MARIQUINHA - 6a. PARTE
6ª. PARTE
A PELE DE LEBRE DO MATO
_ O que você me pede é fácil e me dá muito prazer, amanhã mesmo você terá a sua pele de lebre do mato. _ Cuidado quando você trouxer, o meu pai pode não gostar de saber que nós dois...
_ Eu entendo. O seu pai gostaria de ver você casada com um fazendeiro, não é mesmo?
_ Credo, Toninho, como você gosta de judiar da gente. Não é isso. Se você disser que o nosso namoro é sério, eu falo com ele hoje mesmo, e daí poderemos namorar lá em casa mesmo. Só tem uma coisa, daí você não pode fugir, você conhece o meu pai como é!
_ Mariquinha eu me caso com você hoje mesmo e enfrento tudo que for preciso.
Esta conversa varou o resto da tarde e o começo da noite, mas ficou registrado o nosso primeiro dia de namoro.
Os festeiros já corriam pelo pátio do coreto acendendo os grandes gomos de taquara cheios de querosene e a mexa de pano. Era a iluminação que havia no bairro. Os casais de namorados, frenéticos, nervosos, felizes, corriam de cá pra lá a procura de uma “poltrona” de angico. Bandos de garotos peraltas corriam entre o povo a procura de café de rapadura ou um prato de afogado. Os mercadores faziam a féria no lusco-fusco do entardecer.
Tudo era festa. Tudo era felicidade para mim. Eu que nunca sentira a emoção de namorar, parecia-me estar em outro mundo. Até nos bêbados cambaleando pelo pátio, que eu tanto detestava, agora eu via graça e ficava olhando a maneira que eles escolhiam para jogar a felicidade fora naquela embriaguez horrível!
Era agora noite, mal iluminada pelos gomos de taquara. A banda musical já se retirara para a casa da festa onde os músicos iriam se alimentar e dormir. A sanfona tomava conta da festa. Em cada canto do pátio, o ritmo envolvente fazia o requebro das caboclas de flor nos cabelos. Mariquinha chegou bem perto de mim aproveitando o escurinho e pegou na minha mão. Que coisa estranha aconteceu comigo naquele momento. Parece que subi ao píncaro dos astros e desci à imensidão dos pélagos profundos. Eu nunca havia pegado na mão de uma mulher. Que coisa maravilhosa era sentir que aquela mão entre as minhas era de uma pessoa tão linda e até então estranha. Eu me contorcia no calor da paixão! Parecia-me que aquela mão era só minha. Que sonho é o amor!