MARIQUINHA - 29a. - PRIMEIRO EMPREGO
29ª. PARTE
PRIMEIRO EMPREGO
Era uma rua calçada de pedras. Dos postes, distantes uns dos outros , pendiam lâmpadas incandescentes avermelhadas como frutas nas “capoteiras” do sertão na estação do outono. Apeamos do velho e cansado fordeco à gasolina. Estávamos em outra cidade, entregues aos ditames do destino. Desembarcados, num grupinho de caipiras, ficamos como frango tonto sem saber aonde ir. Como um bando de pintainhos desgarrados da galinha, unimo-nos por completa necessidade e proteção e saímos andando sem rumo. Ruas quase desertas’, alguns botequins apinhados de cachaceiros, poucas meninas brincando de roda, algumas batendo petecas e lá bem na frente encontramos um grupo de garotos brincando de “nego mi nego”. Em pontos estrategicamente escolhidos casais de namorados curtiam o frenesi da noite linda. Eu ia prestando atenção nas coisas. Vi também algumas pessoas que me pareciam honestas saindo de uma casa de uma porta só. No frontal havia uma placa: CECODE – Centro de Convivência dos desprezados. Tive vontade de entrar e, só não o fiz por insistência dos companheiros. Continuamos a caminhada sem destino, cansados, com fome, com sono, já com saudades da roça. Encontramos um Senhor, bom proseador, com um sorriso espontâneo nos lábios, bem vestido, denotando ser boa gente. Ele nos inquiriu: - Pelo que vejo os Senhores estão à procura de trabalho ou me engano? E de onde vocês são? Alguém respondeu: - Somos do Arraial das Antas e estamos querendo emprego e casa para morar.
- Esse lugar não me é estranho, quanto a trabalho e lugar para morar, vocês acharam a pessoa certa. Eu preciso de trabalhadores e tenho alojamento para todos. – Olhei com mais interesse para aquele homem e, lembrando que “esmola demais o santo desconfia”, não queria me arriscar muito. Mas, como a necessidade “põe a lebre a caminho” pensei bem e dei um passo à frente para assuntar melhor o que o homem tinha a nos oferecer. Meu Senhor, disse-lhe eu, nós estamos exatamente à procura de emprego, acabamos de desembarcar de um caminhãozinho velho em que sacolejamos o dia inteiro para chegar até aqui. Eu aceito a sua oferta e quero começar hoje, pois não temos onde dormir ou comer. O homem perguntou meu nome. Chamo-me Antônio. Sou filho de sitiante, tenho uma família adorável e, se estou perdido por estas bandas estranhas é por que busco o progresso, principalmente financeiro para poder casar com a mulher mais linda do mundo, que se chama Mariquinha.
- Ô Tonho, estou gostando de você. Você é desembaraçado pra falar, fala muito bem. – O Senhor está brincando comigo porque sou matuto, eu disse.
- Não, Tonho, eu não faço essas brincadeiras. Você pode considerar-se empregado de agora em diante. Agora vou explicar o que procuro: sou dono da padaria da cidade; estou aumentando o prédio para montar um restaurante; por isso tenho bastante serviço para pedreiro e ajudantes de pedreiro e ainda mais dois ajudantes de padeiro. - Pronto já fomos para a casa do homem. Estava todo mundo empregado.