MARIQUINHA - 17a. PARTE
17ª. PARTE
DIFÍCIL RESGATE
Enquanto falava, eu campeava cordas, facão, isqueiro, espingarda e gomos de taquara com tocha de pano embebido em querosene. Mamãe aceitou a contra gosto. - É força de expressão o contra gosto – Contra o amor materno nada o pode vencer, é imbatível. Mamãe não dizia nada, só ajoelhada ante o altar dos santos, rezava contrita. Apegava-se com todos os santos de sua devoção, pois, sabia que eu não fugiria da luta e só o poder divino podia nos salvar. Depois de tudo preparado, calcei as botas cano longo e saí correndo para o sertão como quem precisa apagar o fogo do mundo. Precisava entrar no precipício antes que a noite caísse sobre a mata. Atrás de mim corria um batalhão de curiosos. Adentrei na mata. A muito custo cheguei ao local por onde a onça descera arrastando a vítima. De fato, ouviam-se os gritos do homem. Prestei atenção: era o seu Hermínio, um velho companheiro de antigas caçadas. Quase perdi a razão e me atirei a esmo pela ribanceira abaixo. Eu sabia que a história da onça era mentira. Onça não arrasta ninguém que fale, que grite; ela tem medo de gente. Seu Hermínio deve ter escorregado no alto e, desavisado do precipício, não parou mais de cair a não ser lá embaixo, no fim do despenhadeiro. Devia estar quebrado, do contrário ele sairia por si mesmo. Coitado do seu Hermínio - pensei -. Eu era ajuizado e tinha muita fé nas forças do bem. Orei fervorosamente e pedi que, se fosse possível, eu conseguisse trazer de volta pra casa o seu Hermínio e, se necessário que eu tivesse coragem para morrer com ele, sem o abandonar naquela hora extrema.
Uma imensa coragem se apossou então de mim naquele instante. Lembrei-me dos olhos negros de Mariquinha e beijei a minha própria mão num impulso até então desconhecido.