capeta, mico pelado que faz as vezes de papagaio de pirata, andando sempre em companhia do homem mau, devidamente acomodado em seu ombro...
Todas essas personagens e mais algumas outras têm sua participação na trama, nos fazendo desconfiar de tudo e de todos e concluir que nada é mesmo o que parece ser e tudo será surpreendente para olhares desatentos.
O livro consegue ser engraçadíssimo em alguns momentos, melancólico em outros, politicamente correto em sua essência embora mostre exatamente o oposto na maior parte do tempo.
Enfim, afirmo, sem medo de ser acusada de nepotismo, porque sei que quem for conferir, vai me dar razão: "O Fantasma do Ramalhão" é bom. Vale a pena ser lido.