CARNAVALIZAÇÃO
DISCINI, N. Carnavalização. In: BRAIT, B. Bakthin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2006, p. 53-94.
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Resenhado por Maricília Lopes da Silva
O texto Carnavalização, de Norma Discini, tem por objetivo apresentar o conceito bakhtiniano dessa terminologia, com exemplos e trilhas que giram em torno desse conceito. Bakhtin apresenta uma análise da obra de François Rabelais para a questão do carnaval e da carnavalização.
Discini começa a apresentação a partir de alguns tópicos: 1. A cosmovisão carnavalesca; 2. A imagem grotesca; 3. A degeneração do grotesco; 4. Carnavalização e polifonia; 5. Considerações finais.
No primeiro tópico, a autora preocupa-se em expor inicialmente o conceito bakhtiniano sobre Carnavalização, em que o carnaval é visto nos primórdios da Idade Média como uma festividade que, supostamente, seja o próprio inferno – interpretação cristã – por causa do tom e caráter cristãos – “o caráter carnavalesco de certas imagens e da procissão”; a origem alemã da palavra carnaval, cujo significado é carne ou ‘lugar santo’, isto é, a comunidade pagã; figuras grotescas como o gigante, o baixo material e corporal, “procissão dos deuses destronados” o que Bakhtin chama de carnavalização do inferno: símbolo da cultura oficial, remodelado alegremente em espetáculo induzindo ao riso, o mundo às avessas. Trata-se de “uma grandiosa cosmovisão universalmente popular dos milênios passados”.
Para comentar sobre A imagem grotesca, no segundo tópico, a autora retoma em Bakhtin a definição do termo grotesco, derivado de grotta (gruta), que apresenta, na visão do autor, a acepção de metamorfose “em movimento interno da própria existência”. Assim, grotesco é a “transmutação de certas formas em outras, no eterno inacabamento da existência”. Exemplo dado pelo filósofo na obra de Rabelais quando a mãe de Pantagruel morre ao dar a luz.
Seguindo para o terceiro tópico, A degeneração do grotesco, Discini mostra que tal fato ocorre devido a um enfraquecimento da cosmovisão carnavalesca nas manifestações literárias, ao que Bakhtin afirma ser certas formas do grotesco começam a degenerar em “caracterização estática e estreita da pintura de costumes, como consequência da limitação específica da concepção burguesa de mundo”.
Na questão da Carnavalização e polifonia, no quarto tópico, a autora trata da cosmovisão carnavalesca no romance polifônico, visto por Bakhtin em Dostoiévski. A polifonia, segundo Bakhtin, diz respeito à multiplicidade de vozes, a “interação de consciências eqüipolentes e interiormente inacabadas” e a “vontade de combinação de muitas vontades, a vontade do acontecimento”; no romance dostoievskiano se entrecruzam as entonações das vozes na orientação responsiva do discurso do herói em relação ao do seu criador e vice-versa, “no sentido do ido e do plenamente vivido”, o herói carnavalizado.
No quinto tópico, nas Considerações finais, Discini comenta sobre a carnavalização como movimento de desestabilização, subversão e ruptura em relação ao ‘mundo oficial’ e a constatação de que a carnavalização pode ser depreendida e analisada nos textos de qualquer época.
A autora trilhou por um caminho analítico, procurando reconstituir os passos dessa reflexão bakhtiniana que tem sido, ao longo dos tempos, assunto de muitos círculos de discussão da linguagem. É uma grande contribuição para quem já estuda ou trabalha com o pensamento bakhtiniano, ou, ainda, para quem deseja se aprofundar nesses conceitos-chave.